sexta-feira, 28 de abril de 2006


cuma? a mãe dele deu o nome DEVENDRA?


From being my daddy's sperm
to being packed in an urn
From sucking my mama's breast
to when they lay my soul to rest
From my womb to my tomb
From the cave to my grave
I guess I'll always be a child...

People try and treat me like a man!
Yeah, people try and treat me like a man!
They think I know shit! Oh!
But that's just it: i'm a child!


DEVENDRA BANHART, o Messias do Novo Folk-Hippie,
em "I Feel Just Like a Child", do disco Cripple Crow, uma das músicas
mais divertidas já escritas na história da humanidade.



Ei, pessoal, 'cês tão sempre tão quietinhos... Passam por aqui e nem cumprimentam, nem falam oi, nem deixam pegadas... Me deixam aqui falando sozinho! Ficam aí me ignorando... Como já dizia alguém-que-não-lembro-mais-quem, "falar sozinho é legal, mas conversar é bem mais legal". E 'cês num falam nada... Que foi, hein?! Num gostam de mim, é isso?! (Ui.) Tudo bem, vocês tem todo o direito de não gostar de mim. Eu mesmo não gosto muito. Sempre entro de costas no banheiro pra não ter que olhar pra minha cara feia e ter meu dia estragado. Não me associo a nenhum clube porque qualquer clube que me aceite como sócio não merece o meu respeito nem o de ninguém. E "num há um só mendigo que eu não inveje só por não ser eu".

Seus tontos. Cês tão me deixando desanimado com esse blog, de tão pouca repercussão que dá qualquer coisa que eu escrevo aqui... Buáááá! Se o Dirty Little Mummie morrer, ninguém vai chorar no funeral!!! Eu sei: tenho q largar de ser trouxa e escrever uns textos um pouquinho menores, um pouco menos chatos, um pouco menos sérios e um pouco menos pretensiosos. Prometo que de agora em diante só escrevo provérbios e leis de Murphy.

Desculpaê por esse desabafo idiota.

Tem gente que pensa que eu sou adulto, maduro e racional... Rá!

Cês nem imaginam o quanto eu sou tonto.

* * * * *

Mais alguns disquinhos pra baixar:




MATTHEW SWEET - "Girlfriend" (1991) - power-pop fofinho.
ZOMBIES - "Odyssey & Oracle" (1968) - psicodelia anos 60.
FACES - "A Nod is as Good as a Wink... to a Blind" (1971) - rock'n'roll.
ECHO & THE BUNNYMEN - "Siberia" (2005) - ...show chegando! aê!!...

E recomendo tb uma visita aos blogs BRAZILIAN NUGGETS (http://brnuggets.blogspot.com/), lotado de discos ultra-raros de bandas nacionais psicodélicas e hippongas dos anos 60 e 70, e o LÁGRIMA PSICODÉLICA (http://www.lagrimapsicodelica.blogspot.com/), outra boa opção pra baixar álbuns completos não muito fáceis de achar por aí, inclusive muitos do bom e velho METAU.

* * * * *

PAGANDO-PAU FOR A LIVING.



Tô cada dia mais fissurado em KINKS. É simpatia total. É a única banda que ameaça suplantar os Beatles como melhor banda dos anos 60 na minha hierarquia emocional. O Kink Kontroversy é punky, tosco e totalmente adorável (foi homenageado pelo Sleater-Kinney na capa do Dig Me Out, um dos discos mais adoráveis do riot-girrrrl nos anos 90). O Face To Face (66) é uma das coisas mais perfeitas já gravadas na história do pop - é o Sgt. Peppers dos Kinks; e ando achando melhor que o Pet Sounds. O Village Green Preservation Society (68) é mais foda ainda, de longe um dos melhores discos lançados nos anos 60. E agora eu tô descobrindo que os discos dos anos 70 são tão bons quanto - por exemplo o Sleepwalker, de 1977, parece um proto-Wilco, com o Ray Davies soando como o pai de Jeff Tweedy. Ê bandinha deliciosa...

DOWNLOADEIA AÍ, DISCOS COMPLETOS (cortesia Lágrima Psicodélica):
- Kink Kontroversy (1966)
- Village Green Preservation Society pt1 e pt2
- Schoolboys in Disgrace (1975)

E continuo absolutamente fanático por SLEATER-KINNEY. Gosto de tudo que essas três minas fizeram e já ouvi cada disco umas 30 vezes, pelo menos. E num cansa. Sempre quero mais. O One Beat, então, é talvez o disco que eu mais ouvi na vida, sem nunca enjoar. Num entendo como se fala tão pouco desse que tem tudo pra ser o "Álbum da Década" - a Pitchfork deu um respeitável 9.3, e é raríssimo algum disco passar dos 9.0 por lá. Mas é pouco. Tanto hype por aí pra cima de banda medíocre e pouca gente conhece essa puta bandaça... O One Beat inteiro é foda demais, mas "Step Aside" e "Sympathy" são músicas tão excitantes que me conseguem fazer chorar sem ser de tristeza - chorar de excitação... É a banda mais subestimada da história.

* * * * * *



Minha ignorância sobre histórias em quadrinho é tão enorme que chega a ser vergonhosa, mas mesmo assim eu vou me meter a escrever "uma resenha" sobre esse filminho aí em cima. O lance é que só tô começando a me interessar por HQ de verdade agora, na "idade adulta" em que "estou entrando" (até parece...). Elas, as HQs, nem marcaram muito a minha infância. Quando era moleque eu até cheguei a ganhar de presente uma assinatura de gibis da Disney (blargh!), e fui devidamente contaminado pelas mensagens subliminares desses "agentes imperialistas" (como sempre diz o Henfil) que são o Mickey Mouse e o Tio Patinhas. É um crime pedagógico dar isso pra criança ler. É perigoso mesmo. Penetra até o inconsciente. A gente fica tendo sonhos de nadar numa piscina de moedinhas de ouro achando que essa seria a solução de todos os nossos problemas. Eu até tinha vontade de ir pra Disneilândia, porque todos meus amigos ricos iam e voltavam contando histórias só pra causar inveja - graças a Deus nunca fui, porque se tivesse ido hoje ia morrer de vergonha.

Li também bastante Turma da Mônica, mas isso num conta - criança que num leu Turma da Mônica tem que ser internada por não ter tido uma infância sadia. E histórias de super-heróis nunca foi minha praia. Até hoje conheço muito pouco, gosto de muito pouco: li um pouco de Spawn na adolescência, mas num me conquistou; mais recentemente, curti bragarai tudo que li das aventuras do Spider Jerusalém no Transmetropolitan, mas parei nos primeiros números; adorei o estilão grunge do Ódio do Peter Bagge, mas também só li um; e, claro, sou fãzaço do FRADIM e do Henfil em geral - foi o único quadrinho que eu posso realmente dizer que marcou minha vida (aliás, se alguém souber de algum sebo onde eu posso achar as primeiras 10 ou 12 edições do FRADIM, eu agradeço... aliás, quem foi o f.d.p. que me roubou algumas das minhas edições? Eu tinha pelo menos umas 20, e agora só tô com umas 14... Tudo bem que as minhas também são roubadas, mas porra, isso não se faz!)

Bom, esse "Crumb", documentário de Terry Zwigoff sobre a vida e a obra do Robert Crumb, lançado em 1994, foi um filme que eu assisti "grudado na tela" e que me deixou com uma puta vontade de conhecer melhor todo o gigantesco mundo ainda inexplorado da Nona Arte. O Anti-Herói Americano (American Splendor), que também é um filme bem legal e desencanado, já tinha me deixado afim de conhecer mais sobre HQ underground e cult... o filme do Fritz The Cat (também dirigido pelo Terry Zwigoff, que também fez aquele Ghost World, o primeiro da Scarlett Johansson), também achei bem bacana: foi o melhor desenho animado pornô que eu já vi! (mas num se assustem: eu não vi muitos). Mas é perverso. E deve ser mais fácil de achar numa locadora de Vìdeos Adultos (hrrrrr) do que numa de Filmes Cult. É meio zoofilia, deve ser esse o nome. Aqueles caras que tem a divertida profissão de criar nomes nacionais para os filmes pornôs estrangeiros iriam chamar o Fritz The Cat de algo como "Orgia No Zoológico" ou "Os Bichinhos Vão à Foda"...

Robert Crumb é famoso principalmente ter criado o Fritz The Cat, por ter inaugurado os "quadrinhos psicodélicos" com a revista Zap, por ter criado sob o efeito de LSD, por ter sido um dos grandes nomes do Quadrinho Contracultural e por ter desenhado essa famosa capa pra Janis Joplin. O documentário, apesar de ser um puta dum tributo/homenagem ao Crumb, é ótimo por não ser somente pagação-de-pau; Terry coleta declarações de críticos que descem o cacete no cara, chamando-o de machista, racista, pessimista, misantrópico, perverso, pornográfico, sexista, entre outros xingamentos. Mas Crumb é uma figuraça: um bom-humor imperturbável, uma sinceridade totalmente desconcertante, um jeito-de-ser todo peculiar. Esse é um daqueles filmes que a gente fica desejando que tivesse umas 4 ou 5 horas só pra poder ficar na presença daquelas pessoas que tão ali na tela... E é o tipo de filme que prova que certos seres humanos são muito mais fascinantes do que qualquer personagem de ficção jamais vai conseguir ser. Robert Crumb, o homem, é uma figuraça mais figura que qualquer de seus personagens...

Pô, e a Família Crumb é uma das mais bizarras que eu já conheci - mais que os Osbournes, mais que os Simpsons, mais que a família do Sitcom do François Ozon - e o pior (ou o melhor) é que é tudo de verdade. Só dizer que um dos irmãos Crumb tentou se suicidar tomando uma frasco inteiro de LUSTRA-MÓVEIS, mas amarelou na última hora e gritou pra mamãe que precisava ir pro hospital ter o estômago esvaziado (cara, num tem jeitos mais legais de morrer do que beber lustra-movéis?!). Ou dizer ainda que o outro irmão Crumb é um lunático zen esquizofrênico que passa horas "meditando" sentado numa CAMA DE PREGOS e mastigando um barbante (!!). Foi isso o que eu achei o mais engraçado de tudo: o Robert Crumb, uma figura pra lá de bizonha, é o mais normalzinho da sua família.

Também fiquei com a impressão de que o Crumb é mais que um cara que desenhou uns quadrinhos: ele é um Artista com A maiúsculo, alguém que usou seus dons para o desenho para expressar, sem concessões e sem medo, tudo o que sentia, mesmo suas fantasias sexuais mais bizarras e seus medos inconscientes mais inconfessáveis. A certo ponto do filme, ele confessa: "Não tenho nada para dizer em minha defesa. Só espero que dizer a verdade sobre mim possa ajudar alguém de alguma maneira..." Foi isso o que Crumb fez em seus quadrinhos: registrou com perfeição seus estados mentais, suas obsessões, suas manias; lançou pro papel toda sua alma. E todo mundo sabe que toda alma tem suas partes imundas! ;-)

Enfim, deu pra perceber que o cara tá longe de ser um modelo de virtude, mas os grandes artistas normalmente não o são, ao contrário do que muitos pensam, e mesmo assim merecem ter suas obras experimentadas, ainda que como homens fossem pouco admiráveis. Como lembra bem um dos entrevistados do documentário, um cara como o Céline, mesmo que tenha sido um anti-semita fervoroso e um simpatizante do nazi-fascismo, não deixa de ser um dos grandes escritores do século 20; do mesmo modo, o Crumb, que consegue ser altamente misantrópico e beirar a pornografia mais vulgar, não deixa de ser por isso um dos grandes artistas da história das HQs (se bem que eu teria que conhecer mais sobre o assunto antes de ficar falando essas coisas... mas deixa pra lá).

Enfim: filme recomendadérrimo. Deve ser difícil de achar em locadora, mas é só me pedir que eu empresto o CD, faço cópia, envio pelo correio, marco uma sessão aqui em casa... isso se ajeita. No E-Mule é fácil de achar.

* * * * *

Pra acabar, a Lei de Murphy do Dia (tirada dum livro de filosofia, veja só... eu não digo sempre que Lei de Murphy é Sabedoria?):

"...como todos sabem, a boa saúde é um estado precário e que não é presságio de nada de bom; a partir do momento em que a saúde está boa, já passou da hora de se inquietar!"
(Vladimir Jankelevitch)