sexta-feira, 1 de setembro de 2006

da série: QUERIDO DIÁRIO em ARTERÍSTICOS
(um post desencanado...)

* Ando cometendo altas HERESIAS contra a minha religião (o Rock and Roll)! Vejam só: dia desses fui no SAMBA. Sem zueira. "Quem te viu, quem te vê..."Algum tempo atrás eu, que sou cheio de preconceitos, que escarro em Carnaval e que quero cortar em pedaços a Mulata Globeleza sempre que ela aparece na telinha, nunca aceitaria ir num barzinho onde uma roda de samba tava tocando.... Queria ser reconhecido como um cara estritamente rock and roll, fanático até num poder mais. Hoje não tenho nenhuma vontade de ser ortodoxo desse jeito - me orgulho de ser um indie eclético! :)...

O lugar é um muquifinho trimmassa na Eiras Garcia, a uma quadra aqui de casa, perto do P3 da USP, chamado Jardim Elétrico. Recomendado - eu, que nem curto samba, curti à beça o lugar e o som. Paga nada pra entrar e o som é samba antigão de primeira, nada a ver com aquelas pagodeiras nojentas que a gente ouve por aí. E esse barzinho, segundo o A., é altamente frequentado pelo pessoalzinho legal da FFLCH.

Obviamente, meus talentos para o samba são nulos (de 0 a 10, ganho um -1) - nunca aprendi (nem quis) e num tenho, infelizmente, nem uma gota de sangue mulato. Branquelo cadavérico quinêm sou, num tenho nem coragem pra tentar sambar: sei que eu iria ficar parecendo uma coisa ultra-ridícula, um palhaço involuntário, algo como uma salsicha humana, pálida e desengonçada, se rebolando toda... Vou poupar o mundo desse espetáculo grotesco. E ainda morro de medo do ridículo, é claro, e nem um monte de brejas me deixaram bebum o bastante pra "soltar a franga"... O mundo agradece.

Eu tenho umas TRAVAS MENTAIS malditas que num me deixam livre pra ser idiota. E, como diz o Lars Von Trier, num conselho de vida excelente, "FREE YOUR INNER IDIOT!"

O Funkadelic tb dizia bem...: FREE YOUR MIND AND YOU ASS WILL FOLLOW...

Além disso, finalmente conheci o Milo, um dos barzinhos indie mais legais de São Paulo - lembrou o Audiogalaxy de Bauru, mas umas 10 vezes melhor. Ambiente bacana, com fumaceira pesada no ar, vários indies paulistanos cool e várias long-necks Xingu bebidas até tudo começar a girar. E só bons sons - no dia, rolou Arcade Fire, Pavement, Pixies, Belle & Sebastian, Dinosaur Jr., Gang Of Four, Flaming Lips, entre muitas outras coisas... Recomendo também. De quarta-feira a entrada é liberada (nos outros dias são 10 paus...) e costuma bombar bem.

* Qto à facul, é aquela coisa... só tenho aulas 3 noites por semana (e muitas vezes dou o fora no intervalo ou bem antes do fim...), ainda acordo à uma da tarde, como bom vagabundo, e ainda me sinto quase de férias - filmes e séries até não poder mais (tô completamente fascinado e viciado em A Sete Palmos...), violãozinho por horas e horas (nova banda nascendo...), vários discos ouvidos na sequência... Ainda bandejo (do verbo BANDEJAR) duas vezes ao dia (por Rs1,90 vale muito a pena), durmo no meu fenomenal quarto TRIANGULAR (lata de sardinha pura), e ando bebendo bem mais do que o recomendável (e cantando com Wander: "Sou quase um alcóolatra, eu sou!").

Continuo o mesmo vagal que sempre fui - e sempre seguindo a lei do mínimo esforço possível. Quatro anos de Unesp me deixaram desacostumado... Eu nunca fui de prestar muita atenção em aula, quase nunca: ficava só lendo meus livrinhos na cara dos professores (preferia me divertir com as putarias do Henry Miller e do Nabokov ao invés de ouvir a bobajada dos 'fessores...), ou divagando muito longe da sala de aula (só o corpo presente...), ou rabiscando/desenhando/poetando no caderno, só esperando o sinal bater - e não é agora que eu vou mudar. Num presto atenção nas aulas - só muito raramente. A Marilena falando sobre Matrix e zoando o P.C.C. foi uma exceção ("P.c.c. é tudo lambari, tudo pé-de-chinelo!!! Crime organizado é Israel!!!", disse a fessora...). Poucas coisas que foram mais legais nessa facul, até agora, do que ver a Marilena Chauí, aquela senhora anãzinha, levantando a voz, toda revoltada, gritando como se tivesse no palanque, e descendo lenha nos EUA. Trimmassa...

Mas paciência para as aulas tenho muito pouca. E o desencanto já tomou conta... Não é que esse curso de filosofia USPiano esteja ruim, nem que os professores sejam desastrosos, nem que a chatice seja insuportável, nem que os assuntos sejam completamente irrelevantes, mas é que... sei lá. Acho que eu fui ingênuo demais achando que essa faculdade de filosofia seria uma excitante e fascinante jornada em busca do Sentido da Vida e da Morte, que iria me mostrar o Caminho para a Felicidade, que seria uma Escola de Sabedoria... Idiota fui eu, pensando que tava entrando num Curso de Auto-Ajuda! :)

A gente acha que vai achar as Respostas Supremas - e ninguém nem coloca as perguntas... Esse curso de filosofia aqui, já deu pra perceber, não foi feito para nos tornar mais sábios e felizes - mais felizes pois mais sábios... Quer só formar BONS LEITORES, capazes de decifrar aqueles textos obscuros e rebuscados que eu, sinceramente, tenho muito pouco prazer lendo. Hoje em dia, curto bem mais ler um Hermann Hesse, um Walt Whitman ou um Rubem Alves do que esses chatões tipo Kant, Montesquieu e Hegel. Talvez eu seja muito superficial... ;)

Estou com fome de vida, fome de amor, fome de emoção, e sem vontade nenhuma de pensamentos difíceis, raciocínios complicados, textos indecifráveis... Pra quê tudo isso??!! Pra quê complicar a vida desse jeito? Concordo com o Rubel Alves: "O mundo acadêmico é algo aterrorizador... todos tratam de se proteger, pelo estilo rebuscado e excessivamente técnico, na esperança de que os leitores tomem águas barrentas por águas profundas."

* Outra coisa: alguns acham que o objetivo da filosofia é nos colocar inteiramente sob o domínio da razão, vencendo a "tirania das paixões"... Eu não sei se quero isso pra mim... Quero me tornar tão ressecado, frio e insensível quanto essas pessoas ultra-racionais que vejo por aí? Pra ser um bom filósofo é preciso amordaçar o coração e castrar todas as emoções? Silenciar o desejo, o amor, o medo, a angústia, a vontade de berrar e de chorar? Eu sei que eu não consigo.

Não sei se algum dia eu vou conseguir ser tão friamente racional quanto alguns julgam ser necessário pra ser um "bom filósofo". Talvez eu devesse desencanar de ambições com a filosofia e, mais humildemente, fazer o que eu me sinto capaz de fazer: falar de mim mesmo (a única coisa que eu penso conhecer razoavelmente bem), sem nenhuma pretensão à objetividade e à imparcialidade. A minha verdade - a única coisa que eu me sinto minimamente capaz de descrever.

E o que há de errado com os sentimentos, pô? Eu sei o que quero: quero sentir, e conservar sempre a capacidade de sentir, de chorar ouvindo uma música, de me emocionar bestamente com certs filmes, de demonstrar afeto e entusiasmo... Passei muito tempo morto por dentro pra querer usar a filosofia pra matar ainda mais minhas emoções. E eu realmente acho que muito filósofo por aí é pior que muito padre e muito asceta nesse lance de reprimir o instinto e idolatrar a racionalidade descarnada e fria. Nesse ponto, continuo nietzschiano, até o fim. Quero que se exalte em mim a força vital, que pegue fogo minha energia pra viver e sentir! Quem disse que é a Razão quem tem razão?

E é engraçado que a palavra Sabedoria seja pronunciada tão poucas vezes dentro daquela sala de aula... Como se a filosofia não tivesse nada a ver com ela, como se essa tal de sabedoria fosse um conceito morto, antiquado e que nem merece crédito... como se não tivesse importância nenhuma... Quando pra mim sempre foi óbvio que a filosofia é só um meio, um instrumento, uma ponte: se não nos leva a viver melhor, com mais alegria, mais serenidade, mais paz de espírito, mais sabedoria, não vale nada. A filosofia como terapêutica...


* Preciso urgentemente achar um livro, um manual de intruções, um tutorial ou um conselho da sabedoria popular pra ACABAR COM O MEU MALDITO SOLUÇO. Eu não aguento mais essa praga. Em Bauru eu já era zoadíssimo porque, nas ocasiões em que eu começava a soluçar, não conseguia parar por nada nesse mundo: engolir saliva, segurar a respiração, dar soco no meu tórax, beber litros de água, nada funcionava. Só mesmo o Ronnie e o Porra tinha um tática conjunta boa pra arrancar do meu corpo essa possessão. Mas sozinho eu não consigo. Esse meu soluço impassável me valeu, a mim outrora conhecido como Lúcio, o apelido carinhoso de SOLÚCIO. :) Mas porra, eu nunca consigo tomar um susto quando eu QUERO tomar um susto... Ah, essa vida é dura demais, num vale a pena...


* !!!PROCURAMOS BAIXISTA!!!!
Tamos pensando em fazer som próprio, com letras em português, influenciado por coisas como Jeff Buckley, Radiohead, John Frusciante, Chris Cornell solo, Muse etc... Aquela coisa: rock alternativo sentimental. Qualquer coisa, me dêem um toque.


* LISTINHA:

5 DISCOS FESTEIROS/ALEGRES/EUFÓRICOS pra espantar qualquer depressão:

- FUNKADELIC, "One Nation Under a Groove" + "Maggot Brain"
- SLY AND THE FAMILY STONE, "Greatest Hits"
- AVALANCHES, "Since I Left You"
- SAVE FERRIS, "It Means Everything"
- DJ SHADOW AND CUT CHEMIST, "Brainfreeze"


* AMANHÃ...



Os dias que eu me vejo só
São dias que eu me encontro mais
E mesmo assim eu sei tão bem
Que existe alguém pra me libertar...


SET LIST DOS SONHOS:

- Todo Carnaval Tem Seu Fim
- Cara Estranho
- Quem Sabe?
- Último Romance
- Além do Que Se Vê
- Fingi Na Hora Rir
- O Vencedor
- O Vento
- Descoberta
- Conversa de Botas Batidas
- Tá Bom
- Casa Pré-Fabricada
- Sentimental
- Dois Barcos
- Pois É
- Retrato Pra Iaiá
- Deixa Estar

BIS
- A Flor
- Condicional
- Primavera

Mas o dia insiste em nascer...
Pra ver deitar o novo...


Ah, vai ser foda. E quarta já tem Campari. Esse mês vai ser foda.


* Caraca, olha esse toró que tá caindo em Sampa agora... Esse Pró Aluno nunca pareceu tão aconchegante...