quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007


da série: QUERIDO DIÁRIO

Murphy não falha jamais! E é sempre fiel em suas perseguições: nunca muda de vítima; vai lançando as maldições às dúzias pra cima dos seus “eleitos”, coitados. Sei porque sou um. ;)

Então.

Agora tá confirmado: vou ser obrigado a frequentar BAURU semanalmente durante esse semestre (sou o retardatário-mor da minha turma... mais um pouco e sou JUBILADO! :-O), servindo como Cristo para a campanha moralizadora de um certo prof. Baccillo. A história da minha treta milenar com esse velho maldito é longa e chata, mas aí vai um resumo: tempos atrás, o tio Zarça, apesar de ter me aprovado com nota 9,0, me deu a ótima surpresa, no último dia de aula, de me dizer que tinha registrados na sua lista de chamada TRÊS MESES DE FALTAS, na sequência, o que causou minha reprova imediata. Reclamei, xiei, garanti que ele tinha errado, que era impossível, que eu não tinha de jeito nenhum faltado tanto assim, que tinha frequentado as aulas - enfim, elegantemente tentei dizer a ele que ele tinha feito alguma merda. Aliás, eu seria besta de, no meu último ano de Unesp, prestes a me formar, faltar tanto assim numa matéria? Era óbvio pra todo mundo da minha sala que o velho tinha feito cagada na lista de chamada, como já é tradição...

Não conseguindo convencer o teimoso do velho de que ele tinha errado, já que ele se acha um ser humano perfeito e infalível, pedi para a minha classe inteira assinar um abaixo-assinado testemunhando que eu estive presente a pelo menos 95% das aulas. Quarenta nomes de colegas e nada adiantou pra mudar a cabeça do velho - nem abaixo-assinado, nem mil argumentos racionais, nem protesto junto ao Conselho de Curso, nem ajuda do Ângelo... nada. Pro Zarcilo, que nem me conhece direito, eu era, sem dúvida, um péssimo aluno, vagabundo, canalha e mau-caráter, que tinha faltado às aulas e que agora estava tentando enrolá-lo. E, ainda mais, eu era o “rebeldinho” juvenil que estava chamando toda a minha classe para ficar contra ele, o pobre professor inocente... Cansei de ser tratado como lixo pelo cara. Mas não teve jeito: tive que engolir sapo e aceitar uma bomba completamente ridícula e injusta, como também tive que suportar todas as coisas ridículas que o Nicola e a Dalva me falaram pra reprovar meu TCC e me deixar sentindo pior que um cocô de barata. Tenho ímpetos de virar terrorista e mandar pro espaço toda a Unesp de Bauru quando eu lembro dessas coisas...

Fiz matrícula em Edição de novo e depois fui tentar fazer algo pra não ser obrigado a frequentar de novo a disciplina inteira... Fui lá e conversei com o profi, dizendo que estava morando em Sampa e que era quase impossível para mim frequentar as aulas dele toda semana, e ele concordou – num acordo verbal com testemunhas oculares!!! – que eu faria um trabalho escrito e que estava dispensado de frequentar as aulas. Tudo bem. Fiz o trabalho, entreguei, ele foi corrigido e aprovado, e aí, na hora de passar a nota, deu mais um chilique e mais um fogo no rabo do velho e ele, sem muita razão, resolveu porque resolveu que não ia passar a nota. Jogou nosso acordo no lixo, cuspiu em cima da promessa que tinha feito e começou a dizer que eu vou ter que frequentar as aulas sim, que a universidade está com uma “atitude mais moralizadora”, que acabou esse papo do curso ser difícil de entrar e fácil de sair, todo aquele lenga-lenga pra disfarçar as verdadeiras razões que ele tem para fazer o que fez. E, ainda por cima, estou sendo acusado de ter “ofendido” o nosso nobre professor. Como cerca de 95% dos alunos que ele já teve comentam pelos corredores da faculdade que o velho, além de autoritário, grosseiro e incompetente, está surdo e gagá faz tempo, e não sabe nem fazer uma chamada direito, ele deve certamente ter pensado que eu estava entre esses 95% que o ofendem no dia-a-dia. Apesar de em nunca ter dito um á pra ele que pudesse ser considerado uma ofensa, apesar de achar que ele bem que merece.

O negócio é que todo mundo sabe que o Zarcilo é um professor de merda, uma espécie de dinossauro que já devia ter entrado em extinção, o tipo de cara que não tem o mínimo prazer em dar aulas e transmitir conhecimento, que não tem um pingo de empatia pelos alunos, que dá aula olhando para o teto, para as paredes e para a lousa, que é insuportavelmente arrogante e com pose de superior - um dos homens mais nojentos e desprezíveis que eu já tive o desprazer de conhecer. Nunca conheci nenhuma pessoa que gostasse dele. E todo mundo sabe que ele é todo ressentido com aluno – ele nos trata como se a gente fosse, todo mundo, um bando de vagabundos festeiros, que só querem matar aula, só fazem os trabalhinhos a contragosto – e mal-feitos, e que precisam ser “moralizados”. Ele escolhe a dedo, todo semestre, um ou outro aluno pra ferrar, de propósito, servindo como “punição exemplar” para o resto da faculdade. O cara é um cafajeste completo. E eu vou ter que pagar o pato, agora... pela terceira vez, tô matriculado na maldita matéria chatésima de Edição – todas as quartas de manhã, vou estar lá suportando o insuportável... D’oh!!!!

Tô tentando ver pelo lado bom da coisa... Bauru, cidade querida, revisitada semana a semana, vai pelo menos dar alimento para altas nostalgias... Pelo menos vou matar saudades dos poucos ótimos amigos e amigas que sobraram por lá; vou curtir mais umas partidas de sinuquinha na república, em disputas pau-a-pau com caras que manjam do negócio; vou jogar umas Suecas, em nome dos velhos tempos, quando a gente só parava no primeiro coma alcóolico; vou comer uns churros Hilda Furacão na praça da Paz, mesmo que aquela desgraça sempre me dê diarréia; vou almoçar só X-Egg do Tio Guerreiro (será que a tia ainda associa o meu rosto com o meu lanche predileto, que era comido pontualmente todas as semanas?); vou tirar umas sonecas lá no Forte Apache, junto das formigas simpáticas que nunca me mordiam, pra lembrar dos bons tempos quando eu almoçava no Jota Á e depois ia digerir o rango debaixo das árvores, olhando pras nuvens a passear no céu (ui); vou ver se pego umas festinhas de república, que tenho saudade daquele clima de juventude, daquelas bandas horríveis e ensurdecedoras e sempre iguais (não, Punky Brewsters nãããão! Já vi umas 15 vezes!!!), daquela muvuca, daquilo de voltar pra casa às 5 da manhã, fedendo à cigarro e às vezes (só às vezes) sendo amparado pelos amigos pra não despencar de bêbado; e vou ver se aproveito pra ir lá conhecer os charmosos novos cinemas, que parece que são mó hi-tech, que me contaram que foram inaugurados em Bauruland...

Também vai ser legal viajar de carro toda semana. Não me importo não. Pegar a Castelo, cento e vinte por hora, com o som no talo, os vidros baixados, a mão esquerda ao vento, cantarolando canções prediletas (boa pedida: “Driving With One Hand On The Whell”, da AImee Mann) e berrando sem medo de assustar os transeuntes, como acontece na cidade grande. Eu curto pegar estrada com música alta e prados verdejantes ao redor (ui). Chega uma hora que você entra meio que no piloto automático e a cabeça começa a divagar... um carro numa estrada tranqüila é ótimo espaço pra meditação e reflexão – inclusive, a cada pedágio, sobre os descalabros da exploração capitalista... :P

Quanto às aulas insuportáveis do Zarcillo, vou ficar na moita, de boa, pra não prolongar a guerra, mas vou aproveitá-las pra reunir material para a minha vingança. Ainda não tenho intenções assassinas, apesar de ter certeza de que, se eu fosse um serial killer (eu tenho o “perfil”!), a raça de vítimas que eu iria escolher seria com certeza professores da Unesp de Bauru. Acho que eu estaria prestando um ótimo serviço à humanidade livrando-nos de alguns desses sujeitos. (Mas como eu tô cruel hoje...). Por enquanto, meu plano é menos sangrento e não envolve morticínios. Tô pretendendo escrever um conto maquiavélico, sarcástico e destruidor sobre um professor gagá, surdo, incompetente, grosseiro e filho-da-puta que judiou de um pobre aluno inocente. No final da história, o professor vai sofrer uma morte lenta e dolorosa - e ninguém irá ao funeral. Vai ser a coisa mais diabolicamente maldosa que eu já escrevi. Hitler vai ficar parecendo um anjinho... =)


OBS: na foto: azulejos da nossa cozinha de república. Como se vê, vivemos numa casa de artistas, poetas e intelectuais que transformam os espaços públicos em obras-de-arte. Depois do impressionismo, do cubismo e do surrealismo, vem aí a nova vanguarda artística: o buçalouquismo. :P