i’m out here studying stones,
trying to learn to be less alive
using all of my will
to keep very still
still even on the inside
(ani di franco, “studying stones”)
Vai, coração idiota, vai lá fora estudar as pedras! Te garanto que vai te fazer bem tentar imitá-las, se tornar mais como elas: firme, sólido, constante, imutável. Ah, coração, deixe de lado a mania de ser sempre assim, sempre em ondas, sempre em turbilhão, sempre furioso e inquieto e desejante e faminto... Seja menos como o mar e mais como as rochas! Estuda a pedrinha, coração!
Aprenda com a pedra a não sentir nada de muito intenso, a não desejar nada de muito ardente, a não sonhar nada de muito grandioso! As pedras não são inflamáveis, amigo... seja como elas! Faça seu coração se tornar um pedregulho sólido e opaco que não pega fogo por nada nesse mundo, e talvez, quem sabe, isso te poupe de sofrer com esses terríveis incêndios que te acometem, tantas vezes... Keep it cool, man.
Aprenda a estar como elas, parado, sossegado, sem movimentos, sem ânsias, indiferente a tudo, ignorando majestosamente as ventanias e tempestades, o amor e o ódio das criaturas, as flechadas e as piadas do destino, as estrelas indiferentes e o imenso vazio do céu, o tamanho do universo e o teu tamanhico dentro dele... Vê a pedra: como ela consegue ficar quietinha, na dela, no maior sossego, mesmo que lá fora o mundo esteja em ruínas ou em chamas, mesmo que tudo esteja a desabar, mesmo que lá fora ninguém ou nada se preocupe com ela... A pedra não se importa por não ter valor. E por que você sim?! Aprende a ser indiferente!
Repara, coração, na grande sabedoria das pedras... Que estoicismo tão sem defeitos elas possuem (e nem precisaram estudar filosofia...)! E como são perfeitas na arte de estar resignadas aos infortúnios, suportando todo sofrimento, tão sem rancor e sem reclamos! As pedras não têm o menor talento para sofrer, para chorar e para reclamar – seja como elas, coração! Elas podem ser chutadas pra cima e pra baixo, lançadas no abismo ou jogadas ao mar, trituradas por britadeiras ou moídas no moedor, e não se houve delas um só ai, um mínimo lamento, um miligrama de lágrima caindo dos olhos que elas não têm...
E você, coração, por muito menos que isso, só de ser chutado um pouquinho por aí, só de ser largado de canto, só de ser considerado um troço de pouco valor, só de ser ignorado e ejetado da vida de quem você queria que te quisesse bem, você, bobo coração, já está aí, reclamão como sempre, se retorcendo de dores, segregando seus líquidos e amaldiçoando os céus por ter nascido num mundo onde existe tão pouca ternura... Ah, tolo coração, aprende com a pedrinha!
Repara, coração, na paz da pedra, na divina paz da pedra, em como ela está tranquila onde quer que esteja, onde quer que calhe de cair, faça o tempo que fizer, em tempos de guerra e violência, em tempos de desamor e de brutalidade, sempre ali, serena, perfeitamente serena, sem de nada precisar, sem por nada ansiar... E você, em tempos assim, não se consola, não se acalma, não se pacifica! Vai, coração, aprende a não necessitar! Aprende a não querer ternura! Aprende a não querer amor! Aprende a não querer nada! Aprende a estar mais morto – que estar vivo demais dói demais, por deus...!
A pedra é mais sábia! Mais auto-suficiente! A pedra não tem fomes nem sedes! A pedra não tem a alma esburacada! E a pedra não precisa de nada: nem de Deus, nem de sentido, nem de amor... E você, por que insiste em precisar de tudo isso? E por que insiste em não encontrar nada disso?!
Vê a pedra: ela não precisa dessas bobagens todas como atenção, carinho, elogios e bons tratos! Vê a pedra, que felicidade na solidão! Nenhuma necessidade de outras pedrinhas que a acompanhem pela viagem da vida, pra fazer companhia e pra trocar calores e amores, coisas cuja ausência e falta fazem você, coração besta, passar fome...
A pedra não sofre por ser inútil. E você aí, coraçãozinho fracote, quase morre se não tem alguém para te provar que você presta... Você, coração pidão, fica sempre estendendo seus bracinhos para longe, tentando agarrar algo distante, suplicando coisas dos outros e do mundo e da vida, infernizando a todos com teus desejos enormes e inconcretizáveis...
Vê, amigo: a pedra nem nota o quanto é miudinha, minúscula e sem importância – e você, grandicíssimo imbecil, por que tem sempre que se lembrar da desimportância que você é? Por que não esquece, como faz todo mundo, e não só as pedras, da titica que é no meio desse Universo enorme? Ah, coração... será que você não tem cura?!
Então vai, coração, senta nessa sala de aula, na frente desses professores feitos de rocha, e aprende as imensas vantagens de ser pedra! Assim você poupa teu travesseiro das inundações e poupa os ouvidos das pessoas dos teus lamentos... Estuda a pedrinha, coração!... Estuda a pedrinha!...
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