sexta-feira, 11 de março de 2005

< resenha fresca aê, ó...>

"BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS"
de Michel Gondry (EUA, 2004)


"A nova contribuição Gondry/Kaufman, esse Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças, me pareceu um filme bem melhor realizado que o anterior e bom o bastante para estar destinado ao status de clássico. Mesclando comédia romântica (sem exagero no açúcar) e ficção científica leve, a obra parte da seguinte idéia tipicamente kaufmaniana: e se alguém inventasse uma máquina de amnésia que nos possibilitasse apagar da memória certas lembranças desagradáveis? Tudo bem que a própria mente humana já possui recursos semelhantes, empurrando lá pro inconsciente à base de repressão aquilo com o que não simpatizamos. Mas esses conteúdos que nós tentamos expulsar da mente sempre voltam pra nos atormentar nos sonhos e nas neuroses. Um dispositivo tecnológico que possibilitasse um aniquilamento completo das memórias seria algo mais desejável. No mundo imaginado por Kaufman, há uma empresa (a Lacuna) que oferece esse serviço divino a todos os desgraçados que tanto aspiram ao sagrado esquecimento.

E lá se vai Joel Barish (Jim Carrey), coração partido após treta com a namorada Clementine (Kate Winslet), e contrata a empresa para que possa passar pela "lavagem cerebral" (pela qual já passou a mocinha antes) que o restituirá a tranquilidade e fechará as cicatrizes. Solução conveniente para os relacionamentos fracassados: a mútua amnésia. O espectador nunca tem certeza se o serviço oferecido pela Lacuna funciona de verdade ou se a empresa é uma perigosa enganação. Somam pontos à desconfiança que cresce no espectador o fato de que os três funcionários da Lacuna Corporation (interpretados por Elijah Wood, Kirsten Dunst e Mark Ruffalo) são insistentemente descritos como negligentes, irresponsáveis e doidões. A própria idéia de se submeter à operação é duvidosa, pois se sabe da natureza perigosa da mesma ("Há algum risco de dano cerebral?", pergunta Joel ao médico, só pra receber a pouco convidativa resposta: "Bem, tecnicamente falando, a operação É dano cerebral..."). Um suspensinho básico é criado e sempre ficamos a nos perguntar: "será que essa negada vai ferrar com a mente do pobre Joel?"

Grande parte do filme se passará dentro da mente de Joel durante sua "cirurgia" de extração das memórias (Brilho Eterno é um dos filmes mais "intra-mentais" que eu conheço). A narração da história de amor e de ódio entre Joel e Clementine vai ser feita através das memórias que são revisitadas com o intuito de serem apagadas pela tecnologia da Lacuna. Kaufman imaginou o processo da seguinte maneira: não se trata de uma operação em que a pessoa esteja totalmente nocauteada, adormecida e inconsciente. Muito pelo contrário: Joel está consciente de todas as memórias no momento em que elas estão sendo destruídas, e vai sendo conduzido de lembrança em lembrança para assistir ao assassinato. É como se a mente de Joel fosse uma HD de computador, e a tecnologia da Lacuna fizesse um search em busca da palavra-chave "Clementine" nessa HD, para então ir entrando de diretório em diretório para apagar o "vírus"." DÊXÔLÊTUDOAÊ, PÔ!