segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Discaço. Tem Sabedoria, tem Leveza, tem Humor, tem Serenidade, tem Poesia, tem Crítica Política, tem Violinos, tem uma Melancolia que é quase feliz (por que não?), tem Criatividade Borbulhante, tem um Senhor Dueto Vocal com o Rufus Wainwright (e em francês, ainda por cima...) e tem A Melhor Música de 2 Minutos da Década - so far ("Glad"). Não sei porque a crítica falou tão pouco desse precioso "Grown Backwards", mais recente disco solo do David Byrne - ela, a crítica, deve estar muito ocupada fabricando Modinhas com bandinhas inglesas (p.s.: é bem mais-ou-menos esse Artic Monkeys, hein? E a NME dando 10 e dizendo que é "mais importante pra história do rock inglês do que qualquer disco dos Beatles ou do Clash".... BAH. BAAAAAAH!). Tudo bem que o David Byrne num soube fazer muito boa publicidade de si mesmo aqui no Brasil, entrando numas frias ridículas como dividir o palco com o Caetavo Veloso (blargh!) em festas escrotas da MTV ou fazer duetos com a Marisa Monte (perdão, mas eu digo BLARGH! de novo)... Mas eu fui lá, tentei vencer meu preconceito, e desculpar o David pelas más companhias que ele escolhe pra manifestar seu amor pela música brasileira, e descobri uma baita duma obra-de-arte escondida no "Grown Backwards". E num precisa saber qualquer coisa sobre o passado do cara pra curtir esse disco - eu mesmo num conheço quase nada da carreira solo do David Byrne, que tem fama de ser esquisitona e "muito world music", e só começo a sacar agora, e bem aos poucos, o que é que fazia do Talking Heads uma banda tão foda. O STOP MAKING SENSE, filme/show dirigido pelo Jonathan Demme - de "O Silêncio dos Inocentes" e "Filadélfia" - foi o que mais me ajudou a sacar o Gênio dos Cabeças Falantes... Recomendadérrimo. Tô com preguiça de fazer resenha demorada, q vcs certamente teriam preguiça de ler, então fica aí só a dica: GROWN BACKWARDS, do David Byrne, 2004. Ninguém pode morrer antes de ouvir.

* * * * *

The Man Who Loved Beer

To whom can I speak today?
The brothers they are equal.
But the old friends of today
They have become unlovable...

To whom can I speak today?
The gentleness has perished!
And the violent man has come down on everyone...

To whom can I speak today?
The wrong which roams the earth!
There can be no end to it
It is just unstoppable...

Death is in my sights today
As when a man desires
To see home after many years in jail.

February through December
We have such a tragic year!
As separate as the fingers
Suddenly - as one - as the hand

And the violent man has come down on everyone...
And the violent man has come down on everyone...

* * * * * *

Glad

I'm glad I've got skin, I'm glad I've got eyes
I'm glad I got hips, I'm glad I've got thighs
I'm glad I'm allowed to say the things I feel!

I'm glad I got hair, glad I got ears
I'm glad I got lungs, I'm glad I got tears
Glad that I never ever know what's real!

I'm glad I got lost!
I'm glad I'm confused!
I'm glad I don't know what I like.
I'm glad I got stoned!
I'm glad I got high!
I'm glad I found out I'm alright.

I'm glad when the sex is not so great.
I'm glad that I doubt, I know what they say.
I'm glad when I get my girlfriends names confused.

I'm glad I know how my life will end.
I'm glad I don't have no common sense.
I'm glad the things are wrong I thought I knew .

I'm glad I'm a mess.
I'm glad you don't mind.
I'm glad you're better than me.
I'm glad that I changed.
I'm glad I'm not nice.
I'm glad it's the way, it must be

I'm glad I can't see beyond myself.
I'm glad when the conversation ends.
It's good when it's bad, I'm glad
It's not worrin' me...

sábado, 28 de janeiro de 2006

Pra cascar o bico: Toda a Verdade Sobre O Chuck Norris, o melhor ator da história do Cinema Americano, segundo a Rede Globo de Televisão (foram 4.568 sessões de filmes de Chuck Norris em toda a história da emissora, que sempre o considerou um Grande Artista Moderno de Alto Valor Estético). Roberto Marinho, tendo atendidos os desejos expressos em seu testamento, foi enterrado vestindo uma fantasia de Chuck Norris. * * * * Prediletos: Chuck Norris' tears cure cancer. Too bad he has never cried. Ever. / There is no chin behind Chuck Norris' beard. There is only another fist. / Chuck Norris is ten feet tall, weighs two-tons, breathes fire, and could eat a hammer and take a shotgun blast standing. / The Great Wall of China was originally created to keep Chuck Norris out. It failed miserably. / There is no theory of evolution, just a list of creatures Chuck Norris allows to live. / Chuck Norris is the only man to ever defeat a brick wall in a game of tennis. / Chuck Norris discovered a new theory of relativity involving multiple universes in which Chuck Norris is even more badass than in this one. When it was discovered by Albert Einstein and made public, Chuck Norris roundhouse-kicked him in the face. We know Albert Einstein today as Stephen Hawking. /Chuck Norris doesn't shower, he only takes blood baths. / When Chuck Norris goes to donate blood, he declines the syringe, and instead requests a hand gun and a bucket. / Chuck Norris invented black. In fact, he invented the entire spectrum of visible light. Except pink. Tom Cruise invented pink. / Chuck Norris once ate an entire bottle of sleeping pills. They made him blink. / Some people wear Superman pajamas. Superman wears Chuck Norris pajamas. / Chuck Norris can set ants on fire with a magnifying glass. At night. / Chuck Norris just says "no" to drugs. If he said "yes", it would collapse Colombia's infrastructure. / Since 1940, the year Chuck Norris was born, roundhouse-kick related deaths have increased 13,000 percent. / Chuck Norris once kicked a horse in the chin. Its decendants are known today as Giraffes. / Fact: Chuck Norris doesn't consider it sex if the woman survives. / Jesus can walk on water, but Chuck Norris can walk on Jesus.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

da série: DISCOS DA MINHA VIDA.




T E E N A G E
F A N C L U B
"Grand Prix" (1995)


ALERTA VERMELHO: RESENHA ALTAMENTE GONZOLÓGICA.


A adolescência é engraçada - e não somente pelo pipoco das espinhas pela cara, dos pêlos pelo corpo e da Vozona de Macho na garganta, mas pelo monte de contradições e desejos conflitantes que fazem essa época tragicômica da vida: que adolescente sabe ao certo o que quer ser? Tô achando muito interessante olhar pros meus Teenage Years através dos discos que mais marcaram - o que acaba por revelar também altas contradições musicais... Eu, por exemplo, parecia dividido em pelo menos dois "eus" (mas é claro que eram muitos mais): um lado meu tinha aquele ímpeto rebelde e iconoclasta e se sentia atraído pelas Bestialidades Sonoras, aquelas que tinham aquela indispensável característica: eram capazes de fazer todas as "pessoas normais" ficarem loucas de raiva e reprovação - e com dor de ouvido, claro. Já a tendência melancólica, a inevitável tristeza que por vezes dominava, solicitava algo de mais doce, carinhoso, amável... Na minha prateleira de CDs, conviviam então os discos do Slayer, do Iron Maiden e do Nirvana com os do Belle and Sebastian (ai que vergonha!), do Radiohead e do Teenage Fanclub... Os primeiros, ouvidos no volume máximo, pra infernizar os vizinhos e a família, só pra dar provas de rebeldia. Os segundos, secretamente apreciados no escuro, com fones-de-ouvido e por vezes vergonhosas lágrimas inseguráveis. Através da música, era dada a mensagem para o mundo lá fora: ou te ensurdeço, ou não te escuto...

O Teenage Fanclub foi uma dessas bandas que mais marcou a minha adolescência, uma das que eu adorei com mais fanatismo, uma das que fizeram aqueles anos um pouco mais suportáveis, um pouco menos sombrios... E marcou também por todo o sacrifício que foi preciso fazer pra conseguir esses discos. Nesses tempos totalmente internetizados em que vivemos, quando conseguir um disco é bico (bastam alguns cliques no Soulseek e alguns minutos de espera), dá até uma certa saudade dos velhos tempos em que era uma dureza achar e comprar discos de bandas alternativas. Foram poucas as bandas que tomaram mais a minha grana do que o TFC, mas hoje tenho um baita orgulho desses meus quatro originais, todos importados, que na época valiam cerca de 35 pilas cada, uma verdadeira fortuna... Quanta moeda no porquinho, e quantos recreios em greve de fome, e quanta mesada-de-pai guardada com ardor religioso, só pra que eu tivesse o prazer de conseguir essas bolachinhas... E que prazer, é claro, ouvi-las depois do "martírio"!

Eu suspeito que aquilo que os jovens dos anos 60 descobriram ouvindo Help!, Rubber Soul, Sgt. Peppers ou Pet Sounds, eu descobri ouvindo Grand Prix, Bandwagonesque e Songs From Northern Britain. O quê? A banda pop perfeita. Com tudo redondinho e impecável, sem uma nota fora de lugar, sem uma sujeirinha ou fedôzinho pra incomodar: música praticamente impossível de não curtir de cara, sem pensamento, sem juízo, na simpatia mais espontânea possível... Depois da experiência Teenage Fanclub, tirei pra mim uma lição que uso até hoje pra julgar a música: se eu tenho que PENSAR pra decidir se uma banda é boa ou não, essa banda tem muita chance de não ser realmente boa. Com o Teenage Fanclub eu nunca precisei pensar: gostava e pronto.

Esse quarteto escocês, que nunca explodiu comerciamente em lugar nenhum (e que mesmo nos EUA é banda pequena, que nem tem certos de seus discos lá lançados), conseguiu compensar a falta de sucesso com a conquista de um séquito de fãs extremamente fiel. São poucas as pessoas que chegam a conhecer o Teenage Fanclub; mas dessas poucas, são muitas as que passam, daí em diante, a chamá-la de Banda da Minha Vida...

Os caras foram pescar nos anos 60 e 70 as maiores inspirações para o seu power-pop guitarrento e doce, erguendo, em plena década de 90, um monumento estupendo em homenagem aos seus heróis do passado: principalmente os Quatro Bês Fundamentais (Beatles, Beach Boys, Big Star e Byrds), mas também Neil Young, Gram Parsons, Badfinger, entre outros. O nome da banda já entregava: o Fã-Clube Adolescente compunha melodias grudentas em adoração ao pop-perfeito do passado, com nenhuma intenção "revolucionária" ou "vanguardista". E confesso que por vezes eu chegava a pensar que o que eles fizeram, muito mais do que somente um ato de adoração a grandes bandas antigas, era... superação.

Sim: cheguei a me convencer, com aquela tradicional pagação-de-pau exagerada característica de todo fã, que o Teenage Fanclub tinha superado qualquer banda dos anos 60 em termos de perfeição pop. Hoje já não tenho tanta certeza, e nem me importo em ter - afinal, não é preciso escolher entre o Teenage Fanclub e os Beatles, por exemplo, quando se pode ter os dois... O fato é que o TFC permanece ainda hoje como a principal referência do Revival do Power Pop nos anos 90, e é banda ainda insuperada por tantas outras bandas que tentaram fazer o mesmo (Posies, Matthew Sweet, Cosmic Rough Riders, Shins, Sloan, Ash, Brendan Benson...). E permanece o mistério: como é possível que o Teenage Fanclub, essa banda tão irresistível, não tenha vendido milhões de cópias e se mantenha ainda hoje como uma banda cult de baixas vendagens?

Grand Prix, segundo a opinião quase unânime dos fãs, é a obra-prima - se bem que haja quem prefira o lado mais "sujo" dum Bandwagonesque ou Thirteen, discos com um peso maior nas guitarras distorcidas, ou os discos mais "fofos" e baladeiros que virão depois, como Songs From Northern Britain e Howdy!. Mas Grand Prix, com sua produção cristalina, com suas guitarras menos feedbackadas e microfonadas, com seus vocais perfeitamente harmoniosos, com seu trabalho de equipe muito bem coordenado, é onde está reunida toda a verve dos Teenages. Um disco um tanto "humilde", sem dúvida, que não quer salvar o mundo, fazer espetáculo, revolucionar o rock ou instaurar uma nova vanguarda - e retrô, também, e sem nenhuma grande ousadia... Mas eu não vejo como reclamar de um disco desses: inspiradérrimo, apaixonado, sincero, borbulhante de vida e de sentimento...

Era 1995, na metade de uma década um tanto cínica e sombria, que tinha sido dominada até então pelo niilismo anárquico e suicida de Kurt Cobain e pelo punk ensombrecido de Seattle. Tempo de sombras. E o Teenage Fanclub ousou cometer um disco que ninguém ousava então: cheio de silly love songs cantadas sem um pingo de ironia, de cinismo, de rebeldia ou de escuridão. Esse quarteto de Glasgow, composto por jovens bem-educados e certinhos, não tinha nada a ver com a imagem do rock-star cabeludo, fedido, bêbado, auto-destrutivo e comedor de groupies... Eles chegaram mostrando que havia espaço para a doçura e para a delicadeza no rock dos 90. "Música de mariquinha!", alguns vão dizer... Mas quem disse que só os Machões marcam a história do rock? Bobagem. Na década da descrença, o Teenage Fanclub veio e disse, sem vergonha: acreditamos no Amor, na Honestidade e na Gentileza! Divindades que estavam, naquela época, tão fora-de-moda... Fora-de-moda, sim, mas a moda é algo que não dura: e as divindades cultuadas pelo Teenage, no fundo, são atemporais e sempre terão seus cultuadores. E eu não me importo de estar entre eles.

Tudo bem que há momentos não-tão-perfeitos em Grand Prix, principalmente por causa das músicas do Raymond McGinley, o menos talentoso dos três compositores da banda. Sempre achei que o Norman Blake e o Gerard Love teriam feito melhor se tivessem barrado as composições de Ray, as três que menos gosto no disco ("Verisimilitude", "Say No" e "I Gotta Know"). Apesar de serem perfeitamente audíveis e agradáveis, elas empalidecem em comparação aos grandes clássicos, que são mesmo da dupla Blake e Love (ouso dizer: o equivalente noventista ao Lennon e McCartey do passado). Infelizmente, Raymond não é o George Harrison do Teenage Fanclub. Minhas prediletas, até hoje, são "Sparky's Dream", com seu idealismo romântico exagerado, "I'll Make It Clear", com sua ingênua simplicidade, e, óbvio, o clássico dos clássicos, "Neil Jung", talvez a melhor pepita da história do power pop e séria candidata à Música da Minha Vida...

E as letras, que muito crítico sério considera o ponto mais fraco do Teenage Fanclub, podem mesmo parecer um amontoado de clichês românticos: à primeira vista, os escoceses não trouxeram nada de extremamente original ao formato, usado e re-usado e tre-usado, da canção de amor. Mas nunca me importei muito com isso. Tudo parecia sincero, e era o que importava. E eu me lembro bem o quanto os caras do Teenage Fanclub conseguiam, por vezes, expressar exatamente o que eu tava sentindo: decepção por não conseguir concretizar certos platonismos ("It gives me pain when I think of you / And the things together we'll never do..."); cansaço e melancolia derrotista ("You're tired, and you're broken / Your true feelings remain unspoken / You couldn't hide behind your name"...); sonhos amorosos bobalhões ("Just someting simple and unaffacted / We're getting closer than we expected..."); sem falar nas frases aparentemente bobocamente românticas, mas que, num tinha jeito, eu gostava ("Love is easy to define / Mine is yours and yours is mine / Through the pain, through the pain...").

Sim, já cheguei a desprezar o meu Teenage Fanclub, a achar que era uma banda "bonitinha demais pra ser verdade", a encostar os CDs no fundo da gaveta e deixá-los tomando pó... "Lixo kitsch! Música de marica!", dizia nos meus momentos mais rebeldes. Mas o fato é que sempre que eu ponho algum disco deles pra ouvir, e em especial o Grand Prix, isso me faz um bem danado: a vida fica instantaneamente mais leve, mais fácil, mais simples. Sem falar do prazer da memória: talvez os momentos de maior alegria da minha adolescência inteira tenham se dado ouvindo o Teenage Fanclub, esse refúgio musical contra as tempestades do mundo... Se eu pudesse escolher morar dentro de um disco, tipo me exilando numa Casa de Música, esse seria provavelmente o meu escolhido. Como não posso, me contento em ir até esse Poço de Doçura que é o Grand Prix e pegar pra mim, vez ou outra, um pouco de alegria - com meu balde furado... ;-)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

* O screening-log 2006 já começou. E o meu médico tá muito preocupado com essa minha cinefilia, acha que eu tô exagerando, que é quase doentio... São coisas do Tédio, doutor! São coisas desse janeirão tonto sem nada pra fazer, dessa pessoa tonta que eu sou e que precisa se embebedar com ilusões, dessa realidade tontíssima que sempre me dá vontade de fugir... Às vezes eu fico brigando comigo mesmo - é um dos meus esportes favoritos - porque ao invés de viver a minha vida eu fico olhando através da janelinha indiscreta todas essas outras "vidas" que o cinema nos oferece - eu, voyeur da "vida" alheia, sem vida própria, sonhando ser o que não sou nem nunca serei. Fico me perguntando: será que num tem muito de fuga da realidade nessa obsessão cinematográfica? Não há o desejo de habitar num mundo mais satisfatório, mais cool, mais compensador, menos decepcionante, do que este aqui, fedido e tonto, onde eu estou? Será que eu não assisto tantos filmes, muitas vezes, pra tentar me convencer que a vida é do jeito que ela é nos filmes? E também isso: será que me faz bem ficar observando essas "pessoas" sempre tão heróicas, tão bem-sucedidas, tão vencedoras, que costumam protagonizar os Grandes Sucessos do Cinema? Às vezes parece que isso só me deixa mais insatisfeito comigo mesmo, como se eu me envergonhasse por não ser tão cool quanto certos personagens que eu queria ser, como se eu me odiasse por não viver uma vida que se pareça com a deles... Uma coisa que me acontece frequentemente é sair de um filme, principalmente aqueles americanos que são bons mas são ruins, me sentindo muito fracassado, achando que minha vida é muito besta e que as pessoas que eu conheço são muito sem graça. Porque nada na minha realidade é tão cintilante, espetacular e recompensador quanto é nos filmes... Eu não acendo meus fósforos na sola do meu sapato, como faz o John Wayne; eu nunca faço a Loura Escultural cair perdidamente apaixonada por mim, à primeira vista; eu não salto de pontes em chamas com meu carro à alta velocidade para salvar as criancinhas dos sequestradores; eu não fico dependurado em abismos; eu não me salvo das explosões sem nenhuma queimadura; eu não desarmo as bombas-relógio um segundo antes da catástrofe; eu não mato um exército inteiro de japas malucos com minha Hatori Hanzo; eu não salvo o mundo do Mal com meu heroísmo e minha coragem inabalável; eu não vivo uma vida onde aconteça muita coisa... Não, eu não sou nada parecido com um personagem de filme: sou muito mais medroso do que todos eles, muito menos sedutor, muito mais inseguro, muito menos heróico... Caraca, eu sou mesmo um fodido! Ou melhor: sou somente humano. E que triste coisa é ser somente humano, quando tantos "outros" são sobre-humanos!

* Cês lembram do COL? Eu adorava o COL. O COL mudou a minha vida. Foi o COL que me fez começar a escrever de verdade, sem ser por obrigação das professorinhas de redação do colégio, pois eu tinha uma enorme vontade de ser igual aos COLunistas. Era um imenso prazer, naqueles velhos tempos, abrir a minha caixa de e-mail e encontrar por lá uma edição fresquinha do zine da gauchada. Pena que acabou, mas é bom que tenha acabado. Como diz o mojo no EPITÁFIO deles lá, "as coisas boas sempre acabam. por isso são boas. coisas ruins duram pra sempre. são eternas, tipo o paraíso cristão, onde ninguém fode nem faz artê." Como num tô com muita coisa pra fazer ultimamente, ando lendo umas edições antigas do COL (garimpem vocês também) e encontrando muita coisa legal nele - e muita nostalgia em mim. Tipo esse texto, do Cardoso, em modo excepcionalmente sério e provocativo, que eu lembro que causou um grande impacto. Parecia coisa escrita diretamente pra mim. E era um monte de soco na minha cara, só pra me fazer acordar. Ó se num é de sentir saudade:

Você é útil? Não. É apenas mais um entre tantos milhões sentado atrás de uma tela de computador olhando um monte de luzes brilhando e sentindo-se útil ao repassar uma mensagem sobre o novo vírus que se reproduz sozinho. Ah, mas não é só essa a sua utilidade. Em que consiste a sua utilidade? Você escreve e muitas pessoas lêem o que você escreve. Muitas outras simplesmente ignoram o que você escreve e algumas delas até são teus amigos. Você é útil? A sua existência é indispensável? Por quê? Porque você vai a shows e assiste filmes e depois é capaz de emitir opiniões. Porque você aparece nos jornais e revistas e alguns programas de tv.

Você realmente acha que isso é ser útil? Você não é burro. É um rapaz bem alimentado que estudou a vida toda em colégios particulares e não perdeu todo seu tempo querendo aprender a jogar futebol. Você teve poucos problemas de saúde e goza do auge da sua forma física. Mesmo assim, você não é capaz de correr por mais de cinco minutos sem ter falta de ar. Todo esse tempo sentado em salas e quartos lendo livros te deu grande conhecimento. Você faz um bom uso desse conhecimento?

Então você é útil? Que revolução você propõe com suas atitudes? O que você desperta nas pessoas? Você é um calmante ou uma anfetamina? Sua autoreferência me cansa. Onde está a sua vida, o seu pulso, a sua verve? Em que mesa de bar você trocou seu inconformismo por esse lixo açucarado, essa autcomiseração adolescente? Você é um indolente. É ineficiente. Se você é tão útil porque não vejo movimento? Transformação? Auto-conhecimento? A vida não é um retrato barato das notas do showbiz nem se baseia em conceitos mal elaborados por estudantes universitários. A vida não é um quarto e um modem conectado.

Você é útil pra quem? Pra todas aquelas camisinhas dentro de todas aquelas bucetas que não te disseram nenhuma palavra de amor? Pra todas essas pessoas sem rosto que se penduram na tua sombra querendo alívio do sol? Pra tua família que quase não te vê porque tu só quer saber do teu umbigo? Quem te disse que esse é teu direito? Quem te deu algum direito? Quem te disse qualquer coisa? De que você tem medo? Quem te disse pra ter medo?

Você é útil? Que esforços você faz para a manutenção da paz? Porque você não pára de comprar maconha se sabe que isso sustenta o tráfico? Porque não pára de entupir sua mente com torpor de álcool se sabe que isso não te dá vantagens? Porque não se alista no exército e viaja em missão de paz à Etiópia? Porque não se junta à Brigada ou ao Corpo de Bombeiros? Porque não presta vestibular no próximo ano pra Medicina e monta uma clínica para quem não pode pagar? Porque não se apresenta como voluntário em uma escola de inglês ou informática na favela? Nem vamos tão longe: porque você não pesca seu peixe, não planta seu alface, não cria seu gado? Porque você prefere tv à cabo a uma tarde na orla? Porque não tem um filho e lhe dá um rumo? Porque prefere uma existência de ovelha a dar murros em ponta de faca? Não há revolução sem sangue.

Pra quem você é útil além de você mesmo?


* Meu Tédio também tem se divertido a fazer listinhas lá no Rate Your Music, que é uma espécie de Orkut Musical. Tenho garimpado bastante no Soulseek por bandinhas punk - new wave - pós/punk - riotgirll desconhecidas, porque faz tempo que eu creio nos diamantes que estão escondidos no underground dessa ceninha. Algumas das minhas bandas do coração são dessa área: o Sleater-Kinney, o Fugazi, o Saves The Day, o Distillers, o Save Ferris... Então aproveitei pra fazer minha listonha com os MELHORES ÁLBUNS PUNK DE TODOS OS TEMPOS, que serve também como um "EU RECOMENDO!". Eu ia colocar o Simple Plan na lista mas fiquei com vergonha. Cês iam me achar MTViado demais.

* DLMSONGS com o novo do STROKES e o novo do NEW PORNOGRAPHERS. Dois discões de duas bandas que, daqui a cinquenta anos, vão estar nos livros de História do Rock como Clássicas da Década 00. Eu acho mesmo que os Strokes, se continuarem no mesmo ritmo, vão ser para a nossa geração o que os Beatles foram para a geração dos anos 60. Sem zoera.

* Eu sempre quis saber: Adão e Eva tinham umbigo?

domingo, 15 de janeiro de 2006

(um conto.)



"CORTE DE CORDÃO UMBILICAL - SEGUNDO ATO"


”As perguntas realmente sérias são aquelas – e somente aquelas – que uma criança pode formular. Só as perguntas mais ingênuas são realmente perguntas sérias. São as interrogações para as quais não existe resposta. Uma pergunta sem resposta é um obstáculo que não pode ser transposto. Em outras palavras: são precisamente as perguntas para as quais não existem respostas que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de nossa existência.” MILAN KUNDERA, A Insustentável Leveza do Ser.


- Por quê, mãe?

Foi o que a voz da pequena murmurou, ingênua e suplicante, amargada quase que pela primeira vez por uma incompreensão cruel. Um pequeno resquício de inocência no amontoado lamacento dos homens queria saber o porquê. Um ponto-de-interrogação em formato humano, andante e falante, todo de carne, ossos e sangue, ousava se erguer em meio aos homens adultos, todos tão cheios de certezas, tão livres já do Pasmo Primordial, tão mergulhados na sensação da normalidade de tudo... O silêncio que havia se seguido à pergunta foi cortado pela segurança da mãe protetora, dona da sabedoria de vida, desvendadora de todos os enigmas, que viria com as respostas na bandeja... Estranhamente, porém, a voz materna, sempre tão jovial, quente e segura soou embargada e triste, saindo da caverna da garganta como um inseto subterrâneo que tem medo de se mostrar à luz do dia.

- Ah, filha... Quando chega numa certa época da vida, as pessoas começam a morrer...

A pequena garotinha, recebendo e processando essas palavras, não deixou de se sentir desiludida: aquela estava longe de ser uma resposta satisfatória. Por que não falavam logo por quê? Por que sua bárbara mamãe não queria compartilhar seu saber? Porque ela havia de saber. Tinha resposta pra tudo: nunca antes deixara uma só interrogação irrespondida, uma só dúvida inexplicada, um só vazio sem preenchimento. Aqueles pequenos olhinhos, abertos pela primeira vez há 9 anos, tinham a convicção de que tudo se sabia, e que tudo se podia aprender. Mamãe sabia.

Abalada pela suspeita inédita e amedrontadora de que mamãe pudesse não saber, com o receio daqueles que entrevêm que algo está errado, mesmo não sabendo precisar o quê, ela retornou:

- Mas por quê?

Irritada com a persistência, a mãe olhou firme nos olhos indagadores da filha. Buscando em mananciais ocultos a força para ser adulta, segura e racional, o que ela cada vez se sentia menos capaz de fazer, a mãe tentou tirar de sua própria dor alguma compaixão, alguma coragem para tudo explicar, algo que pudesse fazer retornar o filhote inseguro ao conforto do ninho.

- O corpo das pessoas se gasta, filha... Você vai vivendo, e passa o tempo, você tem doenças, tem desgastes, e aí chega uma hora que “paf!”, o coração pára de bater, o cérebro pára de funcionar, o corpo não aguenta mais. Aí...

Sem saber que sabia, a garota isso já compreendia. O corpo se gasta e as pessoas morrem. Era esse o porquê. Pensou na frágil criatura que acabara de ver no hospital, poucas horas atrás. A pele enrugada, trucidada pelo pisoteio cruel dos anos. As cicatrizes incuráveis gravadas pela faca do tempo, com lentidão, no corpo envelhecido. A voz rouca, baixinha, difícil, sussurada pela falta de ar. As pernas trêmulas, cheias de verrugas e veias à mostra, que mal sustentavam o corpo de pé. Algo que se apagava. O tempo, cruel entidade, apesar de totalmente inocente em sua maldade cega, gastara aquele corpo. Vovó ia morrer. Nada a fazer. O tempo, lento arquiteto da morte, nos levava os amados, e nos levaria também dos que nos amam, sem dúvida. Nada a fazer.

Sim, um dos porquês já havia sido elucidado: o “porquê objetivo” do espetáculo aterrorizante que havia visto à beira daquele leito de UTI, espetáculo terrificante que a ameaçava com a perda iminente de um ser querido. Sim, estava ali o porquê, todo entregue à compreensão: um corpo que se desgasta com o tempo e que, a certo ponto, pára de funcionar como uma máquina após excesso de trabalho. Simples assim!

Mas por detrás dessa explicação objetiva ainda se erguia o anseio por um outro porquê, um porquê "metafísico", uma questão que pairava no ar sem resposta e sem poder ser melhor exprimida por uma mente dotada de tão poucas palavras. Por que temos que morrer? Quem criou um mundo onde esse tipo de fenômeno é necessário, recorrente e inevitável? Por que não poderíamos habitar um outro tipo de existência de onde estaria excluída toda finitude e toda decadência e toda podridão? Por que o destino do corpo humano, de todos eles, é servir de alimento para vermes e formigas, apodrecer como comida estragada, desintegrar-se fedorentamente sem retorno possível? Qual o sentido, enfim, de nos arrastarmos pela vida, fazendo os mais variados esforços, lutando nas mais diversas frentes, conseguindo nos apossar das mais diversas coisas, às vezes até de certos corações, para no fim de tudo sermos empurrados no abismo, totalmente nus e despossuídos? Enfim, o fato da morte era algo perfeitamente explicável por causas objetivas, mas a pergunta era outra: qual o sentido?

Meio sem saber o que pensar, a garota pediu ajuda, de novo, insistindo na mesma questão, incapaz de formulá-la melhor:

- Mas por quê? Por quê?

A mãe, já bastante ferida naqueles dias, irritou-se com a inadequada teimosia da criança. Pra quê ficar lembrando, remoendo, reapertando, como um sádico espírito que sente prazer em torturar? A pergunta, simples, lacônica, inocente, batia pesadamente em sua porta com pancadas secas, impacientes e angustiadas - e exigia uma resposta, um consolo, um calmante. Aliás, uma mãe não tem como uma de suas missões esclarecer os mistérios que surgem, iluminar o caminho dos filhos pelas vielas sombrias do mundo, andar atrás das crianças com uma lanterna que desfaz as fantasmagorias com o jato de luz? Não era seu papel fazer do mundo um ninho confortável para a criaturinha frágil que trouxera ao mundo? Era sua obrigação explicar. Mas o que dizer? Sabia ela por quê? Deveria mentir?

- São coisas da vida... - foi tudo que pôde murmurar.

A garotinha, ensimesmada, ficou momentos em silêncio digerindo a resposta. Coisas da vida... De novo se chateou: não era uma explicação muito convincente, pensava a garota, que continuava com um desagradável vazio dentro de si, um pequeno vácuo de incompreensão e temor. Era como vislumbrar, pela primeira vez, um buraco monstruoso se abrindo no meio do mundo, um vão absurdo e enigmático que não conseguia compreender. Coisas da vida... mas que coisas eram essas, assim tão vagas, tão nevoentas, cuja esquisitice até machucava? Então era isso, isso era todo o jogo, o porquê inteiro? Tudo se acabava, e era só isso, só uma coisa da vida, e ficava por isso mesmo? Desesperados, os olhinhos pequenos fitaram os grandes olhos úmidos da mãe, clamando por direção, por abrigo, por luz na recém-chegada escuridão.

- Não entendo... Sei que a coisa acontece assim, mas por quê acontece assim?

Ferida, despedaçada, a mãe olhava para a filha com uma ira mesclada com ternura, irritada com aquela insensata repetição de questionamentos mas ao mesmo tempo cheia de carinho por uma criatura que fazia somente o que estava a seu dispor: ou seja, não entendia. E a razão não era a falta de competência intelectual, de experiência de vida ou de capacidade sensitiva para compreender: não entendia pois a coisa não era entendível. O que a mãe via à sua frente, afinal, era outra pessoa, muito parecida com ela mesma, também ferida e perdida, batendo a cabeça contra um problema aparentemente insolúvel que se recusava a revelar seus mistérios... Quis gritar raivosamente, mandar que a filha calasse a boca, que parasse com aquelas perguntas, que cessasse a tortura, mas sentia-se no dever de explicar. Mas como? O que dizer?

Poderia muito bem começar novamente a falar sobre Deus, sobre a indestrutibilidade da alma, sobre o paraíso e a imortalidade dos homens... já havia muitas vezes catequisado sua filha antes e sabia dos poderes consoladores de tais idéias. Mas de uma maneira estranha, quase nunca antes sentida, se sentiu errada, achando que se tornaria uma traidora ao vender certezas que, no fundo, não tinha. Olhava para aqueles olhos já quase chorosos, e queria consolá-los com a idéia de Deus e com a convicção de uma vida que era no fundo cheia de sentido, mas sentia que amava demais aquele serzinho para fazer isso. Amava demais sua filha para mentir. O que fazer nesse labirinto? E como alguém que, andando numa estrada, subitamente perde as forças para continuar e abandona seu peso ao solo, tudo que a mãe pode fazer foi chorar. Por si mesma, pela filha, pelo mundo que ambas não entendiam. Pela incapacidade de ambas de se protegerem da angústia detrás do escudo da ilusão. Pela vida que se esvaía num hospital distante (e tão próximo!) e que as dilacerava por dentro, emoção e razão...

Pela primeira vez desde o início do diálogo, a filha compreendeu claramente alguma coisa. Aquela água azeda que se derramava dos olhos da mãe, enxurrada acompanhada por soluços e gemidos, deixava muito claro que mamãe não sabia, que estava no mesmíssimo buraco, olhando para a vida e inutilmente procurando um sentido para o nascer, para o morrer, para tudo entre eles... Aquelas lágrimas da mãe eram uma confissão de ignorância, um explícito "não sei" caindo pesadamente sobre as esperanças do filhote, que esperava grandes coisas, respostas mágicas, reinos de magia...

A morte seria como uma ponte dourada e brilhante que nos levaria para outro lugar tão melhor e tão vazio de dor... ou o momento onde os anjos desceriam para a Terra e a levariam em suas asas para a moradia celeste... ou então era o momento em que se podia finalmente repousar no colo de Deus, como adentrar num Segundo Útero, desta vez sem a possibilidade de ser de lá evacuado por um nascimento criminoso... A morte seria nada mais que o parto luminoso de uma alma... ou então...

Mas não, ela agora sabia que não ia ouvir nada disso, que sua mãe desistira de consolá-la com mitologias baratas, que a preparava para a dureza do real e a dureza do futuro... A sabedoria da mãe, incalculável e inextinguível, também apagara. Aquela mulherzinha, sua mãe, agora tão frágil e humana, aparecia a seus olhos como qualquer outra pessoa: quase afogando-se num mar de desconhecimento. E a filha sentiu a dor terrível da lucidez, a vertigem quase insuportável de perceber uma fraqueza comum. Percebeu que estava sozinha, sem ninguém para responder-lhe nada, tendo que trilhar seu próprio caminho. Algo se rompera ali: uma confiança outrora sempre presente, um abrigo outrora sempre seguro. Tacada ela também ao mar de incompreensão, percebeu que teria que nadar, nadar até o fim, sem a certeza de que havia uma ilha, tentando entender, em outros lugares, com outras pessoas, talvez inutilmente... O poço de respostas tinha secado.

A mãe, percebendo que nada mais havia a fazer, deu um beijo leve na testa da filha e, ainda chorando, apagou as luzes e saiu do quarto.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

MôNdICoIz.

Apesar da minha ignorância sobre a febre aftosa, da minha sem-noção-zice pra interpretar as frases sem sentido do Millôr Fernandes, dos meus chutes sobre a religiosidade dos holandeses e do meu horroroso embromation sobre aquela maldita fotinha de vegetação, eu saí da Fuvest 2a fase confiante - acho que já tou com um pé dentro da USP (enquanto o outro continua atolado dentro da Unesp). Agora é mais um mês de angústia, insônia e ansiedade pra qu'então eu finalmente tenha uma idéia de pr'onde minha vida tá indo. Pro abismo, é claro, no fim do caminho, mas a pergunta é: e antes dele, o quê? * * * * * Acho que nesse ano esse blog vai mudar um pouco de caráter, com muito mais umbigolismo e egotrips e literatura, e muito menos culturapop e arte, talvez porque eu esteja me tornando um canalha egocêntrico que quer ficar falando só de seu vidinha. De agora em diante eu quero escrever só coisas que FAÇAM DIFERENÇA, que me melhorem a vida de algum jeito, que ajudem alguém de alguma maneira, mesmo que só eu, ou que pelo menos me libertem de algum peso, de alguma palavra engasgada na garganta, de algum grito sepultado no meu heart in a cage, de algo escondido nos meus porões... Vou tentar parar de ter vergonha de publicar os meus contos, inclusive aqueles que parecem escritos por uma minininha. Tentar libertar mais minha veia poética e o meu Dioniso particular... Retomar a idéia original do Dirty Little Mummie: PORNOGRAFIA DA ALMA... E vocês, por favor, não façam esse silêêêêncio todo que eu fico com medo de estar sendo odiado. Se quiserem me odiar, por favor, fiquem à vontade, só não guardem segredo. Eu quero saber! * * * * Discos intêros pra baixá no SOVIETE MUSICAL do DLMSONGS: o "Relationship Of Command", do At-The-Drive-In, o "Howl" do Black Rebel Motorcycle Club, o "The Singles" do Bikini Kill, o "Alternative To Love" do Brendan Benson, o "Extraordinary Machine (versão Jon Brion)" da Fiona Apple e o "Daydream Nation" do Sonic Youth. Lembrando que o endereço é GMAIL.COM, o username é dlmsongs e a senha é queromp3. * * * * A bacanérrima revista eletrônica pop-cultural Rabisco tá cada vez melhor e eu tenho cada vez mais vontade de virar contribuidor corriqueiro dela. Na edição #72, agora no ar, mandei lá pra eles uma matéria sobre a Fioninha Apple, um texto surgido com a junção dos dois anteriores que eu já tinha escrito sobre ela. Também vale a pena ler coisas como a resenha sobre o filme de Martin Scorcese sobre Dylan nos 60 , a entrevista com o Zé Hamilton Ribeiro , a matéria sobre a sobrevivência do punk hoje em dia, entre outras.* * * * * Ah, vem aí o Dirty Little Mummie, A BANDA (de um homem só)! Ou... GRAVAÇÕES TOSCAS DE UM ROCK-STAR WANNABE preso em seu quarto. Vai ser um desastre... * * * * 2006 vai ser um ano pr'eu ficar no negativo bancário por uns 13 meses: U2 e Franz Ferdinand, juntos, agora em fevereiro; Supergrass e Mission Of Burma e as melhores bandas indie do Brasil no Campari, em Abril; o mito Bob Dylan dando aos brasileiros a última chance de vê-lo ao vivo antes de sua morte; Jack Johnson, Oasis, Kasabian, Killers, Stereophonics, LCD Soundsystem e Interpol também prometidos; e no segundo semestre ainda rola TIM Festival sediado em Sampa e Claro Que É o Rock 2. Tô pensando em vender: meus discos de METAU, mas eles são todos muito ruins; minha coleção de revistas Rock Press, mas é algo que eu vou querer mostrar pros meus filhos quando for dar meus sermões sobre como gastar dinheiro sabiamente; os livros que eu não gosto, mas dono de sebo é tudo pão-duro; um dos meus dois rins para o contrabando de órgãos, mas tenho medo de bisturi; meus serviços para alguma quadrilha de roubo a bancos, mas num ia gostar de tomar tiro de polícia; terrenos no céu, inclusive latifúndios, mas vivemos num tempo sem fé; e a minha alma... que não vale nada.

terça-feira, 3 de janeiro de 2006


FLYING LOW.

"We all got holes to fill
Them holes are all that's real
Some fall on you like a storm
Sometimes you dig your own

But choice is yours to make
And time is yours to take
Some dive into the sea
Some toil upon the stone

To live is to fly
Both low and high,
So shake the dust off of your wings
And the tears out of your eyes"


* * * * * *


Me convocaram pra ser Imperador Vitalício da...



Espelho, espelho meu: existe alguém mais chato do que eu?

Se existisse um Troféu da Indiferença Mais Completa e Absoluta Em Relação às Comemorações da Nossa Civilização, eu ia lá disputar. E ia ganhar. Porque Natal, Ano Novo, Aniversário, Carnaval, Páscoa, Dia das Crianças, Jogo de Futebol, Missa do Papa, São Silvestre, Dia do Índio, Dia da Árvore, Independência e República, eu acho tudo isso um saco... Todo Natal, não importa onde eu esteja, eu fico com vontade de contratar um trio elétrico com potência duns 1.000 decibéis e mandar tocar "Papai Noel Filho da Puta" a noite toda, só pelo gosto de estragar a festa. Grandes Garotos Podres! Fizeram melhor que os Ramones no quesito música-punk-de-Natal, incomparavelmente melhor do que aquela fofureza toda de "Merry Chrismas, I Don't Wanna Fight Tonight"...

Se eu fosse ditador, mandava prender todo mundo que tivesse coragem pra colocar "Jingle Bells" pra tocar... que gente mais clichê! Sempre a mesma merda, o mesmo ritual, as mesmas músicas, o mesmo peru, as mesmas uvas passas, o mesmo escrotão com barriga de mentira que chega fazendo rôrôrô para "agradar" às criancinhas, a mesma árvore com as mesmas luzinhas, os mesmos presépios com o mesmo messias, as mesmas mensagens cristãs edificantes, a mesma comida de fresco... Sem falar que pra mim Natal é um monte de gente comemorando o aniversário de um cara que eu num curto.

Sorte das pessoas que eu sou um garotinho muito comportado e respeitoso, que nunca expressa suas insatisfações e reclamações e que tem o excelente hábito de sofrer em silêncio... Não quero estragar a festa de ninguém, afinal. Fico sempre quietinho engolindo meu grito e depois venho aqui, me livrar do que ficou guardado...

E em Reveillon eu não acredito. As pessoas ficam todas bêbadas de esperança nesses fins-de-ano, todas acreditando que o ano que chega vai ser muito melhor do que o anterior, o que eu já desisti de fazer faz tempo. Eu tô tentando o mais duro que posso pra me tornar um ateu completo, sem nenhum pingo de superstição, e pelo menos em matéria de Reveillon eu já consegui. Não acredito mais em ano. Eu acredito nos poderes do pessimismo para evitar as decepções inevitáveis do otimismo. Não, 2006 não vai ser um bom ano. Vai ser horrível, insuportável, abominável, infernal, pior do que todos os que vieram antes. E em 2007 a coisa ainda piora, pois nada é tão ruim que não possa piorar.

E se tem uma coisa que me deixa enojado é o otimismo... Se eu pudesse, mandava o tal do trio elétrico tocar Joy Division na praia da virada ao invés daquela horrorosa musiquinha "feliz ano nooooovo, adeus ano vééélho, que tudo se realiiiiiiiizzzzeeeee, no ano que vai naaaaasceeeerr! Muito dinheiro no boooooooollllllssssssssoooooo! Saúde pra daaaaaar e vendeeeeeer!" Blargh!... Sempre a mesma musiquinha, o mesmo ritual, a mesma champanhe, os mesmos números na mesma contagem regressiva, os mesmos fogos de artifício nas mesmas praias lotadas, a mesma cobertura da rede Globo e o mesmo desperdício de capital que podia estar servindo pra que criancinhas não morressem de fome.

Às vezes fico imaginando qual é exatamente a quantia em dinheiro que a humanidade explode no céu todo fim de ano, num desperdício ridículo de riqueza, e fico pensando que, se a fome não está erradicada desse planeta, é porque nós somos extremamente imorais na escolha das nossas prioridades. Preferimos ver umas luzinhas explodindo no céu escuro do que livrar nossos irmãos da inanição... Preferimos gastar nossa grana com presentes absolutamente supérfluos nessa gigantesca campanha de frênesi consumista que é o Natal capitalista, ao invés de oferecer o necessário aos que vão passar, debaixo das pontes e das marquises, um Natal sem nenhum Papai Noel e nenhum Papai do Céu...

2006 começa mal pra mim porque 2005 acabou péssimo - foi mesmo o pior final de ano da minha vida. E sei bem que nenhuma magia de virada de ano vai fazer isso melhorar. Só me resta esperar que o tempo cuide de me levar prum outro lugar, porque aqui onde estou não tem nada além de angústia, indefinição, insônia, desânimo... Não, não sei pra onde eu estou indo, não sei onde vou morar (a house is never a home!), não sei o que vou fazer nem o que vai acontecer, nem se as coisas vão começar a dar certo, just for a change... Não sei se vou entrar na USP, não sei se meu T.C.C. vai finalmente ser aprovado, não sei vou me formar, não sei se vou ter emprego, não sei se minha vida vale alguma coisa, não sei ainda o que é o mundo e porque nasci nele, não sei porque não consigo saber nada do que me importaria saber... Oh i guess that i just don't know...

Oh, and this loneliness just only leave me alone.

Não sei se o problema é comigo, com ele ou com nós dois, mas eu não tô conseguindo gostar muito do mundo ultimamente. "Ultimamente"? Digamos, nos últimos 21 anos...

Chato's Land me chama... Adeus, mundo cruel!

E eu quero o Bi no Troféu Sorriso! Quero porque quero! Eu mereço...

* * * * *

"Days up and down they come
Like rain on a conga drum
Forget most, remember some
But don't turn none away

Everything is not enough
Nothin' is too much to bear
Where you been is good and gone
All you keep is the gettin' there

To live is to fly
Both low and high
So shake the dust off of your wings
And the tears out of your eyes"