terça-feira, 3 de janeiro de 2006


FLYING LOW.

"We all got holes to fill
Them holes are all that's real
Some fall on you like a storm
Sometimes you dig your own

But choice is yours to make
And time is yours to take
Some dive into the sea
Some toil upon the stone

To live is to fly
Both low and high,
So shake the dust off of your wings
And the tears out of your eyes"


* * * * * *


Me convocaram pra ser Imperador Vitalício da...



Espelho, espelho meu: existe alguém mais chato do que eu?

Se existisse um Troféu da Indiferença Mais Completa e Absoluta Em Relação às Comemorações da Nossa Civilização, eu ia lá disputar. E ia ganhar. Porque Natal, Ano Novo, Aniversário, Carnaval, Páscoa, Dia das Crianças, Jogo de Futebol, Missa do Papa, São Silvestre, Dia do Índio, Dia da Árvore, Independência e República, eu acho tudo isso um saco... Todo Natal, não importa onde eu esteja, eu fico com vontade de contratar um trio elétrico com potência duns 1.000 decibéis e mandar tocar "Papai Noel Filho da Puta" a noite toda, só pelo gosto de estragar a festa. Grandes Garotos Podres! Fizeram melhor que os Ramones no quesito música-punk-de-Natal, incomparavelmente melhor do que aquela fofureza toda de "Merry Chrismas, I Don't Wanna Fight Tonight"...

Se eu fosse ditador, mandava prender todo mundo que tivesse coragem pra colocar "Jingle Bells" pra tocar... que gente mais clichê! Sempre a mesma merda, o mesmo ritual, as mesmas músicas, o mesmo peru, as mesmas uvas passas, o mesmo escrotão com barriga de mentira que chega fazendo rôrôrô para "agradar" às criancinhas, a mesma árvore com as mesmas luzinhas, os mesmos presépios com o mesmo messias, as mesmas mensagens cristãs edificantes, a mesma comida de fresco... Sem falar que pra mim Natal é um monte de gente comemorando o aniversário de um cara que eu num curto.

Sorte das pessoas que eu sou um garotinho muito comportado e respeitoso, que nunca expressa suas insatisfações e reclamações e que tem o excelente hábito de sofrer em silêncio... Não quero estragar a festa de ninguém, afinal. Fico sempre quietinho engolindo meu grito e depois venho aqui, me livrar do que ficou guardado...

E em Reveillon eu não acredito. As pessoas ficam todas bêbadas de esperança nesses fins-de-ano, todas acreditando que o ano que chega vai ser muito melhor do que o anterior, o que eu já desisti de fazer faz tempo. Eu tô tentando o mais duro que posso pra me tornar um ateu completo, sem nenhum pingo de superstição, e pelo menos em matéria de Reveillon eu já consegui. Não acredito mais em ano. Eu acredito nos poderes do pessimismo para evitar as decepções inevitáveis do otimismo. Não, 2006 não vai ser um bom ano. Vai ser horrível, insuportável, abominável, infernal, pior do que todos os que vieram antes. E em 2007 a coisa ainda piora, pois nada é tão ruim que não possa piorar.

E se tem uma coisa que me deixa enojado é o otimismo... Se eu pudesse, mandava o tal do trio elétrico tocar Joy Division na praia da virada ao invés daquela horrorosa musiquinha "feliz ano nooooovo, adeus ano vééélho, que tudo se realiiiiiiiizzzzeeeee, no ano que vai naaaaasceeeerr! Muito dinheiro no boooooooollllllssssssssoooooo! Saúde pra daaaaaar e vendeeeeeer!" Blargh!... Sempre a mesma musiquinha, o mesmo ritual, a mesma champanhe, os mesmos números na mesma contagem regressiva, os mesmos fogos de artifício nas mesmas praias lotadas, a mesma cobertura da rede Globo e o mesmo desperdício de capital que podia estar servindo pra que criancinhas não morressem de fome.

Às vezes fico imaginando qual é exatamente a quantia em dinheiro que a humanidade explode no céu todo fim de ano, num desperdício ridículo de riqueza, e fico pensando que, se a fome não está erradicada desse planeta, é porque nós somos extremamente imorais na escolha das nossas prioridades. Preferimos ver umas luzinhas explodindo no céu escuro do que livrar nossos irmãos da inanição... Preferimos gastar nossa grana com presentes absolutamente supérfluos nessa gigantesca campanha de frênesi consumista que é o Natal capitalista, ao invés de oferecer o necessário aos que vão passar, debaixo das pontes e das marquises, um Natal sem nenhum Papai Noel e nenhum Papai do Céu...

2006 começa mal pra mim porque 2005 acabou péssimo - foi mesmo o pior final de ano da minha vida. E sei bem que nenhuma magia de virada de ano vai fazer isso melhorar. Só me resta esperar que o tempo cuide de me levar prum outro lugar, porque aqui onde estou não tem nada além de angústia, indefinição, insônia, desânimo... Não, não sei pra onde eu estou indo, não sei onde vou morar (a house is never a home!), não sei o que vou fazer nem o que vai acontecer, nem se as coisas vão começar a dar certo, just for a change... Não sei se vou entrar na USP, não sei se meu T.C.C. vai finalmente ser aprovado, não sei vou me formar, não sei se vou ter emprego, não sei se minha vida vale alguma coisa, não sei ainda o que é o mundo e porque nasci nele, não sei porque não consigo saber nada do que me importaria saber... Oh i guess that i just don't know...

Oh, and this loneliness just only leave me alone.

Não sei se o problema é comigo, com ele ou com nós dois, mas eu não tô conseguindo gostar muito do mundo ultimamente. "Ultimamente"? Digamos, nos últimos 21 anos...

Chato's Land me chama... Adeus, mundo cruel!

E eu quero o Bi no Troféu Sorriso! Quero porque quero! Eu mereço...

* * * * *

"Days up and down they come
Like rain on a conga drum
Forget most, remember some
But don't turn none away

Everything is not enough
Nothin' is too much to bear
Where you been is good and gone
All you keep is the gettin' there

To live is to fly
Both low and high
So shake the dust off of your wings
And the tears out of your eyes"