sexta-feira, 13 de junho de 2008

:: o nosso sol é mixuruco! ::

MOMENTO MUNDO DE BEACKMAN
- ou... temerárias excursões digressivo-científicas -


“O hidrogênio é o mais simples e o mais comum dos elementos. Todos os outros elementos do universo são feitos, em última análise, de hidrogênio, pela fusão nuclear. A fusão nuclear é um processo complicado que ocorre nas condições extremamente quentes do interior das estrelas (e nas bombas de hidrogênio). Estrelas relativamente pequenas, como nosso Sol, são capazes de produzir apenas elementos leves como o hélio, o segundo mais leve da tabela periódica, depois do hidrogênio. São necessárias estrelas maiores e mais quentes para gerar as altas temperaturas necessárias para forjar a maioria dos elementos mais pesados, numa cascata de processos de fusão nuclear... Essas grandes estrelas podem explodir na forma de supernovas, espalhando seus materiais, inclusive os elementos da tabela periódica, em nuvens de poeira. As nuvens de poeira acabam se condensando e formando novas estrelas e planetas, como o nosso. É por isso que a Terra é rica em elementos que vão além do onipresente hidrogênio...” (DAWKINS. Deus, Um Delírio)

Achei espantoso esse trecho do livro pleno de espantos (os gringos diriam mais bonito: AWE INSPIRING) do Dawkins, que tem tantos trechos dignos de comentário que devo fazer várias fases de posts dawnkinianos (uma resenha está sendo rascunhada e ficando preocupantemente gigante... mas nesse assunto a prolixidade é necessária e desculpável). Achei Deus: Um Delírio, que eu devorei em pouco mais de uma semana, um livro realmente formidável, corajoso, duma sagacidade e duma lucidez admiráveis. Num tem um pingo de cu-docismo, de frescura, de ornamento: é um livro de combate daqueles que empolga, fascina e faz pensar em mil coisas, mesmo que às vezes o tom do autor caia perigosamente na "arrogância" de quem vê com um desprezo furibundo as religiões fundamentalistas e os sofismas absurdos da teologia. Mas é um dos poucos casos de best seller de leitura obrigatória - por ser o carro-chefe da nova onda de escritores que combatem o dogmatismo e o fanatismo religioso, pragas que são um dos inimigos mais perigosos da nossa era repleta de homens-bomba e teocracias terroristas.

Esse trecho aí em cima me deu o insight visionário de que o desenvolvimento cada vez mais aprofundado da astronomia e do nosso conhecimento do Universo vai acabar gerando a 4a Grande Ferida Narcísica na Humanidade, como se nosso orgulho já não estive pisado, cuspido e mautratado o suficiente pelos golpes recebidos por Copérnico, Darwin e Freud. Eu fico com a sensação (que gera grande modéstia!) de que não só nosso miserável planetinha minúsculo no Esquema-das-Coisas não é o centro do Universo, mas só uma rochinha rodante no meio de uma imensidão multi-milionárias de outras, como também a nossa pequena galaxinha, coisa bem miúda em comparação com outras, é de segunda classe, de quinta categoria, disputando a série B!

A Revolução Copernicana pode ter abalado nosso moral dizendo que a Terra não era o centro de nada, mas apenas um dentre muitos corpos orbitando ao redor do poderoso astro-rei; mas agora a Ciência vem e nos diz que nem mesmo nos resta o consolo de pensar no nosso Sol como uma Entidade Pimpona, Incrível, Majestosa, a estrela mais linda de todo o Universo, brilhando para nos aquecer e iluminar! Porque nosso sol é um solzinho xoxo! Parece o supra-sumo da incandescência, mas só é quente o suficiente pra quebrar o hidrogênio em hélio, mais nada. Nosso Sol é morninho. Nosso sol é uma melequinha de nariz pegando fogo! Uma miséria! :P

E imaginem só o quão imensamente minúsculos, miúdos e anões somos nós para que um Sol tão meia-boca, e que vai morrer daqui a pouco (que são alguns milhões de anos em escala universal?), pareça algo tão espetacurlamente gigantesco. Divina comédia.

Ainda assim, não corramos a cortar nossos pulsos! Resta poesia no pôr-do-sol, e o calor e a luz dessa nossa amada bolinha de fogo continuam a esquentar e a aquecer, e o verão não será menos curtível por ser um feito de um sol menor, e nem as praias menos frequentadas, nem os picolés menos deliciosos, nem os banhos de mar menos refrescantes, nem as meninas de biquini menos agradáveis de contemplar... Bóra curar nossas feridas narcísicas em banhos de hedonismo!