quinta-feira, 7 de dezembro de 2006


ELOGIO DA SEM-VERGONHICE
ou
minha primeira vez no Teatro Oficina
ou
inventário das minhas vergonhas





(uma egotrip.)


Só é livre quem não tem medo do ridículo.”
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO



Preciso urgentemente me tornar um sem-vergonha. Pode parecer um desejo estranho, quase como dizer “quero me tornar malvado!”, já que é tão comum que a gente use o tal do “sem-vergonha” pra se referir a uma pessoa “desprovida de caráter” – um canalha, crápula, cafajeste ou mesmo filho-da-puta... “Sem-vergonha” sempre foi adjetivo pra fazer juízo moral negativo: “Cê num tem vergonha na cara não, menino?”, diz a mãe quando se irrita com as sapequices e traquinagens do filho e sua falta de “virtudes éticas”... “Esse cara é sem- vergonha!”, cospem as “pessoas de bem” contra os políticos corruptos com milhões de dólares em bancos na Suíça... Ser sem-vergonha, pra quase todo mundo, não é boa coisa. Mas dá pra ver a coisa por outro lado e fazer da sem-vergonhice uma virtude, quase um ideal... Acabou de se tornar um tesouro que eu quero conquistar. Me explico.

Dia desses fui até o
Teatro Oficina pela primeira vez, instigado pela recomendação de amigos de bom gosto e querendo deixar de ser o ignorantão que eu sou em matéria de teatro. Acho que é trauma de infância essa minha birra contra teatro: nas excursões da escola, a gente costumava ser levado pra ver troços tipo o Auto da Barca do Inferno, do Gil Vicente, e ficava lá, boiando feito prancha e não entendendo bulhufas do que os caras no palco tavam falando. E doidos pra que aquilo acabasse logo – porque a única coisa legal de excursão, óbvio, além de perder aula, era zoar no busão. Eu e meus amigos num curtíamos não aqueles atores falando daquele jeito todo falso, todo afetado, todo cheio de frescuras – Cavaleiros do Zodíaco era tão mais legal! E pelo menos a gente entendia as falas... Por que essa negada de teatro falava difícil assim? E pra quê todo esse drama? Sei que cismei que teatro era coisa chata e “elitista”: um monte de gente intelectualzona declamando textos complicados de um jeito todo espalhafatoso e artificial, e nada mais... Virou preconceito arraigado.

E o Teatro Oficina – bendito seja! - serviu como uma baita duma experiência pra meio destruir esses meus preconceitos contra teatro. Nem fui tão confiante assim que fosse ser tão legal – também tinha minhas suspeitas preconceituosas contra Os Sertões, do Euclides da Cunha, livro que eu acho “chato” sem nunca ter lido (apesar de ser ultra-recomendado pra qualquer jornalista...). Mas aquilo ali é um caldeirão de cultura brasileira, de folclore brasileiro; um lance caótico, mistura de orgia, farra, epopéia, sátira, tragédia e ensaio de antropologia; um lance dionisíaco, incoerente, excessivo, barulhento, perturbador; em uma palavra: trimmassa.

Tá, ainda tenho objeções ao lance do texto ser ainda bem contaminado com aquele intelectualismo todo (e aquilo lá com certeza não é teatro “popular”: é teatro pra elite cultural!); mas eu, sinceramente, nem fiquei encanado com o texto – tinha muita coisa mais legal pra observar e curtir: coisas pegando fogo, um monte de gente pelada, umas guerras estrondosas, uns batuques tribais fuderosos, sem falar na formidável Vagina Falante... enfim, um monte de coisas bizarras, intensas e fascinantes desfilando sem parar frente aos meus olhos arregalados, naquele palco-pista em forma de ladeira...

A interação com o público torna tudo excitante e “perigoso”. No Oficina você num pode ficar quietinho no seu canto, não querendo ser incomodado, porque a qualquer momento pode ser solicitado a ir pro palco e improvisar de coadjuvante. E os atores não são lá muito “respeitosos” com o público, não. Um dos atores lá, uma hora, chegou na maior cara-dura e simplesmente lascou um beijo na boca duma moça toda bonitinha que estava bem na minha frente. Achei falta de respeito, mas ela não pareceu se incomodar. Na hora do “ócio-cio-cio-cio...”, os atores puxaram uma boa galera pro palco, deitaram o povo em lençolzinhos e ficaram ali, em carícias altamente íntimas – alguns atores, bem sacanas, se “aproveitaram” das meninas dum jeito que achei até meio “abusivo”, mas deve ser meu moralismo pequeno-burguês falando. A própria integridade física do público nem é garantida. Eu, por exemplo, na hora em que começou uma luta de espadas, com umas faíscas voando pra todo lado, tomei uma bela duma FAISCADA NA CARA, na bochecha direita, não muito longe do meu olho... Na hora quase me revoltei, pensando: “Porra, que falta de respeito! Eu podia ter ficado cego numa dessas...” Mas logo comecei a achar aquela ATMOSFERA DE PERIGO ali dentro como algo ultra-excitante: dentro do Oficina, você não sabe se vai sair inteiro ou com pedaço faltando. A qualquer momento, um ator pode vir e te dar um beijo, sentar no teu colo, te puxar pra farra ou abaixar suas calças e marcar seu bumbum como se você fosse um boi.

Mas o que mais me impressionou, de longe, e é aqui que eu queria chegar, foi a sem-vergonhice dos atores, ou seja, aquela completa falta de pudor... Muitos dos atores ficam completamente pelados durante grande parte da peça e não parecem nem minimamente constrangidos com o fato de que um público enorme pode ficar completamente à vontade pra olhar para seus pipis, bunbuns e xoxotas. E eu fico admirado, pasmo e até meio que “invejoso” ao presenciar pessoas capazes de se deixarem ver desse jeito – porque eu, com certeza, seria completamente incapaz de fazer algo do tipo. Ficar pelado em cima dum palco, tendo que cantar e dançar e correr pra cima e pra baixo, debaixo do olhar de um monte de desconhecidos? Eu hein! Tô fora...

Mas aquilo mexeu comigo, me deixou matutando, me deu até uns “complexos de inferioridade”. Aqueles atores do Teatro Oficina me deixaram me sentindo meio insatisfeito comigo mesmo, querendo me transformar, me auto-revolucionar, me libertar, me tornar uma pessoa mais louca, mais genuína, mais solta, mais desreprimida, mais viva – em uma palavra: mais LIVRE. Do quê? Da vergonha. Do pudor. Do medo do ridículo. Das proteções todas que tenho pra escapar à revelação ao olhar do outro.

Porque eu tive a certeza absoluta, olhando aquilo, que eles eram pessoas mais livres do que eu. Tinham descoberto algum segredo ou truque que eu não conheço e que os deixava muito melhor equipados pra viver a Vida Fodona do que eu... Por quê? Porque eles são sem-vergonha! No bom sentido de ser sem-vergonha! Porque eles sabem se dar ao olhar, e curtir o lance de serem olhados. E nem se trata de gente que, digamos... tem genitálias imponentes (caspiche?) ou corpo sarado... Tem uns caras ali com pipizinho de criança e minas ali que são tábua de passar roupa. E mesmo assim eles estão ali, nuzinhos em pêlo, e porque querem. E isso só me faz admirar ainda mais a coragem deles... é muito mais compreensível que as loironas peitudas dos filmes pornô não vejam muito problema em se exibirem ao olhar com seus corpões, mas aqui é diferente: são pessoas normais, com corpos que não são necessariamente bonitos... e de onde tiram um despudor tão grande? E por que é que eu sinto tanta admiração por eles, pela liberdade deles?

Eu sempre fui muito envergonhado. De tudo. Tenho mil e uma histórias pra contar das coisas antipáticas que eu faço pra fugir de foto, de filmagem e de todo tipo de apresentações públicas. Nunca curti apresentar seminário, fazer pergunta pro professor, fazer discurso em assembléia ou ser o centro de atenções frente ao bolo de aniversário. Pra dizer numa frase: não gosto de aparecer. Ou será que gostaria de gostar, mas não consigo?Aí vão algumas confissões no...


PEQUENO INVENTÁRIO DAS MINHAS VERGONHAS



[1] – FOTO. Nunca gostei muito de ser fotografado. Tenho umas fotos de infância legais, mas da adolescência pra frente eu comecei a odiar sempre que alguém me queria fotografar. Fugia. Me escondia. Teimava que não dava. Tinha certeza que eu ia sair feio, horrível, repugnante. Tinha certeza que ia me sentir sem-graça ao ver o troço revelado. E, rebeldinho que só eu, não queria dizer “cheeeeeese” na hora do click - porque “era muita falsidade” e eu não gostava de”pose”. Achava ridículas as pessoas vestindo sorrisos falsos na cara só pra aparecerem bonitos na foto, fingindo que estavam muito mais alegres do que estavam de verdade. Eu, como protesto, ficava emburradinho e com cara de bravo. E aí, claro, saía ridículo na foto e queimava o filme. Até hoje, não sei como fazer um sorriso falso. Mas de vez em quando, em momentos especiais, quando estou me sentindo muito bem junto a certas pessoas e quero levar comigo uma lembrança, até peço pra que me tirem foto. Mas sempre fico sem graça e inseguro, com medo de sair feio. Saio sempre com cara de bocó. E quando eu peço que me enviem as fotos tiradas, as pessoas, com a maior piedade, pra me pouparem do espetáculo horrível de me mostrarem a mim mesmo, nem me mandam! (Essa foi pra você, senhorita M.! Saí tão feio assim na foto do Campari que cê nunca me quis mostrar, né!? :()

[2] – FILMAGENS. Se de câmera fotográfica eu já fujo como os zumbis fogem da luz do Sol, imaginem de câmeras de vídeo... O-d-e-i-o ser filmado. Lembro da minha época em Bauru, quando tive que passar pelo tormento diabólico de dois semestres obrigatórios de Jornalismo Televisado, sendo quase obrigado a aparecer na telinha segurando o microfone e fazendo reportagem. A Profa. Maria Helena, não sei porquê, meio que se engraçou comigo e tava sempre tentando me convencer a abandonar a timidez. Eu que ficaria tão bonitão ali na tela... Eu que tinha uma voz POSSANTE para ser apresentador... Mas num teve jeito de me convencer e, claro, foram as pessoas mais saidinhas e extrovertidas e “aparecidas” da sala que viraram os apresentadores (se eu me lembro bem, a Giovana, o Edison, o Turolllo, o Joel...). Eu fugia das aulas. E quando ia às aulas eu fugia das câmeras. E quando a professorinha vinha tentar me seduzir, fugia da professora... Cara mais antipático! Se era pra ter um cargo no telejornal, eu queria ser produção! Atrás das câmeras, por favor! Eu trampo de carregador de cabo, de faxineiro de estúdio, de abanador de apresentador em dia de calor, qualquer coisa! Mas não me filmem! :)

[3] – COISAS DA ESCOLINHA. Fui o tipo de criança que tinha quase que uns ATAQUES DE PÂNICO, no 1o grau ou no ginásio, quando alguma professora maldita tinha a crueldade de fazer uma chamada oral, escolher alguém pra ler um texto em voz alta ou fazer um exercício de matemática na lousa. Meu medo era tão grande que me aconteciam todas aquelas bizarras e repentinas transformações físicas comuns aos tímidos e acanhados: começava a tremer como se estivesse de sunga no Pólo Norte; as mãos viravam cataratas de suor; minhas orelhas começavam a arder feito pimenta; o coração parecia que ia explodir, tamanha a taquicardia... Nunca tive problemas de avermelhamento facial, como têm todas as moçoilas recatadas nos romances clássicos que a gente lê, que sempre coram e ruborizam quando são olhadas pelos rapazes galantes... Mas é a única coisa que me foi poupada: me coloquem pra ser olhado por um público qualquer, e eu, apesar de não ficar com a cara vermelha, tenho tremedeira, suarão, orelha vermelha, taquicardia, sem-gracice, gaguejação e tiques nervosos... o pacote inteiro!

[4] – BANHOS EM LUGARES PÚBLICOS. Morro de vergonha de ficar pelado em lugares públicos. Tenho pesadelos recorrentes nos quais a pior coisa que acontece não é um ataque de um assassino ou de um bicho-papão, mas o fato de que eu me descubro nuzinho em pêlo numa piscina de hotel ou numa praia. É terrível. Eu lembro da época que eu fazia natação na TEM Esportes de São Bernardo no Campo, um pouco por necessidade de curar meus problemas de coluna (escoliose braba...), um pouco por gosto mesmo. Na hora do banho eu tinha vários pudores exagerados. Num queria nem morto que me vissem pelado, até porque na época eu era um pré-adolescente (ou nem isso...) que provavelmente ainda nem tinha pêlos púbicos e cujo pipizinho de criança ainda não tinha realizado os devidos aumentamentos, se é que me entendem... :P Eu entrava no chuveiro de sunga, saí do chuveiro todo enrolado na toalha, e na hora de me vestir fazia todo o esforço do mundo pra não deixar ninguém ver nada. Claro que ninguém estava olhando e tentando ver. Mas eu mesmo assim escondia. Era mó alívio voltar a estar com roupas.

[5] – ABORDAGEM LASCIVA DE ESTRANHAS. Eu nunca vou conseguir ser nada parecido com um garanhão, um Don Juan, um “pegador”. Porque eu simplesmente não sei como é que se faz pra abordar meninas interessantes, charmosas, lindas e tesudas que encontro por aí. Eu simplesmente não tenho a cara-de-pau. Normalmente não consigo achar nenhum bom pretexto pra começar uma conversa – os que penso em usar me parecem todos ridículos e sacanas. Tenho medo que me achem um canalha, um tarado ou um mulherengo. Normalmente não sei direito como puxar papo com desconhecidas, especialmente se é uma garota deslumbrante – fico sempre meio acanhado.

Enfim, eu sou um desastre completo. Minha personalidade é uma mistura nojenta de timidez, covardia, medo da rejeição, falta de auto-confiança, complexo de inferioridade, repressão sexual e melancolia crônica por carência afetiva.

Mas chega de confissões, por hora, que eu já tô com vergonha.

* * * * * *

Voltando ao fascínio do Oficina...

Sendo assim do jeito que eu sou, eu sempre invejei um pouco essas pessoas exibicionistas que conseguim curtir e se deliciar com o fato de que estão sendo olhadas – como aqueles atores do Oficina, tão seguros e confiantes em cima do palco, que simplesmente amam ser o centro das atenções... Por que é que eu não consigo? Eu tenho certeza: eu me sentiria terrivelmente desajeitado e sem graça se fosse chamado a subir num palco e ficar ali, debaixo do olhar de dúzias de olhos: pra mim nunca seria uma experiência agradável. Eu estaria rezando pr’aquilo acabar logo, pra que eu pudesse voltar pras sombras... as sombras: minha casa, meu lar, meu lugar...

E isso me faz matutar: o que é que incomoda tanto no olhar do outro a ponto de eu fugir dele desse jeito tão medroso? E claro que a resposta quase certa é: devem ser as nóias com a auto-estima, claro... É sempre com uma certa incerteza e insegurança que eu “enfrento” uma pessoa por nunca poder ter certeza do que é que eu represento pra ela. Os psicólogos lacanianos diriam coisas como: “a principal fonte de ansiedade para o sujeito é o modo como ele aparece no Desejo do Outro” ou algo parecido. E é bem isso. Acho que o ser humano, em geral, nóia (that’s the verb to noiar, folks!) muito com esse lance da Opinião Alheia e tá sempre a encanar: o que será que os outros vêem quando olham pra mim? O que será que sentem por mim? O que desejam de mim? O que é que eu sou dentro dessa pessoa X, da pessoa Y? Que tipo de imagem eles têm de mim?

Olhem o que diz um dos meus filósofos prediletos sobre esse assunto:

"Em tudo o que fazemos ou deixamos de fazer, quase sempre levamos em conta, antes de qualquer coisa, a opinião alheia e, após um exame apurado, iremos notar que dessa preocupação surge quase a metade de todas as aflições e angústias que já sentimos; pois ela está no fundo de todo o nosso amor-próprio...O único meio de nos livrarmos dessa insensatez universal seria reconhecê-la distintamente como tal e, para esse fim, esclarecer para nós mesmos que a maioria das opiniões costuma ser totalmente falsa, invertida, errônea e absurda na cabeça dos homens. Sendo assim, por si só, elas não são dignas de consideração."
SCHOPENHAUER, Aforismos Para A Sabedoria de Vida

Pois bem... quase todos nós vivemos nessa “insensatez universal” que é a preocupação com a opinião alheia, fonte de “quase metade de todas as aflições e angústias que já sentimos”. Todo mundo sabe o que é, e todo mundo já sentiu, aquele medo maldito de que a pessoa não vá gostar de você, não vá gostar da tua cara, não vá te achar bonito ou agradável ou simpático... O medo lazarento de que ali, dentro do outro, surja uma imagem de nós que não é a que queremos ver...

É como se cada outro fosse como um espelho onde vemos refletida nossa imagem – mas cada outro é um espelho diferente, que nos fornece uma imagem diferente, às vezes distorcida, às vezes desagradável, às vezes indiferente, às vezes adorável... Acho até que as pessoas de quem gostamos, no fundo, são as pessoas que, como espelhos de nós mesmos, nos refletem uma imagem de nós como nós queremos ser... Você gosta de uma pessoa quando gosta de como você aparece na consciência dela. Você gosta de quem tem uma imagem de você que coincide com a imagem que você deseja ver...

* * * * *

Em certos momentos, pelo menos no teatro com intenções mais “provocativas” e que se preocupa pouco em “respeitar” o público, os atores costumam fazer aquele “joguinho” de fixar o olhar nos olhos de uma certa pessoa. Sabem como é? No Oficina acontece de vez em quando: o ator pára frente a frente com a pessoa e fica encarando, impassível, imperturbável. Nessa hora ocorre aquela inversão de papéis: quem olhava agora é olhado; o espectador é meio que obrigado a sentir na pele o que o ator está sentindo o tempo todo – a sensação de ser olhado, devassado, perfurado pelo olhar... E é quase uma regra geral: as pessoas no público se sentem meio constrangidas e sem graça quando são “escolhidas” pra serem “encaradas” assim (eu também não curto muito não!)... A tentação de desviar o olhar é enorme. O desejo de que o ator pare com aquilo também é grande. E quando a “brincadeira” termina é quase um alívio... E isso não dá o que pensar?

Por que eles fazem isso? Qual o sentido? Que efeito eles querem atingir com essa “brincadeira”? Querem só nos deixar incomodados e sem graça? Querem só esfregar na nossa cara que eles são muito melhores e mais seguros de si por conseguirem suportar o olhar alheio, e tirarem o maior prazer exibicionista disso, enquanto que nós não temos esse talento nem esse prazer? Talvez eles queiram nos convidar a sermos mais fortes, mais livres, mais genuínos, vivendo sem a trava paralisante do “o que os outros vão pensar?”

Porque com certeza há uma espécie de “exibicionismo” que é saudável e recomendável, um exibicionismo que não é só vaidade, que não se baseia só em falsidade, mas que é algo diferente: essa linda capacidade que alguns tem de se revelarem nus – nus de corpo, nus de alma... – ao olhar do outro. O meu psicólogo predileto, Ernest Becker, costumava dizer que a “hipersensibilidade à opinião alheia” é algo quase patológico, que a auto-estima é fundamental para que a pessoa possa agir alegre e livremente no palco do mundo e que é essencial ter a “habilidade para exibir um ego que os outros possam valorizar” (“put forth an ego that others can value...”). Leiam The Birth And Death Of Meaning, é um baita dum livro.

Por isso toda essa Experiência Oficina soou pra mim quase como um convite à libertação... Do quê? Dessa vergonha maldita. Dessa insegurança. Desse medo da exposição ao olhar do outro, à mente do outro... Eles dizem: você não precisa ser bonitão, sarado, ter o corpo mais lindo desse mundo; pode sim senhor ficar pelado e não ter vergonha de ter o corpo que tem! Não tenha vergonha de quem você é, e de assumir quem você é, e de se deixar ver como você é! Essa deliciosa liberdade de não ter medo do ridículo. Essa deliciosa liberdade de poder dizer: “foda-se o que os outros vão pensar! Foda-se se eu vou parecer ridículo aos olhos deles! Foda-se essa escravidão da timidez, da covardia, do medo! Quero ser eu e me deixar ser eu! Quero viver e me divertir e dançar e rolar no chão e berrar my guts out e fazer coisas loucas, e foda-se se não gostarem!”

Pois então: eu preciso urgentemente me tornar um sem-vergonha!

Abaixo o pudor!

Avante, Oficina!

Viva a sem-vergonhice!

:D