sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
:: os filmes de fevereiro ::
Postado por Unknown às 10:33 |
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
:: into the wild ::
(Into The Wild, EUA, 2007, 140min.)
de Sean Penn
"Oh, it's a mystery to me
We have a greed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free
Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me..."
EDDIE VEDDER
"The things you own... they end up owning you", dizia um raivoso Tyler Durden no Clube da Luta, conclamando seu discípulo a abraçar uma vida mais intensa e mais genuína, distante do materialismo vulgar e do consumismo desenfreado vigente no Império Americano - e no resto do mundo atingido por seus tentáculos malignos. Acatando a sugestão, o personagem de Edward Norton irá colocar tudo o que possui dentro de seu apartamento, deixar o gás se espalhar por cada centímetro cúbico e esperar que uma faísca exploda tudo para o inferno... Tentativa desesperada de escapar de uma jaula que é feita de coisas e coisas e coisas e onde a Vida de Verdade não entra.
Com vinte e poucos anos de idade, Chris McCandless era um jovem privilegiadíssimo: um diploma universitário, a perspectiva de entrar em Harvard, uma família rica pródiga em presentes de luxo, uma poupança de mais de 25.000 dólares... Ele tinha tudo para se tornar um respeitável engravatado, desses que vemos andando por Wall Street e entrando em grifes da elite, encarnação do homem americano que nada contentemente em sua piscininha de moedas de ouro feito um Tio Patinhas...
Mas ele mandou tudo pro espaço, movido por seu próprio Tyler Durden interior. Mandou um cheque com todas as suas economias para uma instituição de caridade, rasgou suas identidades e carteirinhas, desencanou de Harvard e da vida de trabalho assalariado e caiu na estrada para uma aventura de desbravação das incríveis paisagens naturais da América Selvagem - e também de descoberta espiritual. Chris McCandless tinha se tornado Alex Supertramp, o mendigão maltrapilho, o andarilho errante, cujo único lar é a estrada e cujo maior aliado é seu polegar...
Sem informar os pais ou a irmã de seu paradeiro, ele embarca numa longa aventura de dois anos, pegando carona em trens de carga, trampando em campos de milho, fazendo amizade com hippies e cantores folk, enquanto alimenta o sonho de se meter no meio do Alasca para uma temporada vivendo como um completo hermitão, na companhia dos lobos e das longas paisagens desérticas... Chris McCandless, ao se metamorfosear em Alex Supertramp, é como uma borboleta que alça vôo para longe da lama da preocupação material e, ao mesmo tempo um seguidor de Tyler Durden e dos estóicos gregos de 2.000 anos atrás, decide-se a viver com pouco, depender de quase nada e livrar-se de qualquer apego a bens materiais.
Que Chris, ou Alex Supertramp, seja um herói que o filme trata de botar sobre um pedestal é inegável, mas não há excesso de idealização. Se por um lado parece óbvio que Chris está "dizendo coisas que precisam ser ditas, fazendo coisas que precisam ser feitas", fica a impressão de que sua rebeldia chega a um certo exagero e ele cai num isolamento tamanho que destrói sua sanidade e sua saúde. Fugindo completamente da "Sociedade" e da "Civilização", que ele considera (e com razão!) corrompidas pela obsessão do lucro e da posse, dominadas pela hipocrisia e pela politicagem, ele acaba caindo no meio de uma Natureza Selvagem que não tem o mínimo cuidado com suas criaturas.
:: Soneto Antigo ::
Esse estoque de amor que acumulei
Ninguém veio comprar a preço justo.
Preparei meu castelo para um rei
Que mal me olhou, passando, e a quanto custo.
Meu tesouro amoroso há muito as traças
Comeram, secundadas por ladrões.
A luz abandonou as ondas lassas
De refletir um sol que só se põe
Sozinho. Agora vou por meus infernos
Sem fantasma buscar entre fantasmas.
E marcho contra o vento, sobre eternos
Desertos sem retorno, onde olharás
Mas sem o ver, estrela cega, o rastro
Que até aqui deixei, seguindo um astro.
(Mário Faustino)
Postado por Unknown às 09:05 |
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
:: plano de assalto ::
"The crumbs of love that you offer me
They're the crumbs I've left behind."
LEONARD COHEN, Avalanche
Descobri bem cedo na vida, registrei no Diário como se fosse verdade absoluta, quis até patentear a Descoberta Científica: "só consegue ser infeliz quem sonha demais". Essa a velha conclusão, tão cedo tirada, pela vida tantas vezes confirmada... O amargo sabor da vida vivida em comparação com a doçura da vida sonhada - quem o conhece melhor que eu?
"O grande mal do romantismo", dizia o Pessoa, "é querer a Lua como se houvesse maneira de a obter". Pobres de nós, românticos incuráveis, que desejam o Amor Absoluto ou a Felicidade Perfeita como se houvesse modo de as obter! Como se não fossem meras invenções da nossa enlouquecida e enlouquecedora imaginação - pólos magnéticos que atraem sempre à distância, mas que repelem qualquer tentativa de aproximação... Our dreams sail forever on the horizon.
Só consegue ser infeliz quem sonha demais e não encontra na vida alimento para pôr na boca esfomeada de sua maquininha produtora de sonhos, que come tanto combustível e tanta energia... Pobres de nós que temos essas fomes tremendas na alma, daquelas que esgotariam o estoque do supermercado, se existisse para as coisas que faltam dentro e não fora. O triste é que tudo o que mais importa não se pode comprar. Mas talvez mais triste seria se tudo estivesse à venda. No fundo é quase bom que dinheiro seja tão inútil.
Postado por Unknown às 18:21 |
:: boa pergunta ::
alguma coisa pela primeira vez?"
Postado por Unknown às 18:19 |
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
:: outra leitura das férias... um dos livros mais divertidos e pirados que já li! ::
"O Teste do Ácido do Refresco Elétrico"
(The Electric Kool-Aid Acid Test,
trad Rubens Figueiredo, ed Rocco, RJ, 1993)
“Você não vê a coisa se aproximando?
Dez mil jovens das flores, do ácido e da maconha,
anfetamina, cabeleira, coração que sonha,
Dez mil hippies, beats, cabeludos, doidões, todo o bando,
descendo a Haight Street em festa, cantando,
Tilintando os sininhos, colares, mandalas, badalação,
botas de duendes, barafunda, prostrado no chão
Diante do Profeta que retornou para os seus adoradores.
Tudo ao som da ladainha psicodélfica, polifônica gemeção,
Da banda musical dos Festivos Gozadores!”
2. UMA CHÁCARA E UMA VIAGEM DE BUSÃO
Começou mais ou menos assim:
Ken Kesey um dia ficou sabendo que um Hospital Psiquiátrico pagava 75 dólares por dia para voluntários que quisessem servir de cobaias num experimento com drogas que supostamente produziam um estado de psicose temporária. Ken Kesey, que era um cara durão e temerário, achou este um “bico” interessante e topou. Foi aí que, aparentemente, ele teve as primeiras experiências legais de sentir “um orgasmo atrás da retina”, de ter “cinco bilhões de pensamento por segundo” e de “tornar-se uma bola de ping-pong numa enxurrada de estímulos sensoriais” (pgs. 47-48), entre outras coisas que... eram o maior barato, meu.
E depois decidiram que podia ser legal pôr o pé na estrada e viajar doidões pela América inteira, escandalizando os caretas e convidando mais companheiros a embarcarem nas asas do LSD. Os Merry Pranksters, ou Festivos Gozadores, conseguem um busão escolar modelo de 1939, decorado com “todos os tons pastéis fluorescentes imagináveis em milhares de formas e desenhos”, “como se alguém tivesse dado 50 baldes de tinta luminosa a Hironymous Bosch e o mandasse atacar.” (20) E pé na estrada. Neal Cassady, o sujeito que serviu de inspiração para o personagem de Kerouac que estrela On The Road, era o motorista. E Ken Kesey era o mentor, o guia, o carismático líder dos doidões. E lá se foram eles, explorando as estradas da América, mijando em mil postos de gasolina e horrorizando mil Cidades de Gente de Bem por onde passavam - mas que podiam fazer os tiras e as autoridades civis e militares se não era proibido pela constituição agir de modo absolutamente insano e sem-pé-nem-cabeça?
Alguém pode se levantar para dizer: “ora, mas alguém – e alguém Muito Importante! - já teve essa idéia antes!” Mas não – foi Kesey e sua trupe que tiveram a idéia primeiro e os 4 garotos de Liverpool, anos depois, fizeram algo parecido com uma Surrupiação Completa da Idéia Alheia. A fantasia dos Pranksters tinha se tornado a “fantasia do momento” para os Fab Four – e...
“no inicío de 1967, os Beatles tiveram uma idéia fabulosa. Compraram um grande ônibus escolar, enfiaram 39 amigos dentro dele e saíram sacolejando pelos campos da Inglaterra, a cabeça estourando de ácido. Eles iam fazer um... filme. Não um filme comum, mas um filme inteiramente espontâneo, utilizando câmeras de mão, captando a experiência no momento mesmo em que as coisas ocorressem – tudo o que viesse à cabeça – dar pinotes, tagarelar, curtir o lance do momento, o caos visionário – sonhar acordado! Magia negra! Caos!”
Pois então: a boa-nova precisa ser espalhada. Não basta manter o Barato preso dentro de um ônibus maluco. A humanidade precisa gozar da nova maravilha. “Kesey compreende que eles, os Festivos, já possuem a perícia técnica e o equipamento necessário para criar um estado de exaltação mental como o mundo jamais viu, alvoroço total, ligação total, amplificado e... controlado – além do instrumento mais eficiente jamais sonhado para abrir as portas da mente do mundo: qual seja, o LSD de Owsley.” (245)
Não demoraria até que “milhares de garotos se mudassem para San Francisco em busca de uma vida baseada no LSD e na coisa psicodélica.” Quando as autoridades finalmente se preocupam, já é um tanto tarde demais. No dia em que o ácido é proibido por lei na Califórnia, há uma baita duma festa que levanta um dedo médio enorme para o que acaba de ser decretado: “e milhares vieram correndo se amontoar ali, vestidos a caráter, tilintando sininhos, entoando cânticos, dançando em êxtase, jogando a cabeça para um lado e para outro e acenando para os guardas com seus gestos satíricos favoritos, jogando flores sobre eles, sepultando aqueles filhos da mãe sob tenras e sumarentas pétalas de amor. Ah, Jesus, a coisa foi fantástica, mil cabeças num mesmo barato, milhares de cabeludos pregando o amor e deixando confusas as mentes dos guardas e de todo mundo com aquela celebração de amor e euforia.” (18)
4. UMA RELIGIÃO?
Kesey até entra numas ondas de Messias. “Estamos agora num período igual ao que São Paulo viveu no início do cristianismo”, disse ele num momento em que aparentemente nem estava chapado. “São Paulo diz que se eles sacaneiam a gente numa cidade, a gente se muda para outra, e se sacaneiam a gente nessa outra, a gente se muda para outra...” Espalhando a boa nova para os irmãos!
“Na verdade, nenhuma das grandes religiões, cristianismo, budismo, islã, jainismo, judaísmo, zoroastrismo, hinduísmo, nenhuma delas começou partindo de um sistema filosófico ou sequer de uma idéia central. Todas começaram com uma irresistível experiência nova, aquilo que Joachim Wach chamava 'a experiência do sagrado', e Max Weber, de 'possessão da divindade', a sensação de ser um vaso no qual o divino é vertido.” (137) Não há muita diferença entre a Experiência Mística e a Experiência Psicodélica, eis o ponto.
O caminho de Leary enveredava no sentido da fundação de uma nova religião, nos moldes budistas, com o LSD sendo idolatrado como um Possibilitador de Contatos com o Divino e de União com o Todo. Tom Wolfe brinca que dizendo que, para Leary, “nossa casa devia ser um lugar de pureza, um local em que o próprio Gautama Buda poderia entrar com naturalidade, vindo do ano 485 a C, e se sentir em casa. Pois vai chegar o dia em que o mato voltará a crescer nas ruas, numa pureza pastoril, pois a vida é uma merda, um cárcere de carmas ruins, uma interminável luta contra a catástrofe, a qual só se pode evitar mediante a completa purificação da alma, completa passividade, em que a pessoa se converte em nada... mas, ao mesmo tempo, um receptáculo do Todo...” (382)
“...a gente acaba vendo as coisas por um outro olho completamente diferente. Todos nós temos uma boa parte da mente trancada. Ficamos banidos de um mundo que nos pertence. E essas drogas parecem ser a chave que abre essas portas trancadas. Quantos? - talvez uma dúzia de pessoas no mundo todo tinham conhecimento deste incrível segredo! Uma dela era Aldous Huxley, que tomara mescalina e havia escrito a respeito no livro As Portas da Percepção. Ele comparou o cérebro a uma 'válvula de escape'. Na percepção comum, os sentidos enviam uma estonteante carga de informações para o cérebro, que as filtra muitas vezes até que por fim restam apenas ínfimas gotas, as quais ele pode manejar com segurança a fim de garantir a sobrevivência em um mundo intensamente competitivo. O homem se tornou tão racional, tão utilitário, que essas gotas se tornam cada vez mais ralas e insignificantes. Para a mera sobrevivência, o sistema é eficiente, mas aniquila a parte mais maravilhosa da experiência potencial do homem, sem que ele sequer saiba disso. Ficamos banidos de um mundo que nos pertence. O homem primitivo pôde desfrutar com plenitude a rica experiência das torrentes do fluxo sensorial. As crianças têm essa experiência por alguns meses – até que o treinamento 'normal', o condicionamento, fecha as portas para esse outro mundo, em geral para sempre. De algum modo, disse Huxley, as drogas abriram essas portas ancestrais. E, através delas, o homem moderno pode afinal descobrir em si um dom e um privilégio divinos...” (52)
Postado por Unknown às 20:00 |
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
:: testando o imeem! ::
A Casey Dienel, the dearest peach on my dream-girl collection, está de volta. Ela agora atende pelo nome de White Hinterland (sexy!) e tem o lançamento de seu novo álbum previsto para Março agora. A Rabisco acabou por falir (!) depois que eu saí assinando matéria de capa (sintomático!), mas o cadáver de tão bacana revista eletrônica ainda está exposto no http://www.rabisco.com.br/, com a velha entrevista que fiz com a mocinha ainda por lá. Quem não se alembra, colem lá!
(tá funfando aí o imeem?)
Postado por Unknown às 15:02 |
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
:: defender a alegria ::
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
defender a alegria como um princípio
defendê-la do assombro e dos pesadelos
dos imparciais e dos neutros
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias
defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e da angústia
da obrigação de estar alegre
defender a alegria como uma certeza
defendê-la da óxidação e da mesquinharia
da famosa pátina do tempo
do cinismo e do oportunismo
dos proxenetas do riso
defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos clamores e das mágoas
do acaso
e também da alegria.
(Defesa da alegria, Mário Benedetti)
[Mais um trecho que surrupiei do Orkut da minha miguxa Él - muito bom o blog da guria! Certos scrapbooks são mó voyeurismo muito bem recompensado! :]
Postado por Unknown às 08:24 |
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
:: o amor acaba ::
:: verbos bonitos ::
“...eles se amavam, isto é, se reduziam e ampliavam, exercitavam-se, aprendiam-se, compunham-se, desvirtuavam-se, desabriam-se, sobreexcediam-se, transpunham-se, inventavam-se, pressupunham-se, imparcializavam-se, acolhiam-se, desviviam-se, pastavam-se, intercediam-se, subentendiam-se, verdeciam-se, desentristeciam-se, revertiam-se, entreconheciam-se, corrigiam-se, afluíam-se, definiam-se, consentiam-se, compungiam-se, ingeriam-se, traduziam-se, reagradeciam-se, surpreendiam-se, engrandeciam-se, resolviam-se, socorriam-se, riam-se, mordiam-se, dissolviam-se, imortalizavam-se, encapelavam-se, responsabilizavam-se, inflacionavam-se, transfiguravam-se, recuperavam-se, participavam-se, esperançavam-se, frutificavam-se, escravizavam-se, libertavam-se, animalangelizavam-se – pois o amor, visivelmente, é cego.” - in: O Amor Acaba.
Postado por Unknown às 00:01 |