domingo, 25 de junho de 2006




AMERICAN NIGHTMARE
(uma introdução à literatura do Poeta dos Losers
e mestre do Romance Noir, David Goodis)



A Editora L&PM acaba de colocar no mercado nacional 4 livros do romancista americano David Goodis (1917-1967), um dos maiores expoentes da chamada Literatura Noir no século 20. Apesar de ser colocado no mesmo balaio que caras como Raymond Chandler e Dashiell Hammett, a obra de David Goodis também detêm certas semelhanças com a dum Jack Kerouac, dum Henry Miller ou dum Charles Bukowski - principalmente com este último. À maneira do velho Buk, as páginas de Goodis estão repletas de histórias envolvendo mulheres, bebedeiras e tragédias da vida cotidiana, se bem que de um modo mais sombrio e um humor mais negro. Com a publicação de A Lua Na Sarjeta, A Garota de Cassidy, Sexta-Feira Negra e Atire No Pianista! (que virou clássico da nouvelle vague francesa nas mãos de François Truffaut em 1960), o público brasileiro tem agora a oportunidade de mergulhar nos escritos de Goodis e descobrir um autor de grande talento, dotado de um lirismo cru, de uma concisão sem firulas e capaz de descrições tão vívidas que chegam a ser “cinematográficas” – dá pra “assistir” a um romance do cara (que trampou como roteirista em Hollywood nos anos 50) como se fosse um filme - e dos bons.

David Goodis é mestre em descrever ambientes suburbanos tenebrosos onde perambulam sem rumo alguns personagens outsiders, alcoólatras, noctívagos e sempre às beiras de cometerem atos de violência - contra os outros e contra eles mesmos. Alguns aproveitaram para apelidá-lo como O Poeta dos Losers - definição nada má. No mundo em que habitam os personagens de Goodis, as ruas são todas imundas e com o calçamento ferrado; as casas sempre miseráveis e arruinadas; lá fora quase sempre impera uma melancólica noite enluarada; e os personagens, na maior parte do tempo, passam o tempo no bar enchendo a cara de uísque barato, arrumando brigas por qualquer ninharia e conversando, rabugentos, sobre como a vida é uma desgraça. Ou seja: algo como o equivalente literário das canções do Tom Waits ou do filme Farrapo Humano, de Billy Wilder.

Quando eu tento a imaginar a cara e o jeitão dos (anti)heróis goodianos, sempre fico achando que eles todos têm o rosto de Humphrey Bogart e tanto ódio de suas cidades quanto Travis Brickle, o inesquecível taxista interpretado por De Niro no clássico noir Taxi Driver do Scorcese. Os protagonistas goodianos costumam ser durões, sempre se metendo em tretas e se abandonando à pancadaria com esposas e namoradas, mas no fundo tem uma alma cheia de ternura e quase sempre atormentada pela angústia e pela culpa. Parecem violentos e cruéis, mas a verdade é que estão simplesmente perdidos e tentando achar seus caminhos - e sempre em vão. Passam pelo mundo de cabeça baixa, como se estivessem "viajando pela vida com um bilhete de quarta classe"... CONTINUA... QUERO LER O RESTO!