terça-feira, 3 de outubro de 2006


Don't put your trust in walls,
cause walls will only crush you when they fall...
* * * *
I've been to hell and back so many times
I must admit: you kind of bore me!
* * * *

Lay with me in your thinnest dress
Fill my heart with each caress
Between your blissfull kisses whisper
Darling, "is this love?"


Desde o meu queridíssimo O, disco de estréia do Damien Rice, que eu não encontrava uma pérola de indie-folk sensível e sentimental que eu curtisse tanto, com tanta facilidade, tão sem esforço... Esse Till The Sun Turns Black, segundo disco do Ray Lamontagne, entrando de cara no meu Top 5 discos do ano, vem pra confirmar o talento transbordante que já estava em todo lado do Trouble (2004), disco que, quietinho quietinho, acabou vendendo 250.000 cópias.

O som do Ray mescla um pouco blues das antigas, de folk classicão, de doçuras indie, com alguns elementos jazzísticos, e depois afunda tudo isso num "ambiente sonoro" caloroso, sossegado, melancólico, algo deliciosamente tristonho e aconchegante. É bonito do começo ao fim, a cada dedilhado do violão, a cada progressão de acordes, desde as músicas simples e nada ambiciosas ("Gone Away From Me" e "Barfly") até as mais sofisticadas e poéticas ("Be Here Now", "Lesson Learned", "Till The Sun Turns Black").

Me lembra bastante Nick Drake (principalmente quando entram as orquestrações), Elliott Smith (pela timidez e pela doçura da cantoria) e Damien Rice (em todos os aspectos). Ray tem sim uma voz poderosa, que chega até lembrar a do Van Morrison, e dá um show de canto em músicas mais agitadinhas e gritadas como "Three More Days", mas na maior parte das vezes prefere cantar baixinho, quase aos sussurros, deixando o final dos versos quase surdos, como quem faz um degradê pra baixo, em direção ao silêncio. "Can I Stay?", por exemplo, uma música de amor suplicante, é uma das coisas mais doces e meigas que eu já ouvi - e tenho andado pelas ruas a cantarolá-la baixinho, dia a dia, sem cansar... (Até gravei uma versão tosca com meu violãozinho...)

Disco bom pra dias nublados e frios, quando tudo o que você quer é ficar em casa, debaixo das cobertas, chocolate quente em mãos, soltando fumaça pela boca e curtindo uma solidão. Disco bom pra quando você tá precisando de abraço e de abrigo e, na falta de uma pessoa pra te dar isso, procura aconchego nas ondas sonoras... Tô ficando piegas.

É que eu não tenho cura: sempre vou achar que as músicas tristes são as melhores. E nem quero mais me livrar dessa minha mania eterna de ser melancólico: porque se ser triste pode ser assim tão gostoso, e se eu tenho uma trilha sonora dessas pra acompanhar todos os meus doces tormentos, eu já me decidi: não, eu não quero ser feliz... :)


STYLUS - MY SPACE - RAY LAMONTAGNE.COM - AMG.