sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

:: aborto poético ::

MINERAÇÃO
klee.


"what's so impressive about a diamond
except the mining?"
(fiona apple)




Se eu gosto da vida?
Não muito.
Gosto só da felicidade
(mas a vida tem tão pouco dela...)

E nascer é como entrar numa mina enorme e escura,
sempre ameaçada de desabamento,
e onde, na semi-escuridão e na quase-asfixia,
tateando pelas paredes e tropeçando pelas pedras,
duramente mineiramos em busca de algum diamante bruto.

Frequentemente não encontramos
E para casa voltamos
com a sensação
de ter obrado em vão.

A vida é esta imensa caverna onde entramos,
com pequenos archotes em punho,
que mal desfazem as trevas,
com a esperança de que ali dentro,
escondido em algum canto,
há o baú dos tesouros que chamamos de felicidade
só para ter do que chamar essa nossa utopia.
Essa nossa alucinação.
Essa nossa loucura.

E vamos doidos atrás do prêmio prometido,
achando vez ou outra, pelo chão,
um grãozinho de ouro,
um estilhaço de diamante,
um pedaço de luz.

E isso nos dá a esperança de continuar a buscar.
Continuamos não por estarmos a ganhar,
mas por crer que os amanhãs irão cantar.

Mas todo hoje foi ontem um amanhã...
E os hojes só cantam tão raramente!...

São vinte mil léguas submarinas navegadas
em busca do peixe dourado...
É uma peregrinação de décadas
rumo à Terra Prometida...
Uma sala de espera de um médico
que sempre adia o atendimento...
Um trabalho sujo e de pouco salário,
numa fábrica de onde sabemos
que seremos despedidos, no final.

(...)

O que há de tão impressionante na felicidade
Exceto a mineração?