quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

< r.f.s.: fiona apple >


FIONA APPLE
"When The Pawn Hits The Conflits He THinks Like A King..."
(1999)

À primeira vista, Fiona Apple parece ser somente mais uma dessas cantoras americanas que estouram nas paradas com um hit, são colocadas debaixo dos holofotes da imprensa por uns meses e são logo despejadas sem compaixão no moedor do esquecimento. Processo semelhante ocorre frequentemente com uma série de garotas, normalmente mais dotadas de qualidades sensuais do que de verdadeiros talento descomunais, diga-se de passagem, que gozam de uma popularidade volátil e que sofrem desaparição rápida. Lembram da Meredith Brooks (“Bitch”), da Natalie Imbruglia (“Torn”), da Joan Osbourne (“One Of Us”), da Jewel (“...”)? Todas elas cravaram um hit pegajoso nas rádios, brilharam por alguns instantes no firmamento das semi-pop-stars e logo deslizaram pra longe das vistas de todos, num piscar de olhos, quando a amnésia coletiva induzida pela indústria cultural se apossou de nós...

O fato é que lá em 1996, após a explosão do fenômeno Alanis Morissete e os milhões e milhões de cópias vendidas por Jagged Little Pill, primeiro disco da canadense, as grandes gravadoras estavam à caça de novas cantoras "confessionais e adultas" para seu rol de artistas potencialmente lucrativas. Quando o mainstream foi tomado de assalto por uma Fiona Apple de 19 anos, ela apareceu aos olhos de muitos como mais uma one hit wonder pronta a ser rapidamente descartada. Puxado pelo mega-hit “Criminal”, estrondoso sucesso na MTV americana, o disco de estréia de Fiona, Tidal (1996), subiu como um foguete pro topo da parada da Billboard e vendeu mais de três milhões de cópias só nos EUA.

A lei da indústria cultural, como se sabe, é fazer com que o público esqueça rapidamente os artistas da moda para que venham os próximos na fila dos 15 minutos de fama... Fiona Apple parece ter sofrido um pouco com esse processo: passado seu período de pop-star, seus discos meio que pararam de ser comentados e ouvidos... Injustiça tremenda. Eu aqui, fã declarado da mocinha, percebo tanto talento transbordante nos dois álbuns que Fiona lançou até hoje que acho que já é tempo de retirá-la da gosma amnésica em que ela parece engasgada há tempos. Tidal e When The Pawn..., seus dois discos, certamente não merecem ser deixados pra trás como efêmeros fenômenos pop que, após seu fugaz período de cintilação, hoje não tem mais nenhum interesse. Não, esses discos não foram somente passageiros rápidos no avião do hype; vieram pra ficar. Mais ainda (guenta papa-pauzice braba agora): essas duas pequenas pérolas têm qualidades suficientes pra que possam ser ouvidos daqui a 10 ou 15 anos sem que tenham perdido quase nada de seu vigor e interesse. Fiona Apple, além de ter uma voz abençoada, é uma compositora com o dom da perenidade, uma poetisa bem acima da média, uma artista genuína que parece realmente fazer música com suas próprias entranhas. Vejo ela como uma Sylvia Plath ou uma Clarice Lispector da música pop. Um óasis miraculoso no deserto estéril do pop. LER TUDO!