sábado, 18 de junho de 2005

resenha fresca saindo.

...TRAIL OF DEAD
"Worlds Apart"
(interscope records, 2005, importado ou MP3)

Toda uma série de rótulos espertinhos podem ser empilhados pra tentar descrever o som desses texanos malucos do ...Trail Of Dead: "um Sonic Youth endemoniado". "Um My Bloody Valentine mais machão". "O Nirvana do emo". "O The Who ressuscitado nos anos pós-grunge". "O que o Mogwai seria se tivesse colhões". "Glenn Branca para leigos". "Slint rebelado contra a sonolência". E vai embora... Mas o duro é que eles, no fundo, não se encaixam direito em nenhum estilo preciso dentro do universo vasto demais do chamado "rock alternativo". E mais: são ambiciosos e "climáticos" demais (PROG, pois não!) para serem hardcore-punk. Não tem suficiente sentimentalismo e letras românticas pra serem EMO de verdade. A barulheira que fazem não é pesada e metida a malvada o bastante para ser METAU (apesar do jeitão de death metal da capa do disco novo). São "difíceis" demais pra cair no novo-rock mainstream de Strokes e Franz Ferdinand. E a violência é demasiada para os ouvidos indie sensíveis demais, acostumados ao Belle & Sebastian e ao Iron & Wine com seus murmúrios e sussuros... O Trail of Dead paira então num vácuo conceitual: nenhum rótulo se prega neles com perfeição, nenhum é capaz de esgotar o som da banda. O mercado, por sua vez, não sabe ao certo o que fazer com eles: apesar de estarem lançando seu segundo álbum por uma grande gravadora (Interscope), ainda estão relegados ao status de banda cult de baixa vendagem.

No passado, os caras chegaram a fazer certa fama pela trilha de guitarras, baixos, baterias, cabos e microfones que mataram sem piedade, todos deixados aos frangalhos nos palcos deste nosso mundo que tiveram a honra de presenciar alguns dos pandemônios deadianos LIVE. Até mesmo remotos municípios caipiras desse nosso Brasil tiveram a honra de receberem shows do TOD (e, segundo relato de um certo são-carlense, foram fodidamente bons). A imprensa mundial concordou em dizer que as performances ao vivo dos garotos estavam entre as mais explosivas já vistas e não faltaram várias comparações feitas entre o Trail of Dead ao vivo com os shows da fase mais enérgica do The Who, aqueles que sempre acabavam com o esmigalhamento dos instrumentos de Pete Townshend, Keith Moon e John Entwhistle num delírio destrutivo que depois muita gente se pôs a imitar... Em estúdio, a banda parece nunca quer conseguido capturar toda a energia dionisíaca que (dizem...) emanava dos palcos, mas cravaram pelo menos um clássico álbum na história da década 00 com o disco anterior, Source Tags and Codes. Enfim, o Trail of Dead, no pós-Nirvana, foi uma das poucas bandas raivosas, malditas, explosivas e catárticas (as outras sendo, talvez, o At The Drive-In e Queens of the Stone Age), que conseguiu preencher a sede de violência da juventude com GUITARRISMOS CATACLÍSMICOS e vocais de rasgar as cordas vocais. E mais: pra delícia dos indies, ficava claro que uma banda com um nome desse tamanho não estava lá muito fim de ser extremamente popular.

Esse Worlds Apart (Interscope Records, importado, 2005), quarto álbum da banda, chega com a difícil missão de tentar atingir altura semelhante a de seu predecessor, o celebrado épico indie-emo-punk-pinkfloydesco (!) Source Tags and Codes, um dos grandes lançamentos de 2002. Numa primeira ouvida, o fracasso parece evidente. Source Tags... era um disco mais excitante, mais enérgico, mais urgente, mais coeso. Tão fudido de bom que promete ficar definitivamente como a obra-prima insuperável da banda. Mas a comparação com o passado não serve apenas para empalidecer a atual fase do Trail of Dead: Worlds Apart mostra sim que a banda está explorando novos horizontes sônicos e indo muito além dos sonic-youthianismos ortodoxos que preenchiam os 2 primeiros discos. O certo é que a banda não estagnou na fórmula VAMOS XEROCAR O SONIC YOUTH E TACAR MAIS SANGUE E MEMBROS DECEPADOS POR CIMA e ousou trilhar novas estradas. Os garotos que copiavam os ídolos se tornaram definitivamente uma banda única que, após ter comido e reprocessado centenas de bandas de guitar rock barulhento, vomita um som que não é paga-pau ou plagiador de nenhuma delas. . . QUERO LER TUDO!