quinta-feira, 30 de junho de 2005

oh, baby, i was born to lose...


"The schools don't teach you nothing you'll ever need to know. So why even go? Why even try?" BICYCLE THIEF - "Aspirations"

(é ISSO o que eu chamo de uma bela duma DIARRÉIA MENTAL.)

Agora a porra do COPO transbordou com a FÚRIA acumulada e reprimida! Oh, não, Duduzinho, seja bem comportado, um filósofo praticante da SERENIDADE e do DESAPEGO, um homem que controla seus ÍMPETOS e seus ARROUBOS! Ah, mas que vá se foder a desgraça da CONTENÇÃO, esse contínuo APERTAR do círculo do CU para impedir as merdas de saírem, pois agora vou XINGAR sim, vou DAR VAZÃO AOS MAUS SENTIMENTOS sim, vou descarregar murros pra cima do travesseiro sim! Eu FRUO HORRORES com uma boa duma CATARSE!

Então toma: agora que está no fim, já dá pra dizer seguramente que essa BOSTA dessa FACULDADE foi um lixo desde o começo! A gente tem umas ilusões tão ingênuas sobre o que significa entrar para a universidade quando está lá fora... Pensamos que estamos adentrando num local praticamente SAGRADO, o mais vasto dos DEPÓSITOS DE SABEDORIA que há neste mundo depois das bibliotecas, o REFÚGIO onde encontraremos muitos homens sábios que nos ensinarão muita coisa de útil para nossas vidas... Não, porque a Universidade é o local onde se eleva o espírito humano até os CUMES do Conhecimento mais vasto, da Sabedoria mais refulgente! Não, porque a Universidade está repleta de estudiosos com mestrados e doutorados, PROVA EVIDENTE de que se tratam de pessoas muito admiráveis, seres humanos fantásticos! Não, porque a Universidade...

Achamos que começará uma NOVA ERA: aquela das aulas dificílimas, mó alto nível, ministradas por grandes gênios, mestres de inteligência descomunal, donos dessas coisas espantosas que são os mestrados e doutorados (que só são dados mesmo para pessoas muito geniosas, como todos sabem!), e que vamos ter que nos esforçar imensamente pra conseguir acompanhar todos os raciocínios complexos e todos os textos herméticos que nos pedirão pra ler, e que ao fim do processo, como quem sai de um BANHO DE ÁGUA BENTA, estaremos renovados, muito mais inteligentes, muito mais prontos para a vida, após esse período em que ganhamos tanta sabedoria e tanta inteligência, a universidade...

Esperar por isso e receber... esse cursinho chumbrega, fubengoso, meia-boca, lazarento, morfético, tísico, leproso, capenga, enojante! Quanta chatice! Quanto PALAVRÓRIO ESTÉRIL! Quantos professores incompetentes e vagabundos que insistem em explicar o que todos já sabem ou que adoram discorrer sobre aquilo que não tem nenhuma importância! Juro que conheci um especialista em fontes serifadas que era capaz de discorrer por uma hora inteira (pouco importam que tenham sido 20 minutos, pra mim foi uma hora!) sobre as vantagens que as fontes serifadas oferecem para a leitura, razão pela qual elas devem ser preferidas sobre as fontes que não contêm serifa. Há quem diga que é informação im-pres-cin-dí-vel. Deus meu, nunca fui bom na arte de reconhecer essas... imprescindibilidades! Juro que nos fazem passar por seis meses daquela peste que é a (veja que nome pomposo) Metodologia do Trabalho Científico, onde insistem em nos enfiar goela abaixo aquela imensa FRESCURADA DE MERDA que serve pra padronizar todos os trabalhos publicados dentro da Academia. Seis malditos meses, quatro horas semanais! Teve até um que um dia que nos explicou o que é a unha e o rodo. É isso mesmo: a unha, o rodo. Juro por Deus que não invento nada.

"Essa é sua vida, e ela se acaba a cada instante...". Ai, ai.

O que a gente aprende na faculdade, principalmente, é que qualquer imbecil bitolado, mal-humorado e chato o bastante para ser todo formalzinho e burocrático consegue arranjar uma porra dum status de mestre ou doutor, o que obviamente não prova absolutamente nada sobre seu valor humano ou sobre a saúde de seu cérebro e de seu coração... Grande bosta que cês tenham esse desgraçado desse documento comprovando que são muito mais inteligentes e muito mais sábios do que os outros! Isso os dispensa de o serem verdadeiramente, já que o papel já o comprova? Isso os dá o direito de CHAFURDAR na lama duma VANGLÓRIA IMBECIL e totalmente DESCABIDA? Isso os dá o direito de serem RIDICULAMENTE INCOMPETENTES, já que o quadrozinho na parede já demonstra para o mundo quão competentes vocês são? Isso dá o direito de olhar de cima para o alunado, como se fosse indubitável o QUÃO SUPERIORES vocês todos são?...

Mas NEM FODENDO que vocês conseguiram me fazer ganhar gosto pelas coisas sem importância. E olha que TENTARAM! Ô se tentaram! Exaustivamente! Até não poder mais! Parece que a Universidade é um imenso TROTE de quatro anos em que uns palhaços disfarçados de professores tentam nos fazer crer que TODO AQUELE AMONTOADO DE TOLICES e INUTILIDADES é muito útil e muito bom! Grande merda saber que as fontes serifadas facilitam a leitura! Grande bosta saber abrir e fechar o diafragma! Grande cocô saber que as regras da ABNT sobre citações exigem que se faça sei lá que porra! Grande vômito esse monte de formalidades que vocês nos enfiam goela abaixo para que façamos o jornalismo mais mecânico, mais pouco criativo desse mundo! Grande putrefata estupidez essa de querer que sigamos as regras, os modelos, as ordens, o que já foi jeito, o que está consagrado pela tradição!
Grandes professores esses que só desejam ensinar os alunos a continuarem a fazer do jornalismo a coisa mais chata da terra! Por mil caralhos, quem SUPORTA ler uma porra dum jornal? Quer coisa mais ENFADONHA, mais FRIA, mais MORTA, mais ESCROTAMENTE fedente à cemitério? Sei lá o que estou fazendo no curso de jornalismo! Sei lá o que estou fazendo nesse mundo! Nunca gostei de ler jornal em toda a minha vida! Nunca dei a mínima! Ah, não, o jornalismo fede, fede, fede... Tudo que eu queria era a liberdade para escrever, a página em branco frente a mim para que eu pudesse brincar de deus, a caneta em mãos para escrever meu próprio destino... E é dentro do jornalismo que nos deixam escrever o que queremos, não é? Êita ingenuidade. Não sou uma porra dum jornalista e nunca vou ser! Mesmo que me forme! Se for pra ser alguma coisa, digo que sou escritor, que sou vagabundo, que sou mendigo, que sou quase um cadáver, que sou aquele que vive dentro do sonho do rock and roll... Se for pra ser alguma coisa, prefiro ser palhaço de circo, profissão muito mais nobre... pelo menos DISSEMINA A ALEGRIA, coisa que o jornalismo e os professores de jornalismo nunca fizeram! E, ah, meus amigos, eu nem precisaria dizer isso, mas direi: viver sem alegria não vale a pena!

E querem nos enfiar no molde... Querem por tudo nesse mundo nos tornar chatos e burocráticos! Querem um jornalismo sem um pingo de emotividade, sem um grão de poesia, sem nada de CONTAMINAÇÃO PESSOAL, um jornalisminho que dá lá suas informaçõezinhas para que as pessoas tenham assuntos chatos para suas conversas chatas em suas vidas chatas! Ler jornal diariamente já fez de alguém uma pessoa melhor, mais sábia, mais amorosa, mais capaz de viver a vida alegremente? Grande merda, o jornal! Vou começar a limpar a bunda com o jornal! Se bem que não é lá muito boa idéia, pensando bem: seria usar um papel higiênico já cheio de merda! Merda letrada!

Ah, não, caros professores, vocês não fizeram muito por mim, pela minha vida, pela minha sabedoria! Não tenho nenhuma gratidão a vocês (com raríssimas exceções)! Tudo o que vocês fizeram foi me contaminar a vida com suas chatices, suas incompetências, suas vaidades tolas, suas "especialidades" bitoladas! Mais vale o conhecimento do que a informação. Mais vale a sabedoria ao acúmulo de detalhezinhos sobre pormenores tolos. Não, eu quero a poesia, quero a arte, quero o êxtase dionisíaco do criador, quero guitarras distorcidas, páginas sangrentas, quero o abismo e o vulcão! O mundinho de vocês é muito seguro, muito higiênico, muito certinho, imensamente chato, chato, chato...

Há quem imagine o inferno cheio de fornos crematórios, de gente assada viva nas fogueiras, de condenados sendo torturados com tridentes e arpões e cozinhados em chapa quente. Eu não. Eu imagino o inferno lotado de salas-de-aulas, um imenso e fumegante labirinto delas, e nunca se pode sair da sala-de-aula, e dentro delas sempre há um professor com mais de 60 anos de idade, aquele insuportável fedor de mofo, de formol e de naftalina pairando no ar, e ele não pára de falar e falar e falar sobre coisas que não me interessam. E também imagino Deus, como se não bastassem de desgraças, olhando tudo de cima de uma nuvemzinha sobre o labirinto das salas de aula, e dizendo "isto não está certo!", "vamos, comporte-se!", "disciplina, meu jovem!", "assim você vai parar no inferno!", tudo ao som de harpas ou (o que é ainda pior) de Bee Gees. Inferno.

A maior tentação é a desistência. Mas não SUCUMBI. Não por estar gostando, claro; mais por inércia. Fui deixando ir, deixando estar. Quando tamos no primeiro ano, dizemos a nós mesmos: ano que vem melhora. Quando tamos no segundo... ano que vem melhora. Aí, no terceiro, percebendo que tudo continua a mesma bostinha, dizemos: ah, já passei por bastante, dá pra aguentar mais um pouco, já está acabando. Assim vamos, suportando. "Só a esperança, em toda vida, disfarça a pena de viver, mais nada...", dizia o poeta. Acho melhor inverter: "Só a esperança, em toda vida, CRIA a bosta da pena de viver, mais nada". À glória do sponvillianismo.

O importante é não levar o troço tão a sério. É uma doença mental, a seriedade. Tem as psicoses, as neuroses, as esquizofrenias, as depressões, os sado-masoquismos, e tem também as seriedades. Palavra de doente. Pelo menos essa faculdade me ensinou a levar tudo um pouco menos a sério. Eu, que costumava ser tão bom aluno, um garoto muito direito e muito comprometido, tão bem comportado durante as aulas, que nunca era recriminado por conversar demais (isso certamente não!), sempre com notas bastante altas, enfim me permiti andar pelo mau caminho, por assim dizer. Claro que a ausência de papi e mami nos permite tomar certas liberdades que não teríamos coragem de tomar na presença deles. É uma das vantagens de conquistar a independência: você pode faltar às aulas como se fosse um doente terminal e não há ninguém pra te encher o saco e pra te recriminar por estes "atos irresponsáveis". Quantas vezes nesses anos o Dilema do Despertador não me fez escolher a cama ao invés do mundo! Todos conhecem esse dilema: quando o despertador apita no meio da madrugada (e sete da manhã é sempre madrugada), a gente se coloca na encruzilhada: devo me levantar e ir enfrentar a porra do mundo ou fico aqui deitado no meu mundinho? Fiz muitos acordos com o despertador durante esses anos: caro despertador, só vou dormir mais dez minutinhos! (e aí a gente acorda às onze da manhã dizendo ooooooooops! Foi sem querer querendo!)... caro despertador, durmo hoje, amanhã me levanto! (e às vezes a gente dorme hoje, dorme amanhã, e se desculpa dizendo que não há mesmo muita vantagem em acordar...).

Desde muito cedo deixei de levar essa faculdade a sério. Desde muito cedo percebi que não estava aprendendo nada de fundamental nas aulas e que eu era sempre tomado por aquela maldita sensação de PERDA DE TEMPO ali dentro. Comecei a faltar nas aulas direto, comecei a não fazer nenhuma das lições de casa (surpreendido por descobrir que elas ainda existiam...), fui seguindo em frente no maior relaxo e no maior desleixo. Não me envergonho disso. Finalmente consegui ser um dos piores alunos da minha classe. Eu, que nunca tinha ficado de recuperação em toda minha vida escolar, comecei a manchar bonitamente meu histórico escolar com cincos e seis e faltas a beça. Nos dizem a vida inteira que devemos nos sacrificar, nos resignar, suportar as situações que são desagradáveis, aguentar firme tudo é desprazeiroso, tudo em nome do futuro. Às vezes isso enche o saco. FODA-SE O FUTURO. Que se exploda o futuro. Por que temos que viver nossa vida inteira nos prometendo lindos futuros e suportando um presente de merda? Somente a esperança, em toda vida... Às vezes me parece que, pior que a esperança, só mesmo a bomba atômica e a peste bubônica.

E também não tem jeito: a gente só aprende o que quer. Num sou nenhum ás da pedagogia, mas pra mim é indubitável que o conhecimento só se sedimenta em alguém quando aprendemos o que desejamos aprender. E as aulas, quase sempre, são uma sessão de tortura onde se derruba sobre nós uma série de conteúdos que pouco nos interessam: não vemos no quê aquela porcariada toda poderia ajudar em nossa vida. Isso que nos ensinam, nos faz mais felizes? Mais lúcidos? Mais inteligentes? Por mim, só me fazem mais irado. Isso não quer dizer, claro, que esses três últimos anos da minha vida tenham sido totalmente desperdiçados e que eu não tenha feito nenhum desenvolvimento intelectual nesse período. Muito pelo contrário. Talvez nenhum outro período da minha vida foi ou terá sido tão dedicado ao desenvolvimento intelectual, mas a UNESP não tem nada a ver com isso! Andei pelo meu próprio caminho, busquei meus próprios mestres.

E também não tem jeito: os melhores professores estão na biblioteca. Os maiores homens da humanidade estão guardados ali, preservados da morte, aguardando o ressuscitamento. Poucos homens vivos chegam aos pés deles, os grandes mortos de outrora. Sou necrófilo fanático. Quase sempre me pergunto: será que não valeria mais a pena ouvir o que o Aristóteles ou o Spinoza tem a me dizer ao invés de prestar atenção nesses nossos professorezinhos? Não quero cometer o crime de generalizar e tacá-los todos na mesma lama, mas sinto que nenhum deles chega aos pés dos grandes homens do passado. Por mim, um professor já terá feito o bastante se conseguir instigar o alunado a ler; se fizer com que se levante a vontade de ir dar assalto à sabedoria humana acumulada no passado; se apontar outros homens mais sábios que ele que podem nos ensinar mais do que ele mesmo, o professor. O professor é bom quando é o intermediário numa apresentação entre mim e um morto grandioso: caro Descartes, esse aqui é o Eduardo; Eduardo, esse aqui é Descartes. A coisa aí foi bem feita.

"As escolas não ensinam nada que você precisa saber. Então pra quê ir? Pra que tentar?", canta Bob Forrest num de seus momentos niilistas. Adoro cantar junto. Não se trata de fazer apologia à ignorância. Muito pelo contrário. Trata-se de requisitar por um ensino um tanto menos inútil, um pouco mais conectado com nossos desejos, que nos servisse de algo para melhorar nossas vidas. O problema é que não se ensina a sabedoria nas escolas. Eles nos passam informações, nos preparam para o mercado de trabalho, nos afogam nas especificidades da profissão, fabricam diplomas na linha de montagem... E eu no fundo, pra ser franco, estou cagando pro mercado de trabalho, cagando inclusive pro jornalismo, cagando pras informações especializadas. Tô em busca da sabedoria. Tô em busca da VIDA FODONA. Mas isso não se ensina nessa escola, isso não se encontra por aqui. Então pra que serve ela?

Ah, eles nos querem enfiar cu adentro, sem vaselina, toda essa porcariada, toda essa chatice, toda essa inutilidade, todo esse amontoado de lixo! E depois vem nos reprovar, nos condenar, nos BOMBAR, pois não nos mostramos interessados! Isso tudo tem que ser uma piada! Ah, mundo! Ah, mundo...