terça-feira, 7 de junho de 2005

rock is dead o caralho!

Uma das mais fuderosamente cool das bandas de surf-rock dessa dimensão espaço-temporal onde agora estamos, the dead fucking rocks, está no estúdio pra gravar seu primeiro full-lenght. O Falcon, ex-compatriota na hoje finada república Buçalouca, aquela que ficava lá perto da República Palestina (oh, sim, lá no Oriente Médio...), foi lá ver como andam as gravações e os negócios da banda. E relata esse momento histórico nessa matéria/entrevista com o power trio são-carlense surf as fuck tão venturoso quanto Dick Dale... Ai ai.

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- The Dead Rocks, finalmente, em estúdio -
O CD vai se chamar The International Brasilian Surfs
e começou a ser gravado no último dia 8 em São Paulo

por FÁBIO DE RIGGI

O tão esperado primeiro álbum da banda são-carlense de surf music The Dead Rocks já está sendo gravado. O álbum foi gravado entre os dias 8 e 10 de maio no estúdio Submarino, em São Paulo, e vai se chamar The International Brazilian Surfs.

O CD deve conter 19 faixas, com músicas próprias e versões de clássicos brasileiros que vão desde o samba de Cartola até a viola caipira de Helena Meireles.

O estúdio Submarino é do Clayton Martin, atual baterista da Detetives, que tocou na Os Ostras e já produziu bandas como os Autoramas, Thee Butchers Orchestra, Bionica, Gasolines e a própria Detetives.

Composto pelo trio Marky Wildstone (bateria), Frank Funk (contra-baixo) e Johny Crash (guitarra), the Dead Rocks conversaram comigo sobre o CD, o Gordo da MTV, Europa e, claro, surf music.

FABIO – Começa pelo CD.

THE DEAD ROCKS – Não tem selo definido ainda, o que tem é proposta, por exemplo da Trattore, que é quem já está distribuindo o Bifidus Ativus, outra banda do Marky que lançou o álbum Marcinha no ano passado.

O que a gente pretende é acabar o disco e ter ele pronto para oferecer para algumas gravadoras. Vamos tocar em Goiânia dia 22, no Bananada Festival, e tem uma gravadora legal lá, a Monstro discos, a gente pretende oferecer para eles e para alguns outros selos e ver o que acontece.

F – Como vai ser o álbum?

TDR – São umas 12 músicas próprias e umas sete versões, de samba, de música erudita, caipira... Na verdade a surf music tem sempre esse ponto de ter um lado irônico, de pegar uma música, uma canção popular e reviver ela em outra roupagem.

Tem o exemplo da banda Ventures que fazia discos temáticos, só com temas de televisão, de natal, etc...É esse espírito da surf music, fazer versões instrumentais, quando a música tem vocal, você tira e a guitarra faz a linha do vocal.

F – Quando fica pronto?

TDR – No começo de maio a gente grava, final de maio está pronto. Acho que para o final de julho dá para soltar o CD.

INÍCIO DA BANDA:

TDR – A gente se conhece a mais ou menos 15 anos. Então não dá para saber direito quando começou, mas foi difícil, principalmente porque é tradicional você ter um vocalista, que é quem faz a aproximação com o público.

Quer dizer, você ir num bar para tocar instrumental a noite inteira causa um choque primeiramente cultural, o pessoal pergunta, “mas cadê o vocalista?” Então até a pessoa ver que não precisa do vocalista, que é a guitarra quem faz a voz principal, vai um tempo.

Mas ao mesmo tempo a gente já passou em cidades em que, no primeiro momento soou estranho, mas depois de um ano, a gente voltou e já tinha bandas de surf music lá. Por exemplo em Bauru, Taquaritinga. Isso é legal, além da pessoa curtir, ainda montou uma banda e está colocando o estilo pra frente.

NOVOS EQUIPAMENTOS E INFLUÊNCIAS:

TDR – O Frank já usa laptop acompanhado de um teclado midi, onde ele controla os efeitos de voz, e agora a gente vai estrear uma bateria midi para soltar outros sons eletrônicos.
Existe uma influência muito grande da Man or Astroman?, que também usa vários elementos eletrônicos, e ao mesmo tempo todos os integrantes da banda sempre tiveram muito contato com musica eletrônica, todo mundo toca desde pequeno e cada um tem uma formação diferente.
Mas desde que começou essa popularização da música eletrônica a gente sempre procurou aprender com isso, diferentemente de muitas bandas de rock que se opõem, que acham que são coisas totalmente diferentes, a música eletrônica e o rock.

A gente já acha que existe um diálogo entre as duas e que isso tem que ser aproveitado. Porque hoje em dia a música eletrônica está em tudo, na tevê, no rádio... E não tem porque não usar mais um meio pra se expressar. Sem abandonar guitarra, bateria, mas acrescentando essas coisas também.

GORDO A GOGÔ:

FABIO – Como foi tocar no programa do Gordo?

TDR – A gente tocou lá em Dezembro do ano passado. Recebemos um convite de uma pessoa que trabalha lá e veio para São Carlos, assistiu a um show nosso, gostou e falou “olha, me manda um material que dá pra encaixar vocês”, e acabou rolando.

Talvez a gente volte no segundo semestre deste ano. E o bom é que o programa do Gordo abre outras portas. A gente fez três músicas e o mais importante é que fomos muito bem recebidos. Além disso, deu para notar a repercussão, principalmente por meio do nosso site: a gente tinha 4oo visitas por mês e foi pra mil, 1200 visitas.

CAMPEONATOS DE SURF:

TDR – É a segunda vez que a gente toca no Campeonato Mineiro de Surf, que é um encontro nacional de bandas de surf music.

Não é um campeonato do esporte surf, até porque Minas só tem morro.

A gente faz parte de uma associação de bandas de surf music que chama Reverb Brasil (http://www.reverb-brasil.org/), que está com 22 bandas atualmente, espalhadas pelo Brasil, que fazem o mesmo estilo, então a gente se comunica e uma vez por ano rola o evento onde a gente encontra parte das bandas.

São quatro dias de festival com umas 4 bandas por dia. A gente tocou lá no ano passado e tocou esse ano também, como banda convidada. E dá um retorno super legal porque você pode tocar surf music num lugar onde todo mundo toca e curte surf music e ao mesmo tempo dá para comparar o teu trabalho com o de outras bandas para ver o nível que você está.

Além disso, Belo Horizonte é o berço da surf music no Brasil. Dick Dale, que é o pai do estilo, esteve lá, tocou com a galera... Então tem toda uma mística aí.

É um estilo que funciona muito bem nesse sentido. Se totalizar, a Reverb Central que lista as bandas de surf no mundo tem umas 1000 bandas. É muito pouco se comparar com bandas de rock, por exemplo.

E tem muito subgêneros no rock, surf não, é sempre surf.

TURNÊ EUROPA:
TDR – A gente está com uma agente de shows na França, onde eu estive em 2003. Produzi alguns shows com ela e ela vai ser nossa agente de shows lá. E desde que eu fui lá, mostrei as coisas da Dead Rocks e ela falou, “olha, aqui tem mercado pra isso aí, dá pra rolar e tal”. Então a gente está dependendo muito mais de nós mesmos que de lá. A gente está esperando o CD ficar pronto pra poder ir pra lá, uma coisa puxa a outra.

Por isso desde janeiro que estamos muito preocupados com o CD, que, por mais que a gente tenha um estúdio, a dificuldade é conseguir ficar junto, porque muitas vezes a gente se encontra pra tocar e depois cada um vai para um canto, o Frank mora em São Paulo...

Mas acabou rolando, a gente encontrou o Clayton, que era o baterista dos Ostras, num show aqui em São Carlos, tem um estúdio lá em São Paulo que já gravou várias bandas que achamos legal e dá para fazer no esquema que a gente quer. Aqui também daria, mas exigiria muito mais produção, lá não, está tudo pronto, é sentar e gravar.

SHOWS:

TDR – Dia 22 de maio vamos tocar no Bananada Festival, em Goiânia, que é considerado, senão o maior, um dos 3 maiores festivais de rock do país. Vai tocar Autoramas, Júpiter Maçã, bem legal.

FILOSOFIA DA BANDA:

F – E que história é essa de que o rock morreu?

TDR – (risos)... Na verdade, isso faz parte da filosofia da banda, não existe uma resposta satisfatória. A gente nem acredita muito que o rock está morto, mas a essência dele acabou, entendeu? Hoje em dia você vê na televisão Detonautas, Skank, e isso é rock, Charlie Brow Jr. é rock. Então as coisas já não são mais como antigamente.

E ao mesmo tempo tem a parada do surfista, que quando você está surfando você fala rock is dead, que é a pedra onde você pode cair e morrer. Existe essa conotação.

E tem a conotação da própria banda: rock is dead, é a gente, nós somos os caras e não tem pra ninguém. E mais um milhão de respostas. Isso é discutido entre nós há muito tempo.

Mas surgiu a partir da cena de rock da nossa cidade, que é péssima. Faz 15, 20 anos que a gente está aqui e as bandas só tocam aquele rock anos 70... Todos os mortos.

O rock é dos mortos.