sábado, 27 de agosto de 2005

Páginas internas atualizadas: a seção filosofagens foi finalmente inaugurada (com textos velhos) e a seção livros foi melhorada. Voltou uma velha resenha dos tempos da Watchtower, aquela sobre o "Evangelho Segundo Jesus Cristo" do Saramago, que eu tinha deixado fora do ar porque achava esse texto longo demais, um tanto maçante e pretensioso, até meio arrogante... Mas eu permaneço fiel às idéias que eu coloquei ali e acho que a resenha, mesmo que não curta ela tanto assim, merece voltar... até porque muita gente ñ parece ter sacado direito qual foi a intenção do projeto (aliás, genial) do Saramagão.... Ainda acho que ninguém vai ter saco pra ler até o fim (culpa minha, claro, que num soube ser um pouco mais conciso...), mas eis aí o trocinho de novo acessível. Leiam pelo menos os textículos da epígrafe: são melhores do que qualquer coisa que eu poderia escrever. São esses:

"Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o “fator deus”, esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um Deus, mas o “fator Deus” o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, e não a outra...) a bênção divina. E foi no “fator Deus” em que o Deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Cencer os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um Deus andou a semear ventos e que outro Deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres Deuses sem culpa, foi o “fator Deus”, esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta." JOSÉ SARAMAGO, Folha de São Paulo (19/09/2001)

“A angústia religiosa é ao mesmo tempo a expressão de uma angústia real e o protesto contra ela. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, tal como é o espírito de uma situação não espiritual. É o ópio do povo.
“A abolição da religião como a felicidade ilusória do povo é necessária para sua felicidade real. A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões. A crítica da religião é, portanto, em embrião, a crítica do vale das dores, cuja auréola é a religião.”

“A crítica arrancou as flores imaginárias que enfeitavam as cadeias, não para que o homem use as cadeias sem qualquer fantasia ou consolação, mas que se liberte das cadeias e apanhe a flor viva. A crítica da religião desaponta o homem com o fito de fazê-lo pensar, agir, criar sua realidade como um homem desapontado que recobrou a razão, a fim de girar em torno de si mesmo e, portanto, de seu verdadeiro sol. A religião é apenas um sol fictício que se desloca em torno do homem enquanto este não se move em torno de si mesmo.” KARL MARX, Crítica da Filosofia do Direito de Hegel