quinta-feira, 25 de agosto de 2005

quem é mais sentimental que êêê-uuuu?



O QUE MAIS DÓI NA VIDA

O que mais dói na vida não é ver-se
Mal pago um benefício,
Nem ouvir dura voz dos que nos devem
Agradecidos votos,
Nem ter as mãos mordidas pelo ingrato,
Que as devera beijar!

Não! o que mais dói não é do mundo
A sangrenta calúnia
Nem ver como s'infama a ação mais nobre,
Os motivos mais justos,
Nem como se deslustra o melhor feito,
A mais alta façanha!

Não! o que mais dói não é sentir-se
As mãos dum ente amado
Nos espasmos da morte resfriadas,
E os olhos que se turvam,
E os membros que entorpecem pouco a pouco,
E o rosto que descora!

Não! não é o ouvir daqueles lábios,
Doces, tristes, compassivos,
Sobre o funéreo leito soluçadas
As palavras amigas,
Que tanto custa ouvir, que lembram tanto,
Que não s'esquecem nunca!

Não! não são as queixas amargadas
No triunfar da morte;
Que, se só apaga a luz da vida escassa,
Mais viva a luz rutila;
Luz da fé que não morre, luz que espanca
As trevas do sepulcro.

O que dói, mas de dor que não tem cura,
O que aflige, o que mata,
Mas de aflição cruel, de morte amara,
É morrermos em vida
No peito da mulher que idolatramos,
No coração do amigo!

Amizade e amor! - laço de flores,
Que prende um breve instante
O ligeiro batel à curva margem
De terra hospitaleira;
Com tanta amor se enastra, e tão depressa,
E tão fácil se rompe!

À mais ligeira ondulação dos mares,
Ao mais ligeiro sopro
Da viração - destrançam-se as grinaldas;
O baixel se afasta,
Veleja, foge, até que em plaga estranha
Naufragado soçobre!

Talvez permite Deus que tão depressa
Estes laços se rompam,
Por que nos pese o mundo, e os seus enganos
Mais sem custo deixemos:
Sem custo assim a brisa arrasta a planta,
Que jaz solta na terra!

(gonçalves dias) - (manjam "minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá"?)

(OBS: Não sei se é porque eu ando sentimental bragarai, se é porque me atraem demais as personalidades melancólicas, se é porque virei de vez uma bichinha ou se é porque a coisa é mesmo de admirar, mas o lance é que eu tô achando essas poesias melosas e lacrimogênicas que eu antes costumava desprezar uns troços bonitos pacas... Tô até achando que, perto disso, o Bukowski e o Fante num passam duns grosseirões, uns insensíveis, uns caminhoneiros, uns rasos... Ando preferindo caras que saibam confessar suas fraquezas e deixar correr suas lágrimas do que aqueles que insistem em se fingir de fortes, fodões e super-coolzões...).

(OBS 2: esse post tá bem merecendo um giganteso UI. em letras garrafais.)

Ui.