terça-feira, 11 de março de 2008

:: de como a solidão pode ser um bem ::

"Nascemos na solidão, morremos nela, e toda a nossa vida se desenrola sobre o signo dela. Mas, por estranho que possa parecer, ela mesma veicula em nós este desejo tão ardente de amor que só cresce à medida que somos cada vez mais ameaçados de ser reduzidos ao estar-só. Este conflito, que parece decisivo, tem o seguinte desenlace: a solidão profunda gera o desejo profundo de amar. Quanto mais se está só, tanto mais se quer amar e ser amado.” (92)

”Não podemos comprazer-nos a viver sós. Nossa solidariedade há de ser tão profunda que deva conduzir-nos a compartilhar o sofrimento dos outros. Não podemos ser indiferentes diante daquele que é esmagado pelos mecanismos mais violentos da existência. A ponto de podermos dizer que o homem só atinge sua dimensão plena de humanidade quando o sofrimento do outro é o seu, quando a tristeza do outro é a sua, quando o desespero do outro é o seu. Estaria tentado a ir até o ponto de acrescentar: quando a morte do outro se torna a sua. Não há tristeza maior do que a da secura que habita o homem que vive indifente a tudo o que não é ele próprio e desvia o rosto daquele que é esmagado pelo sofrimento.” (85)

“[A solidão] pode ser um bem. Tudo depende do que se faz com ela. Se a pessoa se entregar a ela, se lhe permitir que envenene a existência, se a aceitar passivamente como definitiva e fatal, só pode ser considerada um mal. Mas, se instada por ela, a pessoa partir ao encontro do outro, se fizer dela o motor de um movimento que é ao mesmo tempo solicitação do outro e oferta de si, se ela suscitar uma vontade cada vez maior de avançar em direção a um amor possível, ainda que difícil, como todo amor, então a solidão se torna um bem.” (48)

in: CHARBONNEAU, Crônica da Solidão.