segunda-feira, 11 de agosto de 2008

:: repleto de versos levanto meu crânio ::


A FLAUTA VÉRTEBRA
do Maiakóvski


A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

(tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)

('Tou devorando o Maiakóvski: Poeta da Revolução, bacanuda biografia de 600 páginas deste poeta tão querido do meu coração. Logo mais compartilho impressões e devaneios sobre o livro num textão a sair lá n'o Grito! )