terça-feira, 28 de fevereiro de 2006



Eles vem aí! Um Monumento Vivo do rock-anos-80... Um dos mais adoráveis Dinossauros do Rock que ainda vive... Um dos melhores vocalistas de todos os tempos... 26 anos de estrada e ainda lançando discos ótimos... ECHO AND THE BUNNYMEN, ao vivo em São Paulo, Credicard Hall, 15 de Março... Esse eu num perco... Aí vai um...

...TEASER POÉTICO:

Here am I, whole at last, with a golden view
Looking for hope and I hope it's you
Splitting my heart, cracked right in two
The pleasure of pain endured.

To purify our misfit ways
And magnify our crystal days

Where are you, in shadows only I can see
Looking for hope and you hope it's me
Tattered and torn and born to be
Building a world where we can...

Purify our misfit ways
And magnify our crystal days...

("Crystal Days")


* * * * * *

Let's go and take a starlit drive
To where the shaping of our lives
Had just begun, when we were young...

When everything was coming right
In all our dreams of love and life
And we would run... into the sun.

Changes coming, changes gone
We just wanna be someone
Behind the tears, behind the tears...

Nights and days go on and on
And things are coming out all wrong
And no one hears, no one hears...

("Get In The Car")


* * * * *


Lost again,
still waiting for the voices
that don't call my name...
I had too many choices
and i missed my aim...
No pearls inside the oysters
Just a world with no answers
We all get life and take our chances

In the rain, baby rain...


("Baby Rain")


* * * * * *

Wish that you were here, down amongst the dust
Need someone to help me and need someone to trust
There's something in these tears turnin' me to rust
Wish that you were here, wish that it was us.

I can feel the stars shooting throught my heart like rain
Leaving all the scars where the pleasure turns to pain
Point me in the light of a bright and shining right direction
And then take me home again.

Just when you think it's over, when you think it's done
Out of every nowhere, you never see it come
I know the lines are showing, I can't keep them in
Like everybody's story is written on the skin.

("Rust")

* * * * * *

I want it now, I want it now,
Not the promises of what tomorrow brings.
I need to live in dreams today,
I'm tired of the song that sorrow sings

And I want more than I can get
Just trying to, trying to, trying to forget

I'd walk to you through rings of fire
And never let you know the way I feel
Under skin is where I hide
The love that always gets me on my knees

And I want more than I can get
Just trying to, trying to, trying to forget

Nothing ever lasts forever
Nothing ever lasts forever
Nothing ever lasts forever
Nothing ever lasts forever

I want it now
I want it now
Don't tell me that my ship is coming in
Nothing comes to those who wait
Time's running out the door you're running in

So, I want more than I can get
Just trying to, trying to, trying to forget

Nothing ever lasts forever
Nothing ever lasts forever
Nothing ever lasts forever
Nothing ever lasts forever...

("Nothing ever lasts forever")

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006



COMPLEXO DE PORTNOY,
de Philip Roth


Há aqueles livros que representam pra muita gente uma espécie de rito de iniciação na literatura: é aquele livro que a gente lê cedo na vida, com um imenso prazer, com uma fome devoradora, virando as folhas com pressa, sem notar que os ponteiros do relógio continuam a rodar... E bate aquela surpreendente descoberta: afinal não é somente por obrigação que as pessoas lêem, mas sim por gosto, por prazer, por vontade!... Porque ninguém já nasce amigo da leitura. Todo mundo sabe que o gosto pelos livros é algo que precisa ser cultivado - e é um dilema pedagógico, e um dos mais importantes, esse de achar um meio de fazer com que a pirralhada, e depois os adolescentes (e depois até mesmo os adultos...), adquiram gosto pela leitura. E é claro que ninguém começa sua jornada literária direto com um Proust, um Joyce ou um Faulkner, da mesma maneira que ninguém começa a ouvir rock indo direto pro Sonic Youth, pro Velvet Underground ou pro Faust. Antes é preciso que o gosto pela leitura seja conquistado através de obras que, apesar de não muito respeitadas pela crítica séria, conseguem mudar vidas e fazer com que nasça em alguns um apetite de literatura que pode durar pela vida afora...

Muita gente cita como predileto certos livros que são tipicamente obras de “porta-de-entrada-na-literatura”, tipo O Apanhador no Campo de Centeio do J.D. Salinger, o On The Road do Jack Kerouac, o Pergunte ao Pó do John Fante, qualquer um do Bukowski, entre muitos outros... No meu caso, foi o Complexo de Portnoy um desses preciosos livrinhos que me fez ficar apaixonado pela literatura. Não foi o primeiro que li, é claro, nem o primeiro que eu amei: desde bem moleque eu já tinha esse estranhíssimo hábito de ler livros que as professoras do colégio nem tinham pedido... Meus colegas de classe, é claro, ficavam espantados. “Mas por que você está lendo isso? Nem vai cair na prova!” Naqueles tempos, só mesmo sendo maluco – e masoquista! – pra ficar lendo coisas que não eram obrigatórias... afinal, a Verdade reconhecida por todos era: ler é tão chato!

No começo de tudo, claro, foi Pedro Bandeira. A saga dos Karas, pra uma imensa galera que nasceu nos anos 80, marcou nossa vida no Ginásio. Eu li todos os cinco livros (e se existissem 10, teria lido os 10!), mesmo que somente A Droga da Obediência e o Anjo da Morte tenham sido obrigatórios pra num rodar na prova... Depois, óbvio, rolou a fase Agatha Christie – ê clichê! Li, sei lá, uns 6 ou 7 livros da Dama do Crime, quase que na sequência, querendo adivinhar o assassino em pelo menos um – em vão! Li também alguns best-sellers americanos, principalmente os do Dean R. Koontz, cara que eu idolatrava, achando muito melhor do que o muito mais famoso Stephen King... E, claro, num dá pra esquecer do mais do que fundamental O Mundo de Sofia, de Jostein Gaardner, tão importante pra minha vida (estaria eu hoje cursando Filosofia sem ele?) que merece um texto especial, qualquer dia desses...

O Complexo de Portnoy, de Philip Roth (conheça-o melhor: 1, 2, 3), é uma dessas obras da minha Era Primórdios da Leitura que mais marcou. Lido no momento certo, quando aquilo era exatamente o que eu estava querendo ler, o clássico de Roth acabou por virar um objeto altamente querido e, de um modo ou outro, mudou a minha vida. Foi uma leitura tão prazeirosa que, daí em diante, eu não tive mais dúvidas: era possível, sim, retirar de um livro, esse objeto aparentemente tão bobo e tão chato, um imenso deleite... E eu realmente cascava o bico em vários momentos do relato de Alex Portnoy, o personagem-narrador de Philip Roth, descobrindo que um livro conseguia arrancar de mim mais risadas do que qualquer comédia em filme. Até hoje acho que esse é, de longe, um dos livros mais engraçados que já li, competindo pelo lugar mais alto no pódio com o também hilário Pantaleón e As Visitadoras, do Vargas Llosa. Também acho Céline extremamente cômico, mas não conheço ninguém que concorde - então deixa pra lá...

Me lembro bem o impacto que foi a descoberta do Complexo de Portnoy quando eu tinha lá meus 15 anos de idade e estava apenas começando a dar meus primeiros passos dentro do vasto templo da literatura mundial. Foi o Daniel Galera quem recomendou o troço, provavelmente em algum COL bem antigo – e eu sou eternamente agradecido ao cara por ter me apresentado, não só ao Roth, mas a outros dois autores de que sou fã e que só fui procurar porque ele recomendava: Albert Camus e Ernest Becker. Achar o Complexo em sebo não foi problema, e depois descobri porquê: o excesso de pornografia, palavrões e piadinhas sujas, sem falar do tom incessantemente debochado do narrador, faz com que muitas “pessoas de bem” odeiem com o maior preconceito o livro de Roth e se livrem dele com pressa. Deve ser por isso que em qualquer sebo fuleiro se encontra, fácil fácil, pelo menos uma edição do muito mal-afamado volume das Confissões Sexuais e Emocionais de Alexander Portnoy. Comprei o meu por R$ 1,90.

Não confiem no que dizem as sinopses por aí. Não é de bom tom dizer do que se trata realmente o livro, então vai estar escrito que o livro é um “retrato convincente da família judia urbana” ou qualquer porcaria desse tipo - o que acaba por afastar qualquer um da leitura. Eu pelo menos nunca escolheria ler um livro só por ser um “retrato da família judia na América”: não é exatamente um tema que me atraia... Não, não é sobre isso O Complexo de Portnoy. No duro, ele é sobre sacanagem, sobre punheta, sobre sexo, sobre rebeldia adolescente, sobre paranóias maternas, sobre relações familiares bizarras... Alex Portnoy, nosso narrador-personagem em 1ª pessoa, narra a história de sua vida para seu psicanalista Spielvogel, principalmente infância e adolescência, num jorro tagarela de fatos que entretêm, diverte e excita. E Roth demonstra, sim, um imenso talento literário nessas páginas aparentemente despretensiosas e bem-humoradas - se viver mais alguns anos, o já veterano autor americano dificilmente vai escapar de vencer o Prêmio Nobel de Literatura. Merece.

A família de Portnoy, apesar de tradicionalmente judia, não é muito diferente das famílias que conhecemos - e não é difícil de se identificar com Portnoy e sua rabugenta reclamação incessante contra seus pais. Sei que eu li O Complexo de Portnoy dizendo a toda hora “podecrê, cara! Podecrê! É assim mesmo!”... Alex era o “garotinho cu-de-ferro que corre para casa depois da escola cheio de notas máximas, o ultra-aplicado inocente, incessantemente à procura da chave daquele mistério indevassável, a aprovação de sua mãe” (pg. 43). Mas a mãe, por sua vez, possessiva e extremamente paranóica, só sabe se preocupar, temer, dar sermões, prescrever os “atos certos”... E o paizão, omisso e covarde, está mais ocupado com seus intestinos e com suas apólices de seguro do que com o filho.

Mas o Dilema principal do livro é que o pobre Alex, ao mesmo tempo que vê seus hormônios borbulharem e sua libido fervente (buscando então refúgio em práticas sexuais solitárias), não consegue evitar o sentimento de culpa trazido por sua educação rígida. Philip Roth, apesar do tom meio de caricatura, demonstra aqui um perfeito domínio da psicanálise e do dilema freudiano entre o id e o super-ego, por exemplo. Perceber a inteligência da análise psicológica pode ser difícil para a maioria dos leitores, que vão estar ocupados demais rolando no chão, às gargalhadas, com a descrição absolutamente hilária das epopéias punhetórias de Alex. Mas o autor demonstra sim, pra quem souber analisar bem, um imenso talento ao criar um personagem-símbolo do embate entre o instinto e a moralidade, o tesão e a repressão. Alex Portnoy tem dentro da cabeça um super-ego do tamanho de uma melancia e dentro da cueca uma besta selvagem que se debate em sua jaula... “Sou o Raskólnikov da ejaculação!”, confessa Alex, aludindo ao Crime e Castigo de Dostoivéski: para Portnoy, a punheta é o crime sempre punido pelo seu terrívelmente intenso sentimento de culpa.

É isso o Complexo de Portnoy que dá nome ao livro: “um distúrbio em que fortes impulsos éticos e altruísticos se apresentam em perpétua luta com extremados anseios sexuais, frequentemente de natureza perversa”. O psicanalista Spielvogel esclarece: “Em consequência da moralidade do paciente, entretando, nem a fantasia nem o ato resultam em genuína satisfação sexual, mas antes em avassaladores sentimentos de culpa e temores de punição, especialmente sob a forma de castração” (pg. 5). O próprio Alex, num momento de insight, nota que sua personalidade o obriga a viver “dilacerado por desejos que me repugnam à consciência e uma consciência que repugna aos meus desejos” (pg. 108). Não é a história de nossas vidas?

E é claro que é contra a Família, a educação recebida, a religião transmitida, que Alex vai voltar sua ácida rebeldia, espalhada pelo livro inteiro. O Complexo de Portnoy parece realmente um livro escrito por um moleque nervoso: a Voz que Philip Roth conseguiu captar aqui é jovem, impetuosa, impaciente, cheia de vida... Como bom adolescente que se torna ateu e rebelde, Alex Portnoy passa a vociferar contra toda o sistema moral de papi e mami, chegando à conclusão, por exemplo, de que a religião só está lá para dizer que “a vida é feita de limitações e restrições e nada mais, centenas de milhares de regrinhas estabelecidas ninguém sabe por quem, regras a quem a gente obedece sem discutir, por mais idiotas que possam parecer” (pg. 67). A repressão sexual e verbal excessiva também deixa suas marcas. “Sou marcado dos pés à cabeça pelos meus recalques”, reclama Alex. “É possível viajar ao longo do comprimento e da largura do meu corpo, percorrendo rodovias de vergonha, inibição e medo” (pg. 101).

São numerosas as páginas que Alex dedica a falar mal de sua família – e são deliciosas! Por exemplo:“O grau de histeria e de superstição! Os ‘olhe aí’ e os ‘tome cuidado’! (...) Não podia sequer pensar em beber um copo de leite junto com o meu sanduíche de salame sem ofender seriamente ao Deus Todo-Poderoso! Imagine o que me custaram na consciência todas aquelas ejaculações! A culpa, os temores – o terror incutido em meus ossos! No mundo deles, o que não estaria carregado de perigos, gotejante de vermes, repleto de riscos? Oh, onde estava o prazer, onde estavam a audácia e a coragem? Quem saturou esses meus pais de uma visão tão temerosa assim da existência?” (pg. 32)

A mania dos pais judeus – mas não só deles, com certeza – de se sacrificarem pelos filhos, depois acusando rancorosamente os rebentos pela ingratidão, é outro alvo de Portnoy. A mãe, que parecia disputar com as vizinhas o título de “santa padroeira da abnegação”, é daquele tipo que sempre vê em tudo uma possibilidade de desastre: um espirro é motivo pra chamar uma ambulância, um pouquinho de febre e ela já tá mandando o filho pra UTI... E é sermão que não acaba mais... De modo que o pobre Alex, não importa o quanto seja um rapaz exemplar, estudioso, respeitoso e extremamente moralizado, não consegue arrancar de seus pais nenhum afeto, nenhum sentimento de ser amado: é sempre somente uma causa de preocupação, de aflição, de sacrifício, de dor... Ah, não é, de novo, a História de Nossas Vidas?

Quando o livro começa a avançar na narração da vida adulta de Portnoy, tema de outros livros posteriores de Philip Roth (O Diário de uma Ilusão, principalmente), o tom permanece o mesmo. Mesmo depois de adulto e bem-empregado, Alex não se livra da ingerência de sua sua família e da eterna impossibilidade de agradá-los – pois “um judeu com pais vivos é um garoto de quinze anos, e há de permanecer um garoto de quinze anos até que eles morram!”. E os ímpetos de sua “coisinha” não se acalmaram, é claro: “Trinta e três anos e ainda comendo com os olhos, e devaneando sobre cada garota que cruza as pernas no metrô diante dele! Ainda se amaldiçoando por não ter dirigido a palavra ao suculento par de tetas que viajou com ele vinte e cinco andares num elevador!” (pg. 83)

Sei que há quem vá achar que Alex Portnoy é somente um jovenzinho rebelde e ranzinza, um personagem cuja única virtude é “ser engraçadinho” - mas aí é subestimar o “cara”. Eu vejo muita sabedoria em Alex. Me explico: acho muito elogiável e digno de imitação esse lance de fazer uma minuciosa investigação subjetiva, uma passeio para dentro, uma jornada de auto-conhecimento, mas sem a tradicional seriedade que costuma caracterizar o processo... Alex tem a manha de dar risada de si mesmo, de seus fracassos, de seus vícios, de suas baixezas, se mantendo sempre razoavelmente alegre e integralmente sincero - o que é ótimo. Ele não precisa mentir sobre si mesmo, escondendo seus ímpetos sexuais e seus maus sentimentos, por exemplo, nem fazer suas confissões as levando demasiado a sério. Estamos perto de Woody Allen aqui, ele que também é mestre nesse estilo de humor auto-reprovatório e confessional – foi ele que nos legou pérolas como “Não me associaria a nenhum clube que aceitasse como sócio uma pessoa como eu” ou “A única coisa de que me arrependo nessa vida é não ser outra pessoa”.... Pena que Woody não tenha o costume de adaptar para o cinema obras literárias, sempre escrevendo seus próprios roteiros, pois uma adaptação d’O Complexo pela lente de Allen teria tudo pra ficar ultra-trimmassa... ainda mais se Woody interpretasse Alex!

Pra concluir: Complexo de Portnoy é um livro que exala um imenso frescor, juventude e ânimo. E me parece mais verdadeiro do que muito Grande Clássico da Literatura, onde os personagens nunca batem punheta, nunca ficam olhando fascinados para a derrière feminina, nem nunca dão vazão a sua rabugices mais idiotas – em uma palavra, nunca exibem seu lado vulgar. Alex Portnoy é um dos meus personagens prediletos na história da literatura por mim conhecida (que é, digamos, 0,0001% de toda a literatura...): ele tem uma voz inconfundível, um talento imenso pra ser um adorável palhaço, um jeito de ser que eu adoro... Se eu pudesse dar um só conselho aos professores de português do ginásio e do colegial, daria esse: peloamordedeus, não obriguem os moleques a enfrentarem Vidas Secas ou Primo Basílio! O Complexo de Portnoy é o livro certo para fazer um adolescente cair de amores pela literatura – e não fica devendo nada em termos de qualidade estética, na minha opinião: é um livro magistralmente escrito e digno de ser considerado um clássico da boa literatura de tom humorístico, nada inferior a um Fielding ou Sterne. O Complexo de Portnoy me fisgou quando eu era moleque e depois dele eu nunca mais parei de ser um assaltante de biblioteca – e se ele fez isso por mim, creio que pode fazer o mesmo por muitos outros.

(obs: AVANTE, GONZO JORNALISMO! AVANTE!)

* * * * * *

[um trecho antológico:]

"Que negócio mais misterioso! O fascínio interminável desses orifícios e aberturas! Como vê, não posso parar! Ou me prender a qualquer uma. Tenho casos que duram um ano, um ano e meio, meses e meses de amor, a um tempo terno e voluptuoso, mas no fim - é inevitável como a morte - o tempo marcha e o desejo se acaba. No fim, simplesmente não consigo dar aquele passo para o casamento. Mas por que deveria dá-lo? Por quê? Existe alguma lei que diga que Alex Portnoy tem de ser o marido e o pai de alguém? Doutor, elas podem trepar no parapeito da janela e ameaçar se espatifar lá embaixo no solo, podem empilhar Seconal até o teto - talvez tenha de viver semanas a fio no terror de essas moças decididas ao casamento se jogarem debaixo do trem; o fato é que, simplesmente, não posso, simplesmente não quero fazer um contrato de dormir com uma só mulher pelo resto dos meus dias. Imagine só: suponha que eu me decidisse e me casasse com A, com as suas bonitas tetas e assim por diante, o que sucederá quando aparecer B, que as tem ainda mais bonitas, ou pelo menos mais novas? Ou C, que sabe mexer o traseiro de alguma maneira especial que eu jamais vi, ou D, ou E, ou F. Estou tentando ser franco com o senhor, doutor, pois, no que se refere a sexo, a imaginação dispara até Z e ainda vai além! Tetas, pombas, pernas, lábios, bocas, línguas e orifícios traseiros! Como posso renunciar ao que nem mesmo cheguei a ter, por causa de uma garota que, por mais deliciosa e provocante que tenha sido algum dia, se tornará tão familiar para mim como uma fatia de pão? Por amor? Que amor? É isso que liga as pessoas que conhecemos - as que têm o trabalho de se deixar ligar? Não se trata antes de uma fraqueza? Não será antes conveniência, apatia e idéia de culpa? Não será antes medo, exaustão, inércia, falta de fibra pura e simples, muito mais isso do que aquele "amor" com que os conselheiros matrimoniais, autores de canções e psicoterapeutas estão sempre sonhando? Por favor, vamos deixar de nos encher um ao outro com esta história de "amor" e a sua duração."

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

!DLMSONGS!

www.gmail.com
username: dlmsongs
password: queromp3







STREETLIGHT MANIFESTO - "Everything Goes Numb" (2003)
(ska/punk de 1a - banda do ex-líder do Catch-22)
OKKERVIL RIVER - "Black Sheep Boy" (2005)
alt-country/anti-folk, ótimas letras, meio Bright Eyes)
NEW ORDER - "Get Ready" (2001)
(pode parecer absurdo, mas meu N.O. favorito ever.)

(eu sempre só coloco no dlmsongs discos q eu curto, então num esperem q eu diga "esse eu recomendo": recomendo TUDO que tá lá!)

* * * * * * *

SCREENING-LOG atualizado.
(ABEL FERRARA é meu novo diretor predileto... Mto, mto foda!)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

QUERIDO DIÁRIO,

A veteranada lá da USP, pelo menos no dia da matrícula, foi revoltantemente bem-educada e respeitosa com a bixarada. Coisa mais chata... Depois dessas histórias de japa boiando na piscina e de assassinato a facadas dentro da ECA, parece que a vigilância aos alunos na USP tá mais rígida e os veteranos tão com mais cagaço de pegarem pesado. Mas aí a coisa acaba ficando sem graça. Espero que no começo das aulas eu seja devidamente humilhado, cuspido, xingado e sodomizado, porque nesse "trote de matrícula" aquilo ali parecia um convento! :-) Agora sério: não é que eu seja a favor do trote violento ou da humilhação, mas proibir trote eu sou totalmente contra. Tem que ter. E tem que ser mesmo um lance zoado, caótico, sem vigilância das autoridades. Tem que marcar a ocasião de um modo forte, celebrar a conquista, depois de tanto suor, tanto estudo, tanta angústia, com algo que a gente vá realmente levar na memória pra sempre...

É claro que meus COMPATRIOTAS aqui na República, notando que eu voltei IMACULADO pra Bauru depois do "trote" na USP, trataram de me dar um jeito. Amigo é pra essas coisas... Sim, agora eu tenho um MOICANO! Sim, agora eu tenho um A de Anarquia desenhado na lateral da minha cabeça! Sim, eu pareço um punk tosco em Nova York, 1976, indo pro CBGBs pra pogar com os Ramones...

Sem zuera. Tô quinêm esse nêgo aqui:


(O DISCO MAIS FODA DO MUUUUUUUUNDO!
QUEM NÃO CURTE ISSO AQUI NÃO VALE NADA!)


E se eu pintar minhas madeixas de azul vou ficar assim, ó:


(ZEREI TRÊS VEZES NO MEGA-DRIVE!)

Caralho, eu tinha esquecido como é bom ser bixo...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Agora sim, enfim, o primal scream:

B I T C H Ô Ô Ô Ô Ô Ô N E S !

domingo, 12 de fevereiro de 2006

2 FILMES.



T A P E
de Richard Linklater, 2001.


Minimalista ao extremo, Tape é assim: uma câmera digital presa dentro de um quarto de motel por todo o tempo, acompanhando em tempo real o diálogo de 85 minutos entre três personagens, num lance bem "teatro filmado" de um ato só. É extrema a diferença de estilo entre Waking Life e Tape, dois filmes lançados no mesmo ano (2001) como "experimentos" em cinema digital. Waking Life era um filme altamente viajado, com um visual exuberante e colorido, com um climão de sonho e de delírio, saturado com papos-cabeças e numerosos personagens. Já em Tape Linklater cometeu um de seus filmes mais pé-no-chão, mais realistas, mais "toscos", meio que voltando ao cinema simplão e sem firulas de um Slacker, seu filme de estréia. Tape é bem low-fi. E ao contrário de outros filmes do cara, que demonstram relacionamentos humanos funcionando com uma harmonia, uma simpatia e uma compreensão mútua invejáveis (tipo o casal perfeitamente conectado de Before Sunset / Before Sunrise), Tape é mais "pesadão".

O relacionamento entre os dois protagonistas é lotado de agressividade, de rancor, de violência contida, de feridas do passado que não cicatrizaram... E o quarto de motel onde estão é quase um campo de batalha onde eles digladiam. O que começa aparentando ser um filme sobre a amizade e sobre o reencontro de velhos companheiros acaba virando um conto de vingança e de provocações mútuas, que só por pouco num descamba pra violência física e pra tragédia. Tape é um filme cheio de mind games, que nos envolve numa espécie de triângulo amoroso claustrofóbico, interpretado de maneira meio improvisada e livre, e que acaba por parecer bem genuíno e acreditável.

Ethan Hawke e Robert Sean Leonard, que já trabalharam juntos no Sociedade dos Poetas Mortos quando eram ainda moleques, interpretam aqui dois amigos em duelo principalmente a respeito de um certo episódio do passado envolvendo uma certa Amy (Uma Thurman), namorada de um, depois parceira sexual do outro, que mais para o fim do filme irá irromper na tela para um ótimo desfecho - bem no estilo "Momento da Verdade". Tape vale principalmente pelas atuações, pelos diálogos, pela análise de personagens, pelo combate de personalidades, pelo realismo com que aborda o relacionamento desses três, por esse árduo processo de desenterrar segredos do passado. É o menos "idealizado" dos filmes de Linklater - pé-no-chão mesmo. No fim da "batalha", apesar de não haver nenhum cadáver no chão, saímos do filme com a sensação de termos presenciado a devastadora morte de uma amizade... Ou talvez, e resta um fiapo de esperança no ar, algo que vai conduzir a um recomeço do relacionamento em bases mais verdadeiras. Soou parecido com algo que o Mestre Mike Leigh faria.

Longe de ser meu filme predileto de Linklater (ainda sou mais Before Sunrise / Before Sunset - e prometo que qualquer dia escrevo um texto enorme sobre eles), Tape é um filme que eu curti principalmente por isso: pois ele inspira a fazer cinema. Meio como os Ramones na música. Por mostrar que você não precisa realmente de muitos recursos técnicos e financeiros pra fazer cinema decente nos últimos tempos. Uma câmera digital, um quarto de hotel, dois ou três atores, boas idéias na cabeça e uma semana de filmagens foi tudo o que Richard Linklater precisou para cometer um grande filme. Depois de assistir a Tape, não são poucos que vão dizer: pô, eu, você, qualquer um de nós, também podemos fazer um filme! Não é algo restrito a gente cheia de capital ou de importância... Não é algo assim tão inacessível, tão utópico (Guido Deve Morrer tá aí pra provar!)... A popularização e o barateamento do preço das câmeras digitais promete tornar o cinema uma arte ainda mais democrática, de modo que Tape pode mesmo ser visto como um dos precursores de uma Nova Era (ou eu exagero?). Sei que eu mesmo ando já acalentando certos sonhos, e já cozinhando certas idéias, para os meus (prováveis) filmes do futuro... que já não acho tão impossíveis assim de virem ao mundo. E, se saírem algum dia, vou agradecer Linklater pelo exemplo, pelo modelo, pela inspiração...

* * * * * *



PALINDROMES,
de Todd Solonsz, 2004.


Eu entendo os filmes do Todd Solondz (de Bem-Vindo À Casa de Bonecas, Felicidade, Histórias Proibidas...) como um FREAK SHOW, mas que tem a pretensão a ser tomado como Arte Séria e Provocativa e não somente como um espetáculo de bizarrices. Este Palindromes, outro filme que vem pra causar polêmica e ser odiado por grande parte do público, é uma das obras mais perversas e cheia-de-alfinetadas da carreira do jovem diretor americano. O humor negro, presente em todos os filmes anteriores (e que pra muita gente não tem graça nenhuma e não passa de sintoma da perversidade do diretor), aqui atinge realmente o cume. Dá pra cair na gargalhada em vários momentos dessa estranha viagem de Solondz em Palindromes, o seu "filme sobre aborto", mas o "ambiente" que ele cria é muito estranho e asfixiante para que esse humor seja qualquer coisa parecida com um alívio ou uma diversão... A gente ri pra não chorar, ri com culpa, ri com dó...

Há por aqui algo de Larry Clark e de Gus Van Sant, pelo interesse em interpretar e fotografar os dilemas de uma juventude transviada, mas há também algo de Fellini, algo de Lynch, algo de Cronenberg - em uma palavra: algo de BIZONHO. Primeira bizarrice: a utilização de uma meia-dúzia de atrizes diferentes interpretando a personagem principal, o que apesar das aparências não dificulta demais a compreenssão. Passada a estranheza inicial, o filme se mostra perfeitamente compreensível e linear. É bem provável que o rodízio de atrizes queira sugerir que a história que estamos vendo poderia ter acontecido com muitas diferentes garotinhas, de diversas caras, corpos e cores. As várias faces de Aviva, a personagem principal, passam essa sensação de "multidão condensada em um personagem". Um recurso bastante criativo e ousado, que poderia ter ficado bom, por exemplo, se utilizado também num filme do tipo Maria Cheia de Graça, baseado em "1.000 histórias reais"...

Visto de fora, "Palindromes" parece um tradicional drama familiar, com a sequência de eventos que é de se esperar num filme com essa temática: garota solteira e rica engravida / família entra em crise histérica / um aborto é imposto à moça (que desejava ter o filho) / a jovem, depois de abortar, só de raiva foge de casa / longe das garras da família, põe o pé na estrada e começa um road movie... Solondz, porém, trata sempre de distorcer o realismo em favor de um ambiente um tanto surreal, grotesco e por vezes francamente desagradável. A gente pode não gostar dos filmes dele - e confesso que é muito difícil se sentir bem assistindo a Todd Solondz... (se sentir mal é muito mais provável!) - mas o fato é que ele arruma um jeito de mexer com a gente, de um modo ou outro.

O episódio no "orfanato" de Mama Sunshine é particularmente um achado e uma fina provocação. Aviva, em certo momento de sua jornada, acaba indo procurar refúgio nas mãos de uma organização cristã radicalmente contrária ao aborto, que acolhe crianças abandonadas ou com problemas físicos e mentais. Essa "ONG" milita, inclusive com a utilização dos meios mais sangrentos, contra médicos que praticam clandestinamente os abortos. O ácido sarcasmo que Solondz derrama sobre Mama Sunshine e a "ideologia" que ela representa é um golpe certeiro - e é evidente que ela é uma caricatura do tipo de pessoa que sustenta que o aborto é um crime contra a religião. Vemos no "orfanato" um amontoado gigantesco de miséria humana - crianças nascidas sem olhos, sem braços, sem pernas, deformadas, epiléticas, retardadas... - cantando musiquinhas de louvor ao Senhor e à Sabedoria de sua Criação! E Solondz pergunta, discretamente: não seria preferível que essas crianças tivessem sido abortadas ao invés de terem sido obrigadas a nascer assim, defeituosas, doentes, retardadas, condenadas a um imenso sofrimento na vida?

Muitos podem não concordar com essa visão um tanto niilista, que diz que para alguns não nascer é uma vantagem... E claro que se pode sustentar que mesmo essas crianças tem todo o "direito à vida". Não quero ficar entrando na discussão sobre aborto aqui - não é esse o momento. Mas o fato é que Solondz consegue nos persuadir muito bem de que há certos casos onde o aborto, longe de ser condenável, pode ser um ato de misericórdia que vai impedir um novo ser de vir à Terra só para sofrer e sofrer e sofrer. Nessas cenas e em muitas outras, Todd Solondz faz suas provocações com competência e com certeza acaba por produzir um filme que é capaz de aquecer o debate sobre a questão do aborto como poucos que eu conheça.

Mas há um porém: o olhar de Solondz, como muitos críticos já notaram, revela frequentemente uma espécie de misantropia, como se ele mal suportasse a presença de seus próprios personagens - que são quase sempre miseráveis, infelizes, losers e disfuncionais. O espectador quase pode sentir que ele, por trás das câmeras, mal consegue disfarçar seu nojo pela condição desses seus personagens, e um nojo contra a própria Condição Humana, contra o fato de que alguns simplesmente tem o azar de nascer feios, deformados, retardados ou anormais, sem nenhuma culpa que explique essa "punição".

Eu quase consigo "ouvir", por detrás da obra toda de Solondz, um grito de protesto contra a "Loteria do Nascimento"... Ninguém pede pra nascer, e ninguém escolhe ser quem é, e as injustiças que decorrem daí são grandes o bastante para fazer surgir em alguns quase que uma revolta contra a vida - e isso está impresso em fogo através da carreira toda de Todd Solondz. Eu, pessoalmente, sinto falta de uma só coisa para que ele se torne um cineasta de primeira grandeza: que ele consiga transformar sua misantropia em misericórdia, e consiga olhar para suas criaturas com um pouco mais de compaixão e de ternura...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Fazia um bom tempo que eu num dava um BOOST na minha seçãozinha de Textos Prediletos, ainda humilde mas que pretendo continuar expandindo, então aí vão mais dois Mestres: a Poesia Divina de Bill Shakespeare e um capítulo do meu livro predileto do Sponville. Espero que cês curtam tanto quanto eu.

E enquanto isso eu me mando pra Sampa pra tentar fazer matrícula na USP. Ontem, é claro, eu tava só curtindo a euforia do pós-Aprovação, mas agora a Preocupação já tomou conta de novo. Isso porque, sendo ainda oficialmente um aluno da Unesp, eu não poderia estar querendo entrar em outra universidade pública, de modo que corro o risco de ficar barrado lá fora por causa dessa pendenciazinha aqui em Bauru. Ainda não me decidi se é melhor omitir o fato de que eu sou unespiano ainda, e tentar entrar como Bixo Normal, saído direto do Colegial, ou se o lance é abrir o jogo e esperar que os caras da fêfêlétch não queiram judiar de mim, pobrezinho...

E eu que pensei que ia começar a dormir tranquilo pela primeira vez em meses... Não dá pra desencanar e encontrar a Paz. Porque Murphy, como Chuck Norris, nunca dorme. E o pior defeito de Deus é que Ele não existe.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

AêÊêêÊ!

Parece então que as coisas estão entrando de volta nos trilhos...

Claro que eu mal consegui dormir essa noite. E os caras da Fuvest parece que gostam de tortura, tifalá... Ao invés de soltarem o lance à meia-noite, que é a atitude moralmente mais certa :-] pra num ficar judiando dos pretendentes-a-bixo sem razão, eles enrolam e enrolam e enrolam... Sádicos. Eu devo ter entrado naquela desgraça daquele site umas 60 vezes por toda a madrugada. E nada. E nada. CINCO DA MANHÃ e nada. Chegou uma hora que eu desencanei e disse: "vou pra cama, deixa pra amanhã!". Mas é claro que o sono num ia vir com tanta ansiedade borbulhando na minha cabecinha... Eu só queria que o futuro tivesse um rabo que eu pudesse puxar e fazer ele chegar mais rápido... Até coloquei pra rolar
<>o CD da Madeleine Peyroux, o melhor jazz de ninar que eu conheço (eu adoro aquela voz de velha de 90 anos de idade toda classuda que ela tem... ouvindo nem dá pra imaginar que a moça tem só uns 30 e <>esse visú....) - mas não, ela não conseguiu. "Tanta esperança e tanto medo..." É nessas situações que eu percebo o quanto o Mestre tem razão quando diz que a esperança e o medo são como gêmeos siameses, que vem sempre colados um no outro, e que, por essa razão e por muitas outras, a esperança é um dos maiores venenos que nos estraga a vida... Ih, ó o senhor Filósofo chegando aí... Agora é sério.

Agora passou aquela tormenta da Indecisão, da Indefinição, da Angústia, do Futuro Desconhecido... agora sei mais ou menos pra onde estou indo. Tou mais de boa. Tá na hora, agora, de procurar casa pra morar. E depois comprar uns móveis usados, porque os meus aqui de Bauru tão mais pra sucata do que pra móveis. Tô afinzão de continuar morando em República. Os últimos 4 anos da minha vida eu morei nesse Santuário de Bem-Aventurança e Harmonia que foi a BUÇALOUCA e que é agora a ADHUKHEIN, e foi realmente uma experiência de vida realmente muito muito foda. Vou sentir altas saudades disso aqui, de todas essas pessoas com quem eu morei, de todas essas histórias bizarras que eu carrego na memória... Vai dar um bom "Em Busca Do Tempo Perdido PUNK" daqui a alguns anos! Se Proust tivesse morado em República seria um escritor bem melhor - num falaria tanto de vestidos, salões de baile e bolinhos... Aquela bichona fresca...

Nesses meus últimos tempos em Bauru eu tô vivendo meio naquele estado de Saudade por Antecipação... sei lá como chamar esse sentimento. Só sei que é saudade da boa: aquela que se alegra pelo que viveu ao invés de se entristecer pelo que perdeu. Tanta coisa que eu quero contar... Olhando pra trás, na história desse blog, noto que eu falei muito pouco sobre a minha vida universitária e republicana por aqui - fora os xingamentos (merecidíssimos, aliás) contra o curso e os professores... Deve ter gente que fica com a impressão de que essa experiência toda foi pra mim uma merda tão grande que eu estaria arrependido. Mas de jeito nenhum. Não tô arrependido de nada. Se pudesse viver de novo, faria a mesma escolha de novo: iria abandonar São Paulo e a PUC de novo, iria me mandar pra Bauru e pra Unesp de novo, ia de novo subir a Ladeira da Benjamin Constant em direção à Buçalouca, ia de novo me abrigar lá no Porão junto com o Valinhos, ia... Porque tudo foi muito massa. Fugir de casa aos 17... quer coisa mais massa? É uma das coisas de que eu mais me orgulho.

Certo: eu gosto de dizer que FUGI de casa, porque assim minha vida fica mais parecida com um filme, quando é óbvio que foi tudo na base do consentimento e da aprovação. O lance é que, se eu escolhi ir pra Unesp, não foi certamente por causa da Qualidade do Curso ou por preferir Bauru a São Paulo. O lance é que eu queria ir embora de casa, que estava imensamente infeliz vivendo em família, que precisava urgentemente tentar algo novo, e agarrei a oportunidade... É sempre melhor se arrepender de algo que tu fez do que de algo que não fez, né? Então fugi de casa aos 17 aninhos, quase um bebê (o segundo mais jovem da minha sala), pra ir morar a 400 quilômetros de papi e mami, num porão, dividindo quarto com uma das criaturas mais gente-fina desse mundo (e ELE VIU RAMONES AO VIVO! ELE VIU RAMONES AO VIVO! Isso é que é Lenda...), e divindindo casa com um monte de gente que, olhando pra trás, eu vejo com um puta carinho (por mais bicha que isso possa parecer)... isso tudo foi muito bom. "I have nothing but afection for all who have sailed with me!"...

Viver em Família, depois disso, num dá vontade nenhuma... Depois de conquistar a independência, depois de morar com amigos, depois de ter me acostumado ao delicioso caos da vida republicana, num tem como curtir aquela vidinha regrada e certinha e luxuosa que eu levo em família. (Vê se pode: meu quarto é arrumado TODO SANTO DIA quando eu tô em Família. As pessoas não respeitam meu gosto pela zona! Não entendem que meu caos é um modo de ordenar as coisas. Nunca acho nada depois que me arrumam o quarto. E nunca entendi porque mãe sempre quer que a gente arrume a cama... pô, a noite já tá chegando aí, vamos ter que dormir de novo, pra que arrumar o que vai ser logo desarrumado?) Morar sozinho, pelo menos por enquanto, não quero. Não quero fazer nada sozinho. Chega. Cansou.

República é bem mais trimmassa. Qualquer dia desses eu preciso contar uns CAUSOS REPUBLICANOS (eu e o Mininão até fizemos um Trabalho Final sobre isso pra nossa DEPÊ... olha a coragem!). São de cascar o bico.

Tah virando QUERIDO DIÁRIO versão XIITA esse blog, hein? Costumava pensar que era melhor ficar só nos Assuntos Impessoais, só na Cultura e na Arte, mas não acho mais: o que importa é a vida. A arte pode esperar. Quero nem saber, estou a fim de fazer isso e vou fazer. Num é nenhum crime, é? A gente tem direito de ser egocêntrico uma hora ou outra, né?

Que venha a tinta! Que venha a máquina de rapar cabelo! Vou ver se peço pros veteranos me fazerem um MOICANO - quero ver como fica... Quero ser igual ao cara na capa do Rancid. Que venha o pedágio! Que venham mais aulas insuportavelmente chatas porque eu já tô com saudade de reclamar! Que venham os livros do Hegel e do Merleau-Ponty porque faz tempo que num taco livro com raiva na parede! Que venha! Ê beleza! Sou BIXO de novo, pela Terceira Vez! Tenho mesmo gosto pela coisa... Agora sim dá pra gritar:

U F A !

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Overdose de Cinema. Também, em Bauru, nas férias, sem porcaria nenhuma pra fazer, tenho mesmo é que assaltar a supimpa da Digital e - às quartas-feiras - a Video Imagem da Getúlio pra gastar o tempo de maneira produtiva... E essa cidade até que não é nada má em termos de Filmes Cult. Ó: já mudei de idéia sobre meus 15 prediletos do ano passado (ok, o Guia Dos Mochileiros realmente não merecia estar lá...). Agora (e só por enquanto [tudo é eternamente "só por enquanto..."]) ficou assim. E os últimos filmes vistos tão aqui no screening 2006 atualizado. Algumas OBS rápidas: 1) Achei um filmaço o "Munique" do Spielberg, talvez o melhor dele desde "A Lista de Schindler". 2) O "Spinal Tap" do Rob Reiner conseguiu me fazer gargalhar umas três vezes (um feito extraordinário); quem gostou do "Escola do Rock" do Linklater vai gostar desse também: é uma "Comédia de Rock" hilária, espertíssima e que dá vontade de ver várias vezes. 3) O "24 Hour Party People", pelo jeito, foi a única coisa que o Michael Winterbottom fez que presta, porque "9 Canções" e "Código 46" são dois filminhos bem desprezíveis... 4) E o Woody Allen... cara, é muito pouco só dizer que ele é um Grande Comediante ou um dos Melhores Roteiristas de Todos os Tempos (com uma dúzia de indicações ao Oscar nas costas) ou o criador de alguns dos melhores diálogos ever... É dizer pouco. Ele é muito mais que isso. É só ver dois Dramas Sérios como "Maridos e Esposas" e "Crimes e Pecados" (ou mesmo "Manhattan" e "Annie Hall", que num são tão sérios mas que tem lá seu quê de Drama e de Filosofia...) pra notar que o Woody é um dos maiores Mestres da história do cinema. Pra mim, sinceramente, ele tem uma filmografia muito mais poderosa, relevante e cheia de obras-primas do que um Godard, um Rosselini ou um Fellini... Pra que esperar que ele morra pra dizer essas coisas? Desde já: "Gênio!..."

domingo, 5 de fevereiro de 2006

LIFE IN A GLASSHOUSE.

"Gosto de quem fala como quem se despe,
não pra se exibir, como querem os exibicionistas,
mas pra parar de se esconder."
André Comte Sponville.


O que eu mais queria era me tornar transparente. Como se a minha carne se tornasse vidro, e daqueles dos mais cristalinos, que deixa ver tudo lá dentro... Estou já bem cansado de viver assim: emparedado, protegido, brincando de esconde-esconde, guardando tudo dentro do meu cofre... É com certeza esse o meu maior defeito, dentre tantos que tenho: sou uma pessoa muito fechada, que costuma trancafiar dentro de si a maioria de seus sentimentos e pensamentos, e que depois precisa ir conversar com o papel pra desabafar... Tenho essa dificuldade tremenda em conseguir confiar em alguém o bastante para ter a coragem de abrir o meu coraçãozinho, e essa minha encanação, esse meu receio, me empareda vivo na meia-vida... Tudo o que eu mais queria era atingir um certo estado onde eu pudesse dizer: "não tenho nada a esconder, nada do que me envergonhar, nada a omitir, nenhuma necessidade de fingir que sou melhor do que sou... me contento em ser."

Ter um blog pode parecer uma bobagem pra muita gente, mas pra mim é, sinceramente, uma das coisas mais importantes da minha vida - e algo que eu realmente acredito que me ajuda a viver melhor. Gosto de ter esse lugarzinho perdido num canto da Internet onde eu possa me expressar, me mostrar, extravasar, fazer meu treinamento na arte da abertura e da transparência... Claro que ainda tenho um certo temor - cada vez menor, com certeza - de revelar coisas extremamente íntimas por aqui, e me escondo então detrás de todos esses filmes, esses discos, esses livros... Mesmo sabendo que esse Dirty LIttle Mummie é menos visitado por internautas do que a Ruanda por turistas, ainda assim receio o que essa dúzia de leitores que tenho vai pensar de mim...

É sempre assim: sou escravo (sempre fui) dessa poderosa entidade que é "O Que Os Outros Vão Pensar"... "O inferno são os outros", diz um personagem de Sartre, e eu muitas vezes concordei. Eu sou assim: não consigo ser nenhum pouco indiferente ao que possam pensar de mim. Sou extremamente ENCANADO, a ponto de muitas vezes perder toda a espontaneidade, toda a naturalidade, e às vezes ficar paralisado na timidez e no silêncio... E estou ainda muito longe de chegar àquele estado do "não dou a mínima para o que possam pensar sobre mim!". E não sei se algum ser humano consegue atingir isso. E nem sei se deveria. Não são sempre os outros que nos dizem quem somos? Não é sempre deles que provêm o alimento de que mais necessita a nossa alma? É aquela coisa: "nós não somos ninguém nem nada se alguém não nos olha, não reconhece nosso valor, não preza nossa existência, não diz a nós que temos algum valor, não devolve a nós a nossa imagem ungida de algum brilho, de alguma vitalidade, de algum reconhecimento...".

Fui um péssimo aluno na Escola do Punk Rock, agora vejo bem... O Mestre Punk sempre me dizia: "ei, cara, desencana! Seja quem você é! Está tudo bem se você for imperfeito e um pouco ridículo, se você não for nenhum gênio, se tiver sentimentos de criança, se for um pouco bobo, se tiver uns medos bestas! Cê num precisa ficar se achando um fracasso só porque num consegue solar como Jimi Hendrix: se contente com teus três acordes! Se forem tocados com sinceridade e entusiasmo, por que não poderiam ser muito mais fundamentais esses três acordes do que qualquer solo de dez minutos? Ei: num abaixa tua cabeça só porque você num é idêntico aos teus sonhos! YOUR STANDARDS ARE WAY TOO HIGH! Mande teus sonhos pro inferno e "torna-te quem tu és!" Pare de se preocupar com o que os outros vão pensar e viva livre! Pare de se auto-limitar com seu medo eterno de que os seus atos e palavras possam não agradar! Não seja assim tão sério! Mas que diabo! A seriedade é uma Doença da Cabeça, cara! Não te contaram não? Vai se tratar!..." E no fim do curso, chegou meu boletim e tava lá: Eduardo, REPROVADO COM NOTA 1.0 na Escola do Punk... Back to school, dumb-ass!

Eu deveria utilizar a palavra escrita para me fazer conhecido, usar o blog como um Campo de Treinamento. Estou cansado de andar pelo mundo sentindo que as pessoas não me conhecem tão bem quanto eu gostaria. Sei que eu mesmo impedi esse conhecimento com as minhas proteções e meus muros, e que se devo reprovar alguém, é muito mais eu mesmo, por ter sido tão arredio e anti-social, do que os outros. Eu também não me esforço tanto por tentar conhecer as pessoas, na maior parte das vezes... É tão mais fácil enfiar a pessoa numa imagem estereotipada dentro do nosso Catálogo Mental de Pessoas! Tão mais fácil colocar um rótulo, fazer um julgamento rápido, e não pensar mais nisso... Tão mais fácil acreditar que as pessoas são aquilo que nós queremos que sejam e não o que realmente são...

Eu poderia criar textos ultra-complexos, cheios de palavras difíceis, fazendo altos malabarismos de pensamento e escrita... e poderia criar textos exibindo muito conhecimento, soltando nomes de bandas e filmes e escritores pra todo lado, só pra mostrar o quanto eu sou "culto e antenado"... Sim, eu poderia ficar me exibindo para os outros à maneira dos exibicionistas... Mas é claro que não é isso o que quero fazer - e não é o que o Mestre recomenda. "Gosto de quem fala como quem se despe, não pra se exibir, como querem os exibicionistas, mas pra parar de se esconder", diz o Sponville. Porque exibicionismo tem sempre muito de falsidade. E escrevem-se muitos textos que não passam de punheta... Caras que escrevem somente para poderem se vangloriar de que sabem escrever bem, ou que sabem pensar bem, ou que tem muitos conhecimentos, ou que são espertalhões... É natural, claro, e também faço isso frequentemente. Mas quero tentar vencer meu Desejo de Falsidade, minhas máscaras, meus personagens idealizados. Agir sendo quem sou e não quem eu gostaria de ser. Não sei se me entendem... Eu penso assim: quando vamos escrever, fazemos um "recorte de nós mesmos", selecionamos cuidadosamente aquilo que em nós parece capaz de gerar nos outros admiração, amor, respeito, simpatia... Por isso a coisa por vezes acaba soando falsa, kitsch, não-genuína... O escritor, quase sempre, não passa de um publicitário de si mesmo, e se vende como um produto: todo o mal é escondido, posto debaixo dos tapetes, omitido, e todos os holofotes são dirigidos para o bem que se possui - ou que se finge possuir. Omitir também pode ser uma forma de mentir - e talvez a mais comum delas.

O que quero não é exibir somente o que há em mim de nobre, de louvável, de admirável. É claro que isso também. Mas o importante é que exiba tudo, inclusive - e sobretudo! - aquilo em mim que é fraco, feio, sujo, pequeno... Podem perguntar: mas pra quê eu iria chatear os outros com meus defeitos? Em que isso poderia ajudá-los? Acho que tudo se resume à tentativa de ser quem sou. E também isso evitaria que as pessoas me idealizassem demais. É um antídoto contra as decepções que poderiam surgir. É como se eu dissesse: "vejam só como estou longe de ser perfeito! Posso ser extremamente egoísta, choramingas, rancoroso, sem graça, tedioso, apático... Tenho em mim todos esses vícios, esses defeitos, essa confusão... E sofro de melancolia aguda... então não me peçam pra ficar fingindo que a vida é a maior das maravilhas e das delícias - porque esse simplesmente não é meu estilo... Não espere de mim que eu aja como um deus ou um anjo: sou só um homem! Talvez nem isso... Oh, people say i'm a child! Oh no, oh no, I'm much younger than that!"... Sinceridade e humildade. A fraqueza confessada e - tomara! - aceita. "A verdadeira grandeza não está do lado da vontade de poder", diz o meu grande mestre Sponville (se voltando contra Nietzsche e toda aquela arrogância dele, toda aquela ambição ególatra...), "mas do lado da fraqueza confessada e perdoada."

"I'm so tired of acting tough, so I'm gonna do what I please!"

Acredito que é preciso muita força para conseguir admitir a fraqueza. E acredito que há muita sabedoria em se admitir a ignorância. E que a sinceridade é sempre melhor que o cinismo. Mentir não vale a pena. Quero sempre mais luz - luz banhando tudo, luz, luz e mais luz... Quero me mudar para a Casa de Vidro...