segunda-feira, 12 de maio de 2008

:: detachable hearts ::


“Pertencemos à geração do descartável, desinventamos o duradouro. À navalha, que durava a vida inteira, preferimos o barbeador que se utiliza só um par de vezes e se joga fora. Trocamos o bom e sóbrio tecido que usaríamos durante anos, pela alucinante cor da moda que durará apenas uma estação. (...) Resistência e boa qualidade tornaram-se palavras sem sentido, o máximo que admitimos é obsolescência planejada. Esse “descartismo” contaminou os sentimentos. Sem, entretanto, mudá-los por completo.

Hoje, quando me apaixono, penso que se acredito no grande amor e se faço sonhos de eternidade sou uma romântica ridícula. Pior que isso, sou uma pessoa incapaz de viver a realidade, de enfrentar a precariedade das relações humanas, de “elaborar as perdas”... Enfim, sou alguém próxima da inadequação, que sem muito esforço poderia ser chamada de neurótica.

Mas se me apaixono e não acredito na possibilidade do grande amor, se já começo pensando no fim, sei que sou uma cínica, uma superficial. Pior que isso, sou uma pessoa incapaz de viver as grandes emoções em toda a sua grandeza, de acreditar na força redentora dos sentimentos, de aceitar o desafio da entrega. Enfim, sou alguém próxima da inadequação, que sem muito esforço poderia ser chamada de neurótica.

Incapaz de resolver a divisão a contento, fico com as duas possibilidades, amo eternamente preparando minha alma para a despedida, e bato no beito culpada por amar de todo, culpada por não amar de todo.”
(Marina Colasanti)