NOVIDADE!
consultei todos:
manuais de medicina,
compêndios de anatomia,
teses de cardiologia
mil e uma poesias.
Achava que por ali
disso se entendia.
Que dicas e remédios
Ali encontraria.
Mas jamais achei rastro
do que hoje me acomete
e causa tanto estrago:
óh desgraça! Óh sina maldita!
Estou – pasmem! - com o coração realista...
não é uma barbaridade?!?
é com certeza uma grande novidade...
Meu coração alado, incendiado,
depois de tanto ter tombado,
apossou-se das tesouras
e têm suas próprias asinhas cortado...
Não se dá mais nem a permissão
De sonhar sua própria redenção.
Entrou para o partido da contenção.
Obriga-se a manter os pés no chão.
Chamem os médicos, soem os alarmes!
Meu coração, ai de mim, anda sensato...
(31/08)
* * * * *
FARENHEIT 451
ou A HIGIENE PELO FOGO
a alma deserta de lirismo,
("a carne é triste
e eu já li todos os livros.")
ah! a sensaboria de ser
chamem pra mim os bombeiros de farenheit 451!
que subam ao meu peito munidos de lança-chamas!
que cheguem chutando portas e estraçalhando vidraças!
que venha sem misericórdia o esquadrão anti-mofo!
alugo meu coração como salão de festas! venham todos!
pintem arco-íris nas paredes!
ou mesmo frases obscenas...
decorem com bexigas e bandeirolas!
façam zona e barulheira!
explodam fogos no meu céu!
e que todo dia seja Reveillon!
tragam abaixo, sem dó,
meus medos e muros e mortes,
as traças, velhices e bolores,
mágoas, lágrimas e dores.
e minhas bibliotecas interiores,
nem me importo que exterminem.
prefiro que tudo crepite e arda,
ao invés desta atual palhaçada:
sopa de letrinhas amontoadas
numa Sibéria bem-letrada.
prefiro um relâmpago de um segundo
a uma eternidade de trevas.
e uma festa de arromba, que morre,
(27/08)
* * * * *
"i'm gonna make a mistake
gonna do it on purpose
unpave my path."
(fiona apple)
erros? hei de cometê-los todos!
e com muito gosto.
teria vergonha se dissessem de mim, defunto:
"este na vida errou pouco".
errar pouco é um erro imenso.
(05/08)
* * * * *
SÍNDROME DE PIDÃO
Talvez no restaurante da vida
eu esteja pedindo um prato
que nem está no cardápio...
Os chefs não sabem prepará-lo.
Os ingredientes não há no mercado.
E depois culpo as garçonetes,
dando um escândalo danado,
quando, aguardando um banquete,
me trazem na bandeija um nabo.
* * * * *
POESIA CONCRETA
Dentre tantos e tantos
Sem perder o rebolado
(cagando no scrapbook dos outros...)
"que coisas maravilhosas escreveríamos
se não tivéssemos 'bom-gosto'!"
* * * * *
ai, caralho, agora que sarei, um problemaço:
"QUE FAREI COM MEUS PULMÕES NORMAIS?!?!"