domingo, 5 de abril de 2009

:: colecionador de palavras preciosas ::

That's me! Post para compartilhar 3 jóias:

“...no amor 'eu' foi um outro. Esta fórmula que nos conduz à poesia ou à alucinação delirante sugere um estado de instabilidade em que o sujeito deixa de ser indivisível e aceita perder-se no outro, pelo outro. Com o amor, tal risco, aliás trágico, passa a ser admitido, normalizado, garantido ao máximo. A dor que fica é testemunha, entretanto, dessa aventura, na verdade milagrosa, de se ter podido existir para, através, em vista de um outro. Quando sonhamos com uma sociedade feliz, harmoniosa, utópica, a imaginamos construída com base no amor, já que ele me exalta ao mesmo tempo que me escapa ou me excede.” (...) “...a abertura para o outro desempenha um papel decisivo na evolução das espécies, bem como na maturação de cada geração ou na história individual de cada um. Mas pode-se considerar que com Freud, pela 1a vez, a relação amorosa (ainda que imaginária) enquanto identificação e desligamento recíprocos (transferência e contratransferência) foi tomada como modelo do funcionamento psíquico optimal. O psiquismo não é mais a alma alada platônica aspirada para o mundo supralunar, nem simplesmente a alma contemplativa que assombra o ascetismo ocidental desde Plotino, pelo menos. O psiquismo é um sistema aberto conectado a um outro, e nesta condições apenas ele é renovável. Se você vive, seu psiquismo é amoroso. Se ele não é amoroso, você está morto.” [JULIA KRISTEVA. Histórias de Amor.]

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"Nous ne cherchons tous qu'une seule chose dans cette vie: être comblés par elle - recevoir le baiser d'une lumière sur notre coeur gris, connaître la douceur d'un amour sans déclin. Être vivant c'est être vu, entrer dans la lumière d'un regard aimant..." (...) "Je vous aime, madame - même si cet amour ne vaus pas et ne vaudra jamais pour un acquiescement au monde: on ne peut ressentir la douceur de cette vie sans en meme temps concevoir une colère absolue contre le mal qui la serre de toutes parts. C'est une règle à laquelle obéissent les peintres quand ils renforcent leurs noirs, afin que leurs clairs soient vraiment clairs." (...) "Dans le bleu de cette beauté vous devinez le noir òu elle s'abîmera bientôt, et vous trouvez dans cette vie conjugale du bleu et du noir l'unique leçon de choses qui vous convienne, la preuve d'une excellence de cette vie òu tous nous est donné à chaque instant, le bleu avec le noir, la force avec la blessure. La seule tristesse qui se rencontre dans cette vie vient de notre incapacité à la recevoir sans l'assombrir par le sentiment que quelque chose en elle nous est dû: rien ne nous est dû dans cette vie, pas même l'innocence d'un ciel bleu. Le grand art est l'art de remercier pour l'abondance à chaque instant donnée." [CHRISTIAN BOBIN. L'inesperée].

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“Não nos provoca riso o amor
quando chega ao mais profundo de sua viagem,
ao mais alto de seu vôo:
no mais profundo, no mais alto,
nos arranca gemidos e suspiros,
vozes de dor, embora seja dor jubilosa,
e pensando bem não há nada de estranho nisso,
porque nascer é uma alegria que dói.
Pequena morte, chamam na França,
a culminação do abraço,
que ao quebrar-nos faz por juntar-nos
e perdendo-nos faz por nos encontrar
e acabando conosco nos principia.
Pequena morte, dizem;
mas grande, muito grande haverá de ser,
se ao nos matar nos nasce.”

[EDUARDO GALEANO, in: Mulheres]