La vie ardente
Mon coeur, je l'ai rempli du beau tumulte humain:
Tout ce qui fut vivant et haletant sur terre,
Folle audace, volonté sourde, ardeur austère
Et la révolte d'hier et l'ordre de demain
N'ont point pour les juger refroidi ma pensée.
Sombres charbons, j'ai fait de vous un grand feu d'or,
N'exaltant que sa flamme et son volant essor
Qui mêlaient leur splendeur à la vie angoissée.
Et vous, haines, vertus, vices, rages, désirs,
je vous accueillis tous, avec tous vos contrastes,
Afin que fût plus long, plus complexe et plus vaste
Le merveilleux frisson qui me fit tressaillir.
Mon coeur à moi ne vit dûment que s'il s'efforce ;
L'humanité totale a besoin d'un tourment
Qui la travaille avec fureur, comme un ferment,
Pour élargir sa vie et soulever sa force.
(Meu coração, eu o preenchi com o belo tumulto humano. Tudo o que foi vivo e ofegante na terra, audácia louca, vontade surda, ardor austero e a revolta de ontem e a ordem de amanhã não esfriou-os, para poder julgá-los, meu pensamento. Carvões escuros, transformei-vos num grande fogo de ouro, exaltando apenas sua chama e seu volante crescimento, que misturavam seu esplendor à vida angustiada. E vós, iras, virtudes, vícios, fúrias, desejos, eu acolho a todos vós com todos vossos contrastes, para que seja mais longo, mais complexo e mais vasto o maravilhoso frêmito que me fez estremecer. Meu próprio coração só vive bem quando se esforça. A humanidade total necessita de um tormento que aja sobre ela com furor, como um fermento, para ampliar-lhe a vida e levantar-lhe a força.)
ÉMILE VERHAEREN (1855-1916)
tradução: Mário Faustino (e alguns remendos)
tradução: Mário Faustino (e alguns remendos)
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