domingo, 19 de abril de 2009

:: you better blow your kiss goodbye to life eternal ::


Lá no Depredando o Orelhão, Antro da Pirataria Digital onde sou o Cabeça da Quadrilha, pus uma homenagem ao aniversário de 15 anos do "Grace", magnífico álbum de estréia do finado Jeff Buckley. É um dos discos que eu mais ouvi na vida (e com que ardor!) e que ainda hoje, depois de anos e anos de convivência, continua a me comover e me deixar perdido em admiração. Glue there!

Atingimos esses dias a espantosa marca de 50.000 visitas (o Morumbi tá ficando pequeno para a turminha depredística!). Sem falar que, tempos atrás, também já tínhamos deixado Jesus Cristo no chinelo, conquistando uma dezena de discípulos a mais do que o obsoleto profeta. Não escondo minha alegria ao descobrir que o crime compensa tanto assim! Agora novos projetos e idéias estão borbulhando para o blog: mais entrevistas exclusivas com bandas nacionais, mais matérias sobre os que batalham na independência, mais pet-sounds e podcasts (vem aí a Rádio Depredando!), sem falar de fornadas cada vez mais frequentes de "pães quentinhos".

Inclusive instalei - por aqui e por lá - uns anunciozinhos do Google, para ver se faturamos um troco em recompensa pelo trampo árduo que dá fazer o blog e mantê-lo atualizadinho, com 2 ou 3 posts novos por semana. As almas caridosas que quiserem tacar uma moedinha na minha xicarazinha de mindingo, favor clicarem aí nos reclames-do-plim-plim...

Fiquei me perguntando, antes de tomar essa decisão: será que é uma atitude "mercenária" da minha parte? Tô sendo movido pelo desemprego a apelar para técnicas anti-éticas de arrecadar capital? Isso é uma tentativa criminosa de lucrar em cima do trabalho artístico alheio? Sou um bandido digital, um trombadinha internético, que as autoridades deveriam pôr em cana? Foi um pouco essa a polêmica que surgiu dentro a Equipe Depredando em relação aos anúncios: o Bernie com medo de sermos processados e alertando que tem muito nêgo indo pro xilindró por isso, o Marcolito questionando se era ético ou não colocar essas iscas publicitárias por ali, e eu também um tanto dividido e dilemado...

Me defendo dizendo que considero o blog muito mais como um Espaço Comunitário onde Compartilhamos Cultura, muito mais centrado em Jornalismo, Crítica Musical e Análise Cultural do que promovedor da pirataria mais deslavada. O links para baixar os discos são certamente o maior atrativo, aquilo que chama todas essas multidões de visitantes (cerca de 1.000 por semana), mas por aqui a ênfase sempre foi no conteúdo, na crítica bem feita, nos textos bem-escritos e pormenorizados, no ecletismo de gêneros, na informação detalhada, o que aliás é um belo diferencial entre o Depredando e as centenas de outros blogs que são somente fábricas de links.

Considero ainda que neste imenso Oceano de Informação que é a Internet, com tantos milhões de músicas disponíveis para download, a sensação de desnorteamento do amante de música tende a ser cada vez maior, de modo que um blog como esse, no fundo, teria a função pra lá de relevante de ser uma espécie de FILTRO, através do qual só passam os conteúdos, pescados deste imenso mar digital, que achamos que valem a pena ser conhecidos - ao mesmo tempo que damos a chave, de mão beijada, que abrem as portas certas. A palavra chave não é "pirataria", mas "compartilhamento". Isso aqui é o COMUNISMO CULTURAL invadindo o mundo digital e não há muito o que as autoridades possam fazer para impedir essa epidemia de se disseminar...

Pois é fato que as coisas estão mudando num ritmo frenético: nesta década que decorreu desde a criação do Napster, em 1999, até hoje, com essa epidemia de blogs e torrents e iPods, todo o império da indústria fonográfica entrou em colapso. Não há símbolo maior do que este: a megastore da Virgin em Nova York, uma das mais faraônicas lojas de CD do Planeta Terra, fechou suas portas faz pouco e foi substituída por uma loja de roupas de um coreano ambicioso, a Forever 21 - como conta matéria na última Piauí. O modo como consumimos música jamais será o mesmo e não duvido que, em alguns anos, lojas de CD tornem-se tão obsoletas quanto as de máquinas de escrever ou videocassetes. Como diziam as palavras geniais Bob Dylan, décadas atrás, quando ele tentava varrer os esqueletos que atravancam a estrada do tempo:

"Come mothers and fathers
Throughout the land
Don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is rapidly agin'.
Please get out of the new one
If you can't lend your hand
For the times they are a-changin'..."