segunda-feira, 27 de julho de 2009

:: dos poemas que amamos juntos... ::

...e sabendo que amar-sozinho é quase um crime.


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a demais por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

(Alberto Caeiro)

* * * * *

“Que eu não veja empecilhos na sincera
união de duas almas. Não amor
É o que encontrando alterações se altera
Ou diminui se o atinge o desamor.
Oh, não! Amor é ponto assaz constante
Que ileso os bravos temporais defronta.
É a estrela guia do baixel errante,
De brilho certo, mas valor sem conta.
O Amor não é jogral do Tempo, embora
Em seu declínio os lábios nos entorte.
O amor não muda com o dia e a hora,
Mas persevera ao limiar da morte
E, se se prova que num erro estou,
Nunca fiz versos nem jamais se amou.”

(Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remove to remove.
Oh, no! It is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken,
It is the star to every wand’ring bark,
Whose worth’s unknown, although his height be take
Love’s not time’s fool, though
Rosy lips and cheeks
Within his bending sickle’s compass come
Love’s alters not with his brief hours and weeks.
But bears it out even to the edge of doom
If this be error and upon me prov’d
I never writ, nor no man ever lov’d. )

(William Shakespeare)