Não, ainda não desisti desse bloguito e ainda não entrei em crise de inspiração. Meu sumiço é só pq estive me dedicando a escrever uma materiona pra nova edição da Rabisco, que deve entrar no ar logo logo (não conto sobre o quê pra não estragar a surpresa). Agora q a coisa já está feita, volto a postar por aqui daqui a alguns dias. Pra não dizerem que esse blog ficou sem nada de bom pra ler por mais de 10 dias, deixo vocês com o Mestre Eduardo Giannetti e um trechinho do magistral "Auto-Engano", um dos melhores livros de filosofia já escritos no Brasil (mas a concorrência é pouca...), que está sendo relançado naquela coleçãozinha de pocket-books da Companhia das Letras, facilmente encontrável por aí. Vale muito a pena ler, esse e o "Felicidade"...
"Sonhar e acreditar no sonho são o sal da vida. Não há nada de errado, em princípio, em apostar alto na vida privada ou na vida pública, correr o risco no amor, na política, nos negócios ou no que for o caso. O comportamento exploratório - ousar o novo, tentar o não tentado, pensar o impensável - é a fonte de toda mudança, de todo avanço e da ambição individual e coletiva de viver melhor. Viver na retranca, sem esperança e sem aventura, não leva ao desastre, é verdade, mas também não leva a nada. Pior: leva ao nada da resignação amarga e acomodada que é a morte em vida - o niilismo entediado, inerte e absurdo do 'cadáver adiado que procria'.
O problema não está em sonhar e apostar, mas na qualidade do sonho e na natureza da aposta. O melhor dos mundos seria combinar o ideal prático da coragem nas nossas convicções, quando se trata de agir, com o ideal epistêmico da máxima frieza e distanciamento para atacar e rever as nossas convicções, quando se trata de pensar. (...) Reconhecer, de um lado, que nada de grandioso se faz neste mundo sem entusiasmo e paixão, mas nem por isso acreditar, de outro, que a força da paixão e o ardor do entusiasmo se tornem critérios de verdade em nossa compreensão do mundo."
"A idéia de perfeição é obviamente uma ficção humana. Seu grande mérito - como é o caso das utopias em geral - é servir como um contraste que inspire e permita realçar com tintas fortes a extensão do hiato entre o que é e o que pode ser: a distância que nos separa do nosso potencial. Mais que um sonho, o ideal é uma arma com a qual se desnuda um mundo injusto, corrompido e opressivo.
Na prática, é claro, nada que é humano se aproxima da perfeição, a começar pelo próprio pensamento utópico. Um risco que nunca pode ser descartado - e o século que termina foi pródigo em lições desse tipo - é o de tentar melhorar as coisas e acabar tornando-as piores do que são. 'O caminho do inferno', alertava o cruzado militante são Bernardo no século XII, 'está repleto de boas intenções'. O problema é que o imobilismo e a resignação também chegam lá. Se agir é muitas vezes perigoso, deixar de agir pode ser fatal."
- Ah, e eu sabia que esse lance de lista de filmes num ia dar certo. Já mudei de idéia sobre muita coisa. De lá pra cá, e olha q só foram 10 dias, já assisti 2 filmes que teriam q entrar no meu top 100, e se pá entre os 50 primeiros. Sem paciência pra comentários, resenhas ou qualquer outra coisa, só deixo a recomendação - assistam essas duas pérolas:
MY SUMMER OF LOVE, de Pawel Pawlikowski, um perverso conto sobre lesbionismo, hipocrisia e mind games, uma das fotografias mais hipnotizantes dos últimos tempos... Ah, e esse filme tem olhos. Olhos com O maiúsculo. OLHOS no CAPS LOCK. Olhos de mulher que dá vontade de apertar o pause e ficar babando por 5 minutos...
NORMA RAE, do Martin Ritt (meu mais novo Diretor Prediletíssimo: vi 3 filmes dele, paguei pau pra todos: esse, "O Indomado" e o "Ver-te-ei No Inferno") - não julguem pela capa: o filme é MARXISTA até o osso, realista pra caramba e a Sally Field tá divina (Oscar de Melhor Atriz em 79). Esse vai ser provavelmente o único Filme de Esquerda Engajado Em Favor da Classe Proletária que vai te fazer chorar de emoção.
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