quarta-feira, 16 de abril de 2008

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Deixem-me contar algumas novidades sobre a minha vidinha, que eu mesmo sempre considerei tão insossa e não-hollywoodiana ("eita vida besta, meu deus!"), já que ultimamente, vejam só, coisas têm acontecido (uau!).

* Pois a minha carteira, estropiadaça e sem nada de muito valor, que tinha sido roubada na USP, reapareceu misteriosamente no banheiro da ADMINISTRAÇÃO DA FFLCH, com toda a grana e os tíquetes de bandeijão surrupiados, mas com todos os meus documentos devidamente devolvidos. O que prova, contra todos os guevarinhas canhotos que insistem em fazer inflamados discursos contra o Sucateamento da Universidade Pública, que dentro da Facul do Governo até bandido é mais ético do que lá fora! (rs) O trombadinha teve a delicadeza de deixar o item roubado no lugar onde seu legítimo dono seria mais facilmente localizado! Me espanta a bondade das pessoas. :P Fiquei aliviado porque não vou precisar perder horas no Papa Tempo tirando todos os trecos de novo, eu que odeio filas, burocracias, taxas e num dou a mínima pros meus documentos, apesar de saber que posso entrar em apuros não estando na posse deles... Agora vou ver se largo-mão de ser besta. De hoje em diante, cadeados e paranóia - porque o mundo é foda.


* Entrei na P.I.C.(a) e agora tô fudidim-da-silva-sauro e vou ter que estudar direitim, como um bom filósofo, pra honrar o meu pertencimento ao coiso... Sendo que estudar direitim mesmo foi algo que eu não fiz até agora neste curso - nem no anterior, claro. Não é que eu seja totalmente vagabundo e passe meus dias coçando o saco e vendo TV - muito pelo contrário! Eu leio muito mais do que 90% das pessoas que eu conheço, mas quase nunca são os textos e os xeróxes pedidos pelo professorado. Só consigo ler o que eu curto, o que me interessa de verdade, o que chama minha atenção, o que me empolga, me inflama, me influencia, me comove... Não gosto de estragar o prazer da leitura, que é uma das coisas que eu mais gosto de fazer nessa vida (ler, ler e ler...), com o aporrinhamento de ler por obrigação. Até hoje não sei direito o que significa "ler por obrigação" de tão pouco que eu fiz isso...

Bão, o processo seletivo do Programa de Iniciação Científica da Filô consistiu em várias etapas - uma dissertação com um tema difícil ("O consenso universal é prova de verdade?"), uma prova de línguas (tradução de um textículo filosófico esquisitíssimo!) e uma entrevista tenebrosa, frente a 4 professores da Filosofia, numa salinha sombria no fim-do-corredor, que parecia um enredo kafkiano...

Na dissertação eu citei até Nelson Rodrigues ("toda unanimidade é burra!", eu gritei, mostrando que o fato de algo ser reconhecido como verdade-unânime não provamuita coisa, já que é bem possível que todo mundo 'teja loucaço). Na tradução eu fugi até a biblioteca (me permitiram!), colei dum dicionário dus bão e notei que meu ingrish tá em bom estado. E depois menti adoidada e convincentemente na entrevista, dizendo que considerava meu desempenho no curso esplêndido, justificando muito bem as minhas bombas, garantindo que tinha a maior vontade de seguir carreira acadêmica e participar dos seminários sobre Kant e Hegel, e que ia me dedicar de corpo e espírito à minha pesquisa, cuja relevância universal eu soube defender mutcho bem... Mas a verdade é que eu estava visando com greedy eyes a bolsa, bom complemento à Bolsa Família que por enquanto tem me sustentado, e que seria um bom help pro meu pocket tão fucked up nos últimos tempos...

Eu ando malzão de grana... Isso por ser, ainda hoje (23 de idade oficial, apesar dos 13 de idade sentimental), funcionário da V.A.S.P. e punk-com-salário. (E também porque eu bebo demais - e o Supermercado Padrão tá querendo mifudê de vez vendendo Vodka Izbika, 48% de teor alcóolico, de efeitos etílicos comprovadamente fuderosos, por 10 pilas! Sacanagem!) Por isso achei que era uma boa ter alguém me pagando pra estudar. Ainda mais podendo ler o que eu quero ler e não o que me mandam. O legal da P.I.C.(a) - não abandono mais tão carinhoso apelido... - é que você pode se aprofundar mais nos assuntos, temas e autores que mais curte, sem ser obrigado, como acontece na maior parte das disciplinas, a ler uns nêgos que tu nem tá muito a fim de conhecer ou que ainda não chegou na hora certa de enfrentar...

O meu orientador, segundo o meu amigo Rodrigo Malmsteen, é a cara do Renato Russo. Ele avacalha legal as perguntas estúpidas que lhe são feitas e dá umas aulas que deixa todo mundo achando que o Spinoza era o maior loucão. Nesse semestre a coisa mais legal é ir pras aulas de Filosofia Moderna I e ficar tão malditamente confuso, perdido, desnorteado e cheio de dúvidas irrespondíveis a ponto de pensar que tio Baruch de Espinosa escreveu tudo depois de fumar uns béques muito loucos em Amsterdam. Será que naquela época já rolava uma cannabis como auxílio psico-químico para os gênios filosóficos?!?

* A princípio eu queria fazer um trampo sobre o André Comte-Sponville, meu filósofo predileto, queridíssimo do meu coração (mais ainda depois que vi esse Penteado Punk Charmoso que ele tá usando! Mais galã que o George Clooney!). Dele eu já li as Obras Completas, alguns livros várias vezes, e a familiaridade com o pensamento dele é a maior possível... Mas ele é muito desconhecido e pouco respeitado na Academia (acho que ainda vai levar umas décadas para que ele seja reconhecido, mesmo que postumamente, como um dos maiores gênios filosóficos do pós-existencialismo...). Então resolvi escolher como tema de pesquisa algo mais vasto, apesar de relacionado com o sponvillianismo, e que me interessa bastante.

Vocês devem ter notado, se acompanham as publicações do mercado editorial e as sessões de lançamentos das grandes livrarias, que nos últimos anos têm se feito notar uma grande maré montante de obras atéias e anti-religiosas que procuram se contrapôr ao recrudescimento do fanatismo religioso neste começo de século 21. Isso rendeu até matéria na Veja, procês verem a repercussão pop do "fenômeno". O Richard Dawkins, com o seu "Deus: Um Delírio", o Michel Onfray, com seu "Tratado de Ateologia" (best-seller na França) e o próprio Sponville, com "O Espírito do Ateísmo", primeira sistematização do seu pensamento sobre questões religiosas, entre outros autores de menor quilate, indicam a existência desse novo fenômeno intelectual - que eu me propus a estudar.

É o fenômeno dessa Frente Militante Ateísta que se ergue, fazendo um estardalhaço dos diabos, para protestar contra o retorno do dogmatismo religioso, e toda a estupidez que ele traz junto, neste começo de século. Como disse meu orientador numa aula, esses dias: "As trevas retornaram, então se faz necessário que as Luzes voltem a se acender!" Esse "retorno das trevas", digno de um fime de terror (e quer Filme de Terror mais assustador que a Realidade?!?), é simbolizado muito bem pelas dúzias de atentados terroristas e homens-bomba que já mataram milhares em nome de Alá, por exemplo, dos quais o Onze de Setembro é só um entre centenas de outros exemplos. Ou por atos de censura absurdamente anacrônica a obras literárias, como ocorreu com o romance Os Versos Satânicos, ótimo livro do Salman Rushdie, que fez com que os malucos lá no Irã o condenassem à morte e o perseguissem como uma bruxa, como se estivéssemos ainda na Idade Média...

Eu me proponho, pois, a estudar o Ateísmo Contemporâneo, como ele se manifesta em autores como Dawkins, Onfray, Sponville, Conche e Ferry, fazendo um paralelo com outros clássicos do pensamento que argumentaram contra o fanatismo religioso. Também me proponho a fazer paralelos com obras literárias que também tratam dessas questões, como os clássicos do José Saramago ("O Evangelho Segundo Jesus Cristo") e do Nikos Kazantzakis ("A Última Tentação de Cristo"), sem falar no próprio Salman Rushdie.

Uma grande vantagem desse tema de estudo é que eu já li grande parte das obras que é preciso estudar, já estando bem inteirado nas argumentações que se faz para provar a inexistência de Deus e nas provas históricas da Imensa Quantidade de Sangue Derramado em nome do Divino, sendo que não vou precisar ler excessivamente, mas somente sistematizar o conhecimento que está contido nos grandes clássicos da literatura anti-religiosa.

Talvez eu vá colocando aqui os capítulos que forem saindo... A princípio, vou estudar mais à fundo estes 5 livros, todos excelentes e recomendados pra todo mundo:

FREUD - O Futuro de Uma Ilusão
FEUERBACH - A Essência do Cristianimo
RICHARD DAWKINS - Deus: Um Delírio
ANDRÉ COMTE-SPONVILLE - O Espírito do Ateísmo
MARCEL CONCHE - Orientação Filosófica


* Mudei de casa faz uns 20 dias, para a QUINTA república da minha Vida Universitária, somando Bauru e Sampa, e estou naquele período de Adaptação à Nova Goma, que não é lá muito fácil, considerando que você vai parar num lugar onde tem que conviver diariamente com uma dúzia de pessoas que nunca viu na vida. Mas eu curto. Adoro repúblicas e acho que, sem dúvida alguma, família é algo muito super-estimado.

Minha mudança foi motivada por razões complexas que não vou explicar agora. Junto com a Buçalouca Baurulândica, a Cicerolândia foi um dos lugares mais memoráveis onde já morei e eu saio de lá carregando muitas memórias curiosas, bizarras, excêntricas, insanas e psicodélicas. Nunca morei num lugar tão fodido, tão porra-louca, tão trash. Cheguei lá e o lugar parecia a casa do Trainspotting! Aqueles dois sobrados na Engenheiro Bianor, 50 e 54, foram o refúgio de criaturas dos mais diversos naipes - teve maratonista, professor de literatura, nutricionista, artista plástica, doutorando em odontologia, baixista de música clássica, junkie, educador-físico, jornalista de Brasília, peões de obra do metrô, prostituta, multi-instrumentista com cara de Sideshow Bob, bichas-loucas, entre outros, sem falar na salada cultural: só no período que eu fiquei lá, rolaram 2 espanhóis, um alemão, uma francesa, dois peruanos, um cubano, sem falar em cariocas, mineiros, gaúchos, baianos e seres que não devem nem ser terráqueos... Dá pra escrever um livro inteiro sobre essa república, reunindo todos os causos que todo mundo tem pra contar, e que daria um pau em qualquer coisa que o Bukowski já escreveu... Mas isso vai ficar pro futuro.

Eu teria mil coisas pra dizer sobre a Cicerolândia, um monte de história pra contar (que ficariam mais "seguras" se os personagens principais fossem transformados em personagens, pra não ofender ninguém...), mas isso fica pra outra ocasião. Até porque esse é uma espécie de momento triste, de Decadência Total de uma república que um dia já foi muito legal e que acabou, muito recentemente, perdendo todas as pessoas que faziam dela o que era.

Mas é nessas horas que a gente percebe que aquilo que faz o encanto, a magia, a aura de uma república são as pessoas que moram nela e com quem a gente acaba se ligando como que à uma segunda família – e que quando essas pessoas vão embora, se dispersam, tudo o que sobra é um montículo de concreto, tijolos e argamassa tão morto quanto um túmulo. Algo nada parecido com um lar ou um ninho. Como diz o David Byrne:

“glass, concrete and stone
just a house, not a home.”


* Ah, e a BANDA! A gente vai longe. Pode escrever.

Está na gênese algo que no futuro será MITO!

Eu já estive em outras bandas, no passado, mas essa é, de longe, a melhor. Todo mundo na banda é muito gente fina, simpático, bem-humorado, criativo, original e bacana. Tá sendo muito legal. E no passado recente arranjamos uma vocalista de verdade, decentíssima, e parou de ser tudo no esquema "Molecada", como estava antes. A gente tava parecendo uma banda de pirralhos de 15 anos que monta uma banda no colegial pra ficar berrando na garagem loucamente só pra chatear os pais. Agora o lance tá mais crásse. Somos uma banda de punk rock, temos duas membras femininas e estamos todos equipados com lindos moicanos imaginários. Por enquanto somos a Liga das Senhoras Católicas - isso até o processo na Justiça contra nossas pobres pessoas nos obrigar a mudar para um nome menos desdenhoso.

Estamos criando conceitos estéticos revolucionários tais como:

- o POGO MANUAL

- a TÉCNICA DO GUITARRISTA MISTERIOSO

- o APPROACH libidonoso eficaz à PEQUENA ROCKABILLY

- o GERALDISMO.

A banda é o Bernas na outra guitarra (que é piadista eventual do Peladin e Sem Malícia e já foi conhecido como Reginaldo Hendrix quando cuidava das seis cordas do Cuecas Rosas) , o Marco (que é meu sócio no Depredando o Orelhão e que já foi um dos melhores-amigos-do-ovo lá em Bauru) no baixo, a Ana Alice da Credencial Tosca e do Milhouse na batêra e a Paula nos gritos, berros, uivos, gemidos e demais vocalizações. A gente vai fazer história!

Já tive umas bandas do caralho, mas a maioria delas foi imaginária. Por exemplo: sob a alcunha honrosa de Bret Michaels (ver o auto-retrato cibernético e altamemente verossímil de nossos visús à direita!), fui o vocalista, guitarrista, idealizador e comedor geral de groupies à frente do inesquecível duo THE HIENAS, complementado por Aline Guarato no vocal, bateria, maracas, pífaros, chocalhos, meias-luas, xilofone, theremin, assovios, gritos-de-louco-de-hospício, dentre outros instrumentos inventados (naturalmente tudo ao mesmo tempo!) Fomos o maior fenômeno comercial, estético e vanguardista do que a imprensa se acostumou a chamar de PUNK BUBLLEGUM.

Eu era um deus-grego saído direto dum clipe de hard-rock farofa para fazer miséria no topo dos charts. Ela era uma mistura de Rita Lee, Debbie Harry e Courtney Love, doidaça com as substâncias mais diversas. E juntos nós éramos a banda mais fudida da história do rock and roll. O grupo se desfez quando a Polícia descobriu que seus membros estavam envolvidos com uma seita ocultista criminosa, responsável por genocídios e outras atrocidades, chamada Esquadrão de Extermínio de Micareteiros. Suicidaram-se na prisão.

(inda bem que as leis da física não se aplicam ao mundo da imaginação!)

Tive ainda uma banda com o Didiê e a gente ensaiava lá no apê dos meus pais em Santo André, para descabelamento geral de toda a família, que tinha que suportar, por grande parte dos fim-de-semana, aquelas sonzeiras dos Strokes, dos Black Crowes e do Incubus saindo do quarto às torrentes de microfonia. Achamos pelo Orkut mais 3 moleques para complementar o grupo, e chegamos até a fazer alguns ensaios na casa de um deles, uma mansão muito de plêiba nos jardins, onde tinha piscina, campo de futebol, quadra de squash, academia particular e observatório de estrelas com telescópios mais potentes do que os da NASA. Eu achei meio estranho fazer rock and roll com 3 riquinhos mimadinhos filinhos-de-papai - acho que preferia ter banda c'uns pés-rapados ou zé-ninguéns, gênios ainda não descobertos dos subúrbios... - mas até que o som não tava saindo muito mal. Mas aí o Didi, todo chique, foi e se mudou pros Estados Unidos, e a molecada estava em época de estudar pro vestibular, e os pais não aprovavam a "perda de tempo" com essa bobagem que é ter banda, então desfizemos mais esse projeto...

Mas agora vai! É noise na fita.