sábado, 10 de março de 2007


Filosofando o choro:


“Todas as pessoas entram no mundo chorando.

Assim, se você realmente puder chorar profundamente, isto poderá se tornar um renascimento. Seu velho eu se dissolverá em choro. Assim, não pare isso – permita-o e, pelo contrário, desfrute-o. Há uma imensa beleza nisso.

As lágrimas são uma das coisas mais belas do mundo; algumas vezes, são até melhores do que o riso, porque o riso nunca pode ir tão fundo. Ele permanece na superfície, ou mesmo que ele vá um pouco mais fundo, nunca atinge o próprio âmago. Mas o choro pode atingir esse centro porque é uma coisa que não se aprende. A criança aprende a rir posteriormente, mas já vem pronta para chorar.

Assim, ele é até mais significativo e expressivo do que o riso, e pode perturbá-lo porque é profundo. Por ser profundo é que ele o perturba. Pode perturbá-lo tremendamente. Pode torná-lo quase caótico por dentro. Você começará a sentir que é uma confusão porque sua identidade, seu comportamento fixo e a concha que o envolve não estarão mais lá. Você se tornará cada vez mais vulnerável e aberto e não saberá quem você é. A velha identidade cairá.

Antes que o novo surja, haverá um intervalo de tempo no qual você se sentirá completamente perdido e a mente dirá: ‘Pare de chorar!’, porque a mente foi ensinada que há algo errado em chorar. As pessoas soluçam e choram apenas quando algo está errado; assim, o choro é como uma reclamação contra a existência: alguém morre e você chora... O choro parece ser um desamparo, assim todo mundo foi ensinado a não chorar pois isso supostamente demonstraria "fraqueza".

O homem, principalmente, tem sido ensinado a não chorar porque isso é feminino, coisa de mulher – “Não seja um maricas! Não chore! Controle-se! Seja homem!” Esses ensinamentos são todos estúpidos, mas foram condicionados na mente: você foi alimentado com eles – todo mundo foi – e assim chorar tornou-se cada vez mais difícil. A pessoa imediatamente se controla. Sempre que há alguma coisa dentro de você que quer chorar, você a reprime. Assim, a camada que envolve o seu ser torna-se cada vez mais morta, seca. Não contêm lágrimas. E as lágrimas são a própria expressão do ser... o próprio suco da vida. O choro não tem nada a ver com tristeza, depressão. Tem algo a ver com a vivacidade.

Sempre que você estiver muito vivo, sentirá uma erupção vulcânica em seu interior e quererá chorar. Esse choro será belo, abençoado. Você terá vontade de chorar e permitir que as lágrimas caiam em torrentes. Elas o aliviarão e todo o lixo da sua mente irá embora através delas. Você se tornará mais frágil, mais delicado. Perderá essa atitude egoísta de permanecer sempre no controle. Você se tornará mais livre, mais espontâneo, mais infantil. Só mais tarde a risada é possível. Um homem que realmente sabe como chorar torna-se capaz de rir, um dia. É um merecimento. O riso que não tem lágrimas é muito superficial, imposto, mascarado. Se você puder chorar e permitir que todo o seu ser entre nisso e se dissolva, você terá uma qualidade totalmente diferente de riso surgindo em você. Permita o choro... ele é belo.”
(OSHO, O Cipreste No Jardim, Ed. Cultrix, pg. 259).

(Uns vão me chamar de hippie, vão achar que tô caindo de nível e começando a ler livros de auto-ajuda (eca!), que tô deslizando pro misticismo e que esse blog tá cada vez mais cheio de nhém-nhém-nhém, mas tô nem aí. Confesso na cara dura: adoro o Osho, aquele sábio barbudinho indiano que é um dos poucos caras que eu tenho coragem de chamar de meu “mestre espiritual” – elogio que eu não uso nem pra Jesus Cristo. Aliás, tô numa espécie de VIBE ZEN depois de ter visto o filmaço “Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera”, que é daquelas obras-primas vagarosas e poéticas que te envolvem e te levam numa viagem deliciosa - smooth sailing all the way... Filme pra ver sentado num profundo silêncio, na posição de lótus, a mente vazia e o coração aberto... Mais que cinema: 1h30 de imagens deslumbrantes para entrar em altas meditações. Quem quiser o DVD emprestado, só me pedir que eu tenho. Recomendo - o Osho e o filme do Kim-Ki Duk...)

(p.s.: lá em cima, na fotinha, miss Scarlett Johansson, a Marilyn Monroe da nossa geração, mais linda do que nunca com os olhinhos molhados numa cena clássica do "Encontros e Desencontros" - e essa semana vou ver se assisto o "Maria Antonieta", novo da Sofia...)