sexta-feira, 23 de março de 2007

:: 3 filmes que assisti recentemente ::


OS EUA CONTRA JOHN LENNON
[de David Leaf e John Scheinfield, EUA, 2006, 1h36min, doc.]


"De todos os documentários já feitos sobre John Lennon,
este é o que ele amaria" (YOKO ONO)


Musicalmente, é difícil decidir qual dos ex-Beatles merece a medalha de ouro de carreira-solo mais interessante. Foi o Macca, que se dedicou principalmente às baladinhas poppy e às silly love songs, eventualmente prestando tributo ao rock clássico dos anos 50 e 60? Foi John, que se transformou numa máquina de ativismo político, parindo canções angustiadas e amargas e hinos políticos pacifistas, se entregando também a certos experimentos sonoros esquisitos? Ou foi George, que foi em busca do sentido da vida numa espiritualidade de inspiração oriental e naquelas viagens hare krishna, acabando por cometer pelo menos um clássico absoluto, o grande grande All Things Must Pass? (O Ringo, claro, não conta.) O que é inegável é que John Lennon, como “pessoa pública” e como “figura histórica”, foi o ex-Beatle que, após o fim da banda, causou mais estragos, levantou mais polêmica e mais marcou época em comparação com o resto dos Fab-Four, que parecem ter preferido uma vida num esquema mais discreto e menos chamativo.

O excitante, dinâmico e excelente filme inglês Os EUA contra John Lennon, um dos melhores documentários de rock que eu já tive o prazer de assistir, é um detalhado retrato das atividades de John Lennon após o fim dos Beatles, em 1970 - que não foram poucas nem pouco controversas. Vocês sabem: John Lennon nunca teve medo das polêmicas e das heresias e adorava posar de troublemaker. Só lembrar do famoso episódio em que comentou que os Beatles eram mais famosos e significavam mais para a juventude universal do que Jesus Cristo – episódio que despertou uma onda de rebeldia nos puristas e fanáticos cristãos, que chegaram a organizar boicotes e fogueiras públicas de discos dos Beatles, degolando simbolicamente, numa espécie de Inquisição no século 20, o ousado ateuzinho desrespeitoso...

O filme, co-dirigido por David Leaf e John Scheinfield, descreve principalmente o progressivo engajamento de John & Oko contra a Guerra do Vietnã e a vasta gama de atividades políticas à que o casal se dedicou no começo dos anos 70. Foram 15 anos de dura confecção para que finalmente, em 2006, o filme finalmente fosse lançado, oferecendo a todo beatlemaníaco um saboroso documento histórico sobre o mais cínico, sarcástico e rebelde dos ex-Beatles.

Já comentei em uma matéria antiga sobre o modo como a amargura e o ressentimento tomaram conta da música e da poética de Lennon em seus primeiros álbuns-solo – que, à parte toda a melancolia e toda a ira, eram sim profundamente políticos. Do hino pacifista de “Imagine” ao feroz proto-punk de “Gimme Some Truth”, passando pelas músicas “grito de guerra” “Power To The People” e “Give Peace a Chance”, a arte de John Lennon, naqueles tempos, ficou impregnada por suas atividades políticas e por suas batalhas ideológicas.

Parece ter sido só depois de se libertar da banda que o cara pôde se tacar de cabeça no “militantismo”, acabando por se tornar uma espécie de “rebelde político” na América que adotou como casa nos anos 70. Sim, é verdade que certas músicas dos Beatles já prenunciavam que isso poderia acontecer - “Revolution”, claro, sendo a principal delas: nesse clássico da fase final dos Beatles, Lennon já conclamava a juventude a se erguer para um levante revolucionário, se bem que seguindo os moldes pacifistas gandhianos (“but if you talk about destruction you can count me out!”). Mas a dedicação a causas políticas só atinge seu ápice na carreira-solo de Lennon. E talvez seja tudo culpa da influência da Yoko, que sempre entendeu a arte como um instrumento para provocar, chocar e retirar as pessoas da passividade e da inércia. Tanto que a moça, sempre controversa como artista plástica, dizia que se sentiria fracassada como artista se metade dos frequentadores de suas “mostras” não fugissem correndo de suas exposições, horrorizados...

Mas o fato é que John & Yoko, naqueles turbulentos anos marcados pela Guerra do Vietnã e pela efervescência máxima do ideário hippie, caíram de cabeça na luta política e ideológica – usando a arte como ferramenta de protesto político e acreditando convictamente que iriam ter sucesso, usando a imensa influência que tinham junto à juventude, para tacar pedras nas engrenagens da máquina de guerra americana.


Participaram de shows-protesto e eventos beneficientes - o mais histórico deles sendo aquele que reclamava a libertação de John Sinclair, que estava na prisão por posse de dois baseados, e que foi libertado no dia seguinte à participação de Lennon no concerto em prol de sua libertação, prova incontestável do poder político do ex-Beatle. Diziam para todo mundo que o esquema era fazer amor, e não a guerra, tornando o slogan make love, not war uma espécie de símbolo supremo da ideologia juvenil da época. Criaram um monte de “happenings” e de protestos, muitas vezes bancando tudo do próprio bolso, sem nenhum patrocínio, como na vez que espalharam por uma dúzia de metrópoles mundiais os famosos cartazes e outdoors que tinham em letras garrafais os ditos WAR IS OVER, seguidos por um pequeno adendo entre parênteses: (IF YOU WANT IT). E, claro, partiram PRO PAU contra o governo Nixon, se juntando com ativistas políticos de muita penetração, inclusive com o povo do Black Panthers, até que o nome de John Lennon fosse inscrito na lista negra do governo americano como um perigo público que precisava ser detido a qualquer preço.

É delicioso de ver o governo americano tentando – e em vão! deliciosamente em vão! - expulsar aquele inglesinho enxerido do país, usando como pretexto para o mandato de exílio qualquer bobagem que Lennon tinha em sua ficha policial. Lennon, que tinha caído apaixonado por Nova York e não tinha a mínima vontade de abandonar a América, onde tinha feito tantos amigos e onde estava engajado em uma pá de movimentos de luta social, permaneceu firme e forte lutando nos tribunais por seu direito de permanecer nos Estados Unidos – e permanecer como um voz dissidente e rebelde, que ajudava a destoar o coro dos contentes e chamar para que se levantasse a voz dos rebeldes... Maior exemplo disso, claro, é o famosíssimo refrão que ele criou quase sob medida para servir como um hino de guerra das massas na luta contra o massacre no Vietnã: “all we are saying is give peace a chance!”

Uma cena chave mostra Lennon numa calorosa discussão com uma jornalista do New York Times sobre a eficácia das ações de ativismo político do ex-Beatle. A jornalista, descrente e cética, desce o cacete em Lennon, dizendo que ele “se tornou ridículo” e perguntando, com um certo sarcasmo: “você acha mesmo que ajudou alguma coisa na luta contra a Guerra do Vietnã?” E Lennon, com uma empolgante convicção no seu poder, argumenta que milhares e milhares de pessoas cantavam em uníssono nos protestos contra a Guerra o seu famoso “all we are sayin' is give peace a chance!” E as imagens do filme, mostrando as multidões saindo às ruas para protestar contra os descalabros sangrentos do Império Americano no Quarto Mundo, emocionam demais - e provam que Lennon é que tinha razão. Sempre sinto calafrios de excitação vendo essas imagens de arquivo que mostram uma imensa onda de energia humana se congregando numa só voz...

A impressão que permanece no espectador depois do fim do documentário, depois de ver aquela multidão a entoar em coro o “give a peace chance” de Lennon, é a de que a coragem e a luta infatigável de John & Oko, com absoluta certeza, deram seus frutos – e nada foi em vão. Qualquer espectador de Os EUA contra John Lennon, se perguntado, na saída do filme, se John Lennon ajudou a parar a Guerra do Vietnã, sente-se imediatamente levado a responder, sem o mínimo sinal de dúvida, e com a maior empolgação, mais fã de Lennon do que nunca: “Mas claro que sim! E muito!” (8.9)

(filme exibido na 30a Mostra de Sampa)



alguns saborosos screenshots:

LEIA MAIS: MATIAS - FOLHA - BIZZ - LUZ CÂMERA POST - ZETAFILMES - O GLOBO.

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MARIA ANTONIETA
[Marie Antoinette, de Sofia Coppola, EUA, 2007, 2h3min]. Eu já fui pro cinema meio desconfiado de que a chance era grande da coisa não me agradar. Aqueles cabelões espalhafatosos, aqueles vestidos frescalhões, aqueles banquetes cheios de iguarias e luxo, aquelas intrigas nojentas da alta sociedade, aquele ambiente todo cheio de glamour e maquiagem pesada... Nunca curti esses lances todos. Foi sempre algo que me fez torcer o nariz e desejar umas COISAS FEIAS E NOJENTAS para estragar um pouco tanta boniteza... Talvez por isso eu nunca consegui entender o que as pessoas vêem em filmes como o Barry Lyndon do Kubrick ou O Leopardo do Visconti, dois dramas históricos frescalhões que muitos idolatram de joelhos mas que eu acho um completo PORRE. Simplesmente não curto pomposidade e ostentação de luxo espalhados e desperdiçados num rolo de filme cinematográfico.

E o veredito sobre Maria Antonieta? Mesmo com o meu esforço para ir com expectativas baixas, o filme decepcionou: não me fez sentir muita coisa, nem pensar muita coisa, e pareceu espalhafatoso e burguesinho demais. Se Maria Antonieta fosse uma raça de cachorro, seria um poodle. À parte algumas imagens lindas, que dariam fotografias sensacionais, o filme não chega aos pés de ser tão adorável e charmoso quanto Encontros e Desencontros, que provavelmente vai se tornar o clássico inalcansável e inimitável da Sofia.

Sim, o Maria Antonieta, como já dava pra suspeitar pelo trailer e pelas fotos, irrita um pouco pelo tom pomposo e alta-nobreza do negócio, pelo jeito sempre frescalhão que os personagens adotam nos seus gestos e tons de voz, pelos figurinos e maquiagens ultra cuidados, enquantoque o enredo fica mau-cuidado e bem meia-boca. Mas pelo menos há, aqui e acolá, um certo humor implícito em muitas cenas - e graças aos deuses tem a Asia Argento ali no meio pra arrotar no meio dos jantares e ser uma presença punk no meio daquela viadagem toda. Em vários momentos, o espectador é quase convidado a tirar um sarro dos costumes idiotas desses ricões ridículos, sempre tão falsos e artificiais: como na cena em que a pobre Kirtens Dunst, nuzinha, fica passando frio enquanto as ricaças não conseguem se decidir quem é que terá a “honra” de vestir a princesa.

Sofia Coppola fez um filme suave e doce, que talvez tenha perdido muito de sua força por uma certa incapacidade da diretora de cair de cabeça na tragédia que se exigia duma história desse tipo. Muito tempo se perde narrando a “crise conjugal” de Maria e seu marido, que não conseguia se empolgar a fazer um filho na mocinha, quando muitos detalhes históricos acabam sendo suprimidos ou tratados de modo superficial. Tudo bem que não deixa de ser um filme que mostra bem o quanto a pobre Maria foi utilizada como uma espécie de escrava sexual high-class, vendida para a França como uma espécie de barriga de aluguel, cuja única finalidade era produzir um herdeiro que sedimentasse a união franco-austríaca. E as únicas cenas que chegaram perto de gerar algo perto de uma comoção no meu coraçãozinho – mas só chegaram perto, porque me comover de verdade eu não me comovi – são aquelas em que Maria se sente triste e solitária mesmo em meio à todo o luxo e toda a riqueza de seu palácio.

Confesso que senti falta de um desfecho mais sangrento, com a guilhotinha caindo e as cabeças rolando - eu que nem me considero pessoa de gosto excessivamente sanguinário. E talvez seja bobeira da minha parte exigir cenas tarantinescas de uma diretora que sempre se manteve tão comportada e limpinha - e claro que era meio bobo esperar que a Sofia, sempre tão meiga, fosse nos presentear com cenas de violência horrorshow. Os filmes dela, aliás, sempre me soaram bem etéreos, poéticos, descolados do chão. Neles o enredo parecia importar pouco – o que ela procurava era criar um mundo de imagens que nos envolvia, um certo “ambiente” onde ela nos afogava; o não-dito, o não-acontecido e o misterioso importavam muito mais do que qualquer outra coisa.

Em Encontros e Desencontros, por exemplo, era o tédio que vigorava muito mais do que os acontecimentos e o passeio dos dois amigos por Tóquio parecia só um pretexto para levar o espectador por um passeio mágico por aquela cidade povoada por letreiros de néon, máquinas luminosas de video-game e edifícios cintilantes. O que importava não era tanto o que acontecia, mas o clima de melancolia no rosto da Scarlett, o cansaço meio blasé no jeito de viver do Bill Murray, aquele sentimento de exílio dos dois e aquela vontade louca dos dois americanos se aproximarem, pelo menos por uns dias, para fugirem da sensação de solidão. O que importava, também, nem era tanto o que era explícito, mas o que ficava por dizer, velado: tanto que uma das cenas que se tornou mais clássicas é aquela em que a personagem da Scarlett murmura algo no ouvido do personagem Bill Murray – algo que o espectador nunca descobrirá o que é. O mistério ficava no ar, da mesma maneira que o suicídio das quatro irmãs permanece um tanto inexplicado e misterioso para quem termina de assistir As Virgens Suicidas.

Maria Antonieta, o mais fraco dos três filmes da Sofia, na minha opinião, se perde porque falta mistério, falta melancolia, falta força, falta drama, falta tragédia... falta tudo. E, se me permitem dizer uma idiotice, falta colhões - é muito filme de mulherzinha. O impacto do filme fica prejudicado com essa suavidade toda, quando era preciso ter destacado melhor, por exemplo, a maneira impiedosa e selvagem que os rebeldes da Revolução Francesa usaram para degolar os antes “intocáveis” reis e rainhas, fazendo Maria pagar o pato.... Sou sanguinário mesmo e acho que para o bem do retrato histórico fiel e do impacto emocional sobre o público, eu acho que o sangue deveria ter tingido a tela. Do jeito que ficou, Maria Antonieta acaba retratada como uma rainhazinha fútil, superficial e sem grandes encantos a não ser os físicos - e uma personagem por quem o espectador não consegue nem sentir compaixão por sua morte cruel, nem inveja pelos privilégios de que ela gozou a vida inteira - ela nos deixa quase indiferentes a maior parte do tempo e o filme, quando acaba, desliza fácil fácil para o esquecimento, como acontece com todos os filmes medíocres e pouco corajosos. (5.5)

ADENDO... 2 OBSERVAÇÕES TOLAS:
(Quanto à trilha sonora, acontece o previsível: ela está recheada com indie rock de primeira e eletrônica ambient, pra dar aquele climão... O único problema, que não acontecia nos filmes anteriores, é que existe uma certa contradição temporal entre as cenas e a trilha sonora: vemos imagens mó século 18 ao som de rock and roll puro século 21. O que para alguns vai soar como incoerência, vai parecer para outros ousadia. E eu certamente achei mais ousado do que incoerente fazer Maria Antonieta vagar pelo palácio ao som de Strokes ou participar de um baile de máscaras turbinada por um indie rock guitarrento e distorcido. Talvez os mais puristas gostariam de ter ouvido música mais adequada sàquele tempo, mas eu achei muito interessante esse contraste entre a modernidade e a “antiguidade”, como também constrastou dum modo muito positivo a cena inicial, quando o clássico do Gang Of Four serve como pano de fundo para aqueles créditos rosa-choque – e se tem duas coisas que NÃO combinam de jeito nenhum, em teoria, é Gang Of Four e rosa-choque. )

(Fiquei completamente revoltado contra certas coisas que Sofia fez para impedir o público masculino de gozar devidamente da presença – esteticamente impressionante – da lindinha Kirsten Dunst. Pôrra, que negócio é esse da Kirsten tomar banho DE ROUPA na banheira, Sofia?!!! Tá zoando a nossa cara, pô?! E o que aquela desgraça de LEQUE maldito está fazendo na frente dos peitinhos dela, que nós tão loucamente ansiávamos por ver? Ah, não... Dois pontos a menos na nota final, Sofia! IMPERDOÁVEL! =) )

(visto no Frei Caneca Arteplex, dia 21/Mar)


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SCOOP – O GRANDE FURO [Scoop, de Woody Allen, EUA, 2007]. Depois do sério, dramático, trágico e pesado enredo dostoiévskiano de Match Point, filme que dialogava com Crime e Castigo e narrava um sangrento causo de adultério, intriga e assassinato, Woody Allen voltou com um filminho bem menos ambicioso. Scoop – O Grande Furo é mais um daqueles deliciosos “filmes menores” dentro da vasta filmografia do pequeno Woody: despretensioso, levinho e charmoso, sem o mínimo sinal da dramaticidade pesadona do filme anterior, o filme é uma daquelas comédias meio bobinhas, mas assistíveis com muito gosto e muitas risadas – eu não me lembro de ter rido tanto vendo um filme desde Borat, que vi faz uns dois meses já.

Pode não ser uma “obra de arte” profunda ou marcante, o que Match Point provavelmente vai acabar sendo pra história do cinema desta década, mas nos faz lembrar, mais uma vez, como é gostoso assistir Woody Allen, o quanto o humor dele revigora e como ele é mestre em transmitir uma alegria fina que dura por dias...

Scarlett Johansson é uma jornalista inescrupulosa e sedutora que recebe do além-túmulo a “dica” para um furo jornalístico bombástico: um “fantasma” diz a ela que um certo playboy (interpretado por Hugh Jackman, que esteve com Scarlett também no elenco de O Grande Truque) seria um serial killer. Auxiliada por um mágico bizonho e meio charlatão, interpretado por um Woody engraçadíssimo e soltinho soltinho, a louraça, vestindo seus óclinhos de nerd, irá se embrenhar no mundo secreto do seu playboy assassino em busca de desvendar um mistério e ganhar o furo jornalístico da década...

Scoop, como muitos dos filmes menores de Woody Allen, pode facilmente ser visto como um amontoado de frases espertinhas, gags não muito originais e piadinhas tipicamente allenianas. Woody não tomou riscos nem procurou fazer nada de muito original: Scoop é só mais do mesmo e adiciona pouco à filmografia do diretor. Mas ninguém vai reclamar de um filminho tão adoravelmente insignificante.

Scoop serve também para sedimentar a impressão de que miss Scarlett Johansson tem tudo para se tornar uma semi-deusa do cinema. Os encantos inumeráveis dela provavelmente conquistaram também Woody Allen, que pode estar velhinho mas que ainda tem uma libido... e fez dela sua nova musa (depois de Diane Keaton e Mia Farrow...). Alguns críticos por aí meteram o pau (metaforicamente falando... nenhum crítico de cinema é sortudo o bastante para o fazer de fato!) na atuação dela, argumentando que o talento cômico dela é muito pequeno, especialmente quando comparado com certas atuações clássicas de Keaton e Farrow em clássicos do Allen no passado...

Eu, se me pedirem a opinião, acho pelo contrário que Scarlett tirou de letra essa tarefa de enfrentar um papel de comédia e está absolutamente adorável na tela, conseguindo disparar frases rápidas ao estilo bang-bang dialogal de Woody com muita precisão e esperteza. Scarlett prova ainda que consegue fazer papéis bastante diferentes uns dos outros: tem pouco a ver a solitária exilada de Encontros E Desencontros, a adolescente sarcástica de Ghost World, a beldade demoníaca de Match Point e essa jornalistinha nerd de Scoop - prova de que ela não é uma daquela atrizes que sempre interpretam o mesmo papel.

Scoop traz uma das cenas mais arrebatadoramente sexies da carreira de Scarlett Johansson, que já é uma das minhas musas cinematográficas supremas. No ranking das experiências estéticas saborosíssimas que já tive olhando pra essa mulher, tem uma cena em Scoop está perto do topo: Miss Scarlett, toda molhadinha, saindo da piscina em seu maiô vermelho, estendo-se na beira das águas com seu coxão suculento e seus peitões tesudos, fazendo charminho pro ricão que quer conquistar, é uma daquelas coisas indizivelmente lindas que me faz quase voltar a acreditar em Deus. Marilyn Monroe tendo sua sainha levantada pelo vento do metrô no Pecado Mora Ao Lado é fichinha!

Do mesmo modo que a gente nunca se cansaria de discos dos Ramones, mesmo que a banda tivesse lançado uns 50, nem nunca nos cansaremos de temporadas novas dos Simpsons, mesmo que Matt Groening e sua turma cheguem na centésima, nunca vamos nos cansar de filmes do Woody Allen – eles são sempre bem vindos. São bons mesmo quando são ruins! - caso de pequenas bobagens como Trapaceiros ou Dorminhoco. Scoop, longe de ser ruim, é uma das melhores comédias leves da carreira de Woody e prova incontestável de que o cara continua afiadíssimo (e sim, eu gosto de muita coisa da carreira recente dele, principalmente Melinda e Melinda, Dirigindo No Escuro e Match Point). Agora é só cruzar os dedos e fazer figa, torcendo para que o pequeno Woody, que parece tão frágil e esquelético, sobreviva nessa Terra sombria e escura para nos iluminar com seu senso-de-humor tão necessário pelo menos até, sei lá, 2020. Mais uns 10 filmes de Woody Allen não vão fazer mal a ninguém! (7.9)

(visto no Frei Caneca Arteplex, dia 18/Março)