Secret Heart, what are you made of?
What are you so afraid of?
Could it be three simple words?
What are you so afraid of?
Could it be three simple words?
Or the fear of being overheard?
What's wrong!?
Let 'em in on your secret heart...
Secret Heart, why so mysterious?
Why so sacred, why so serious?
What's wrong!?
Let 'em in on your secret heart...
Secret Heart, why so mysterious?
Why so sacred, why so serious?
Maybe you're just acting tough
Maybe you're just not man enough
What's wrong!?
Let 'em in on your secret heart...
This very secret
that you're trying to conceal
Is the very same one
That you're dying to reveal
Go tell her how you feel!
Secret Heart, come out and share it!
This loneliness, few can bear it!
Could it have something to do with
Admitting that you just can't
Go through it alone?
Let 'em in on your secret heart...
Let 'em in on your secret heart...
Let 'em in on your secret heart...
What's wrong!?
Let 'em in on your secret heart...
This very secret
that you're trying to conceal
Is the very same one
That you're dying to reveal
Go tell her how you feel!
Secret Heart, come out and share it!
This loneliness, few can bear it!
Could it have something to do with
Admitting that you just can't
Go through it alone?
Let 'em in on your secret heart...
Let 'em in on your secret heart...
Let 'em in on your secret heart...
[ RAZÕES DO MEU SUMIÇO ] : Andei tendo alguns maus dias, alguns péssimos dias, alguns dias semi-legais, mas no geral os dias, bons ou maus, não estão me ajudando nada a arrumar essa grande bagunça que está aqui dentro. I'm a mess no one wants to clean up. As coisas não estão certas; tem algo quebrado, algum parafuso faltando, algum fio com mau-contato... porque realmente não estou me sentindo legal nos últimos tempos, de jeito nenhum. Uma grande indecisão na alma, uma melancolia danada contaminando tudo, um sentimento de não saber o que fazer comigo mesmo e com essa vida que não sei pra quê serve.... Alguém sabe o que significa TUDO isso? Essas galáxias, esses planetas, esses sóis, esses bichos, esses homens? Alguém entende? Verso que mais volta à minha jukebox mental ultimamente: “I just don’t know what to do with myself” (às vezes com a voz do Jack White, outras com a da Dusty Springfield…).
Ando meio doente, com os intestinos funcionando mal e porcamente: altas diarréias, falta de apetite, ânsia de vômito, uma fraqueza meio generalizada. Bandeijão da USP também num tem ajudado muito: ultimamente só tá rolando comida pesadona e gordurosa, nada adequada ao meu estado: feijoada, bisteca suína, peixe com pirão... É a lei de Murphy, certeira como sempre. Madrugada dessas nem dormi direito, de tantas vezes que tive que levantar para ir ao banheiro. Cheguei num estado tal que rolou até nostalgia da infância e eu me disse, “putz, meu, tô bem precisando de um Hipoglós...” Mas melhor nem comentar mais sobre esses detalhes sórdidos! =)
E, por dentro, também, um certo desânimo generalizado, que eu não queria que estivesse aqui, agora que as aulas estão para recomeçar e eu queria estar com as baterias novas... Tô meio com as pilhas fracas, sem saber como recarregá-las, sentindo que quem poderia me ajudar não vai querer e que estou, mais uma vez, sozinho - e tendo que dar um jeito para me virar. Uma sensação de ter que seguir com a minha vida deixando pra trás alguma parte importante de mim pelo caminho, quase um pedaço da alma largada na estrada, como que mutilada... Sinto como se eu tivesse que cortar com um canivete, numa operação improvisada e perigosa, um fragmento querido do meu espírito e jogá-lo fora. Se eu tento falar assim, por metáforas, talvez nem seja pra ficar brincando de poeta; é que não sei mesmo nenhum jeito melhor de descrever essa sensação.
É mais ou menos assim: cheguei à uma espécie de conclusão desagradável em relação a certos sonhos que eu continuava a alimentar e que, por excesso de tempo que eles ficaram insatisfeitos, começaram a me machucar e me deixar meio louco – de impaciência e de desejo. Ninguém aguenta ficar desejando interminavelmente aquilo que não consegue ter, e isso também vale para quando desejamos pessoas, acho eu. Então cheguei a uma espécie de conclusão (mas que não concluiu nada na minha vida): preciso me livrar desses sonhos e seguir na estrada estando mais leve e mais livre. O grande problema é que peguei carinho desse sonho, por mais que tenha sofrido por ele, e agora eu me sinto com medo de jogá-lo fora, como se fosse me livrar de um filho meu, de um órgão do meu corpo, de algo que certamente me fará falta... O diálogo que ando tendo com meu sonho é parecido com o de um pai com o filho que quer abandonar... o pai diz pro filho: “olha, não tem jeito, você não está me fazendo bem, você me dificulta a vida, você me faz infeliz, você não deixa eu me ocupar com as minhas coisas, você me deixa obcecado, você chupa toda a minha atenção e toda a minha energia... então, por mais que eu te ame e te queira bem, vou ter que me desfazer de você...” Mas é com lágrimas nos olhos e um grande pesar no peito que o pai diz isso para o filho, que por sua vez não aceita essa decisão, agarra-se, esperneia, pede para ficar: “não, pai, não me joga fora, deixa eu ficar com você, prometo ser bonzinho...” Não consigo pensar em uma metáfora melhor pro meu estado.
Um certo desânimo com esse blog, também, que sempre me deixa meio insatisfeito, meio encanado e meio com vergonha... Certas coisas eu ponho aqui e no dia seguinte estou me sentindo ridículo, achando que as pessoas do outro lado estão rindo da minha cara e com vontade de apagar tudo; outras vezes, sinto como se tivesse “me revelado demais”, e aí rola um certo pudor, como se eu fosse uma dançarina de strip tease iniciante que tira as roupas mas, ao ver-se nua, sente uma imensa saudade da sensação de estar vestida e se arrepende imensamente por ter se despido. Passei vários e vários dias com uma grande vontade de me calar, talvez recolocar essa muminha em sua tumba por um mês ou dois, mas acho que a vontade de extravasar todos os meus sentimentos e contar todos os recentes acontecimentos foi maior. E, além do mais, sempre foi uma das minhas principais intenções, com esse bloguinho, escrever coisas que pudessem fazer com que as pessoas me conhecessem melhor, mesmo que sejam para que descubram que eu não sou lá grande coisa... Cansa escrever sempre tentando impressionar... Então aqui estou eu, só pra vomitar pra fora tudo que me tem acontecido, por dentro e por fora...
[ NOBODY KNOWS YOU WHEN YOU’RE DOWN AND OUT ] : Foi esses dias mesmo que me peguei pensando algo de aparentemente absurdo. Estava ali, rodeado de amigos e conhecidos, papeando sobre mil coisas, com várias pessoas diferentes, usando minhas cordas vocais até a exaustão, e de repente “bateu” em mim o sentimento da solidão, velho conhecido, e eu me peguei dizendo pra mim mesmo: “Mas eu precisava tanto, mas taaaanto, conversar com alguém...” Coisa meio estranha de se dizer quando se esteve conversando por horas e horas, sem parar. Mas é claro que eu sabia porquê: o mais importante, o que eu mais queria dizer, o que eu mais precisava compartilhar, o que mais pesava aqui dentro, estava ainda guardado, trancafiado, e eu não encontrava jeito para desviar o assunto para as confidências que eu queria fazer, nem achava a “pessoa ideal” que me abrisse o ouvido e me oferecesse o ombro (e isso tem sido um problema perpétuo na minha vida).
Acho que por muitos anos vivi assim para que seja fácil, assim de repente, mudar esses hábitos de personalidade que eu, com certeza, não gostaria mais de ter. Não gostaria de ser assim, sempre: the owner of a secret heart. Me acostumei a só falar sobre amenidades, a manter as coisas sempre na superfície, discutindo coisas lá de fora, sejam quais forem, discos e filmes, aulas e faculdades, cidades e trânsitos, chuvas e calores, ao invés de revelar coisas sobre mim mesmo... Sou capaz de ficar falando a madrugada inteira sobre punkrock, cinema independente, literatura marginal, política externa americana e muitas outras coisas, mas quando o assunto sou eu mesmo, não sei porque, procuro esgotar o assunto com frases rápidas e nada reveladoras e desviar o papo para outro lado, mais interessante, que me incomode menos, que me deixe mais à vontade... E, aliás, por que iria eu chatear os outros com meus problemas, com a minha história de vida, com minhas experiências bobas, com minha melancolia crônica e com o meu nhém-nhém-nhém? Vivi muitos anos tomando como pressuposto que ninguém estava afim de ouvir. E como quase nunca ninguém me vinha perguntar como eu estava me sentindo, e qual era o estado das coisas lá no fundo da alma, bom... devo ter concluído que eu tinha razão e que realmente ninguém se interessava.
O grande problema é que isso me faz sentir, e tantas vezes, que mesmo meus melhores amigos ainda não me conhecem tão bem quanto eu gostaria, e que a única forma para que me conheçam é escrever para eles. Mas aí eles ficam achando que existem dois Eduardos: ele falando é um, ele escrevendo é outro... E eu não gosto de viver assim, sendo dois: queria poder me revelar pras pessoas, no cara a cara, da maneira como faço escrevendo; e esse é um dos aprendizados que eu me propus e que estou batalhando para conquistar...
Acho que eu até gostaria de poder ser aquele tipo de pessoa que narra sua própria vida como se ela fosse uma grande aventura, como se adorasse vivê-la, com grande gosto de mostrar para os outros seus sucessos e suas façanhas... Mas, sem querer ficar contando vantagem, nunca fui pessoa de ficar contando vantagem. E se às vezes silencio tanto é por pensar e sentir que minha vida não tem nada de tão interessante, que não tenho muita experiência sobre muita coisa, que não tenho muito a contribuir com coisa alguma, enfim.... gostaria de poder falar sobre meus sucessos e pedir que me admirem, como todo mundo faz, mas deixo minha linguinha dentro da boca porque, ultimamente, só tenho a relatar as minhas melancolias, as inundações que atingem meu pobre travesseiro, esse desânimo que arrasto pelos dias, como se viver fosse o mesmo que puxar uma carroça de uma tonelada... E por que vou incomodar meus amigos com as minhas angústias e espalhar a tristeza como uma praga? Que chato seria para eles ficar ouvindo minhas histórias de loser sobre amores não correspondidos, corações partidos e carências afetivas... Prefiro me calar.
Então fico assim, fingindo que está tudo bem - e pelo jeito até sou bom ator. Ninguém nem parece desconfiar que, por trás das conversas amenas e por trás do meu silêncio, está lá um desejo imenso e inconfessado de extravasar (“this very secret that yo’re trying to conceal / is the very same one you’re dying to reveal...”); ninguém nem suspeita que, enquanto converso, fico me atormentando a perguntar ao meu coração: “mas por que tanto mistério, tanto medo, tanta proteção, tanta encanação? Por que você não se solta?” (“secret heart, why so mysterious, why so sacred, why so serious?”); ninguém vem para derrubar o meu orgulho e forçar entrada nessa minha fortaleza, quando eu sei que só estou fingindo ser durão, fingindo que consigo suportar tudo sozinho, quando é bem óbvio que não sou e não consigo (“maybe you’re just acting tough... could it be something to do with / admitting you just can’t go through it alone?”)... Ninguém nem suspeita que por trás dos meus olhos secos está uma bolsinha cheia de lágrimas, retidas a duras penas por uma membrana ultra-tênue e fácil de romper, e que eu me esforço por manter viva, para não dar “vexame”. Ainda tenho vergonha de chorar na frente dos outros, achando que isso é dar “provas de fraqueza” ou de mariquice, e ainda tenho medo de me deixar consolar, mesmo sabendo que é de consolo que eu mais ando precisando... E hoje em dia, se eu evito falar sobre mim, é por esse medo de que seria só começar que, junto com as palavras, viria a água e os soluços e a vergonha...
Desde menino devo ter aprendido, não sei ao certo com quem, a arte de sofrer em silêncio – ou de, estando a sofrer, fingir que não estou. Acho que é só por isso, por tanto me calar, que eu preciso tanto escrever, encher dúzias de páginas do diário, lotar esse blog com textos-desabafo, extravasar para o papel tudo aquilo que não acho ouvido humano disponível e aberto para receber. Acho que é por isso que ando escrevendo cartas gigantescas pra uma ou outra pessoa, amigas reais e amigas virtuais, querendo compartilhar um pouco da minha vida, minhas memórias, minhas angústias, minhas dúvidas. E sei que às vezes acabo exagerando e escrevendo, com certeza, um monte de bobagens que a pessoa não está nem um pouco interessada em ouvir e só não diz “eu não perguntei, porra!” por educação...
E não sei porque, ultimamente, ando com uma vontade imensa de pedir perdão, pra todo mundo, quem me conhece e quem não me conhece, para toda a humanidade e para o universo, e perdão não sei ao certo porquê. Perdão por ser como sou e por ter sido como fui e por aquilo que irei ser... Perdão por não conseguir ser melhor que isso. Perdão por não ter talento pra viver. Perdão por estar fracassando, apesar de estar tentando, e com muito empenho e muita dedicação... Perdão aos meus amigos por tantas vezes me fechar em mim mesmo, por não compartilhar meus segredos, por ficar preso no meu mundinho, quando é óbvio – e só agora isso pra mim é claro, completamente claro... – que essa vida só tem um sentido, se tiver, se vivida em conjunto, com as coisas todas fluindo entre as criaturas. Senão não passamos de túmulos, cada cadáver em sua tumba, sem comunicação... “Let ‘em in on your secret heart!...” O amor e a amizade, as duas únicas coisas capazes de fazer essa vida desgraçada valer a pena... E queria pedir perdão por, muitas vezes, não saber fazer nenhuma das duas coisas direito...
Acho que tô meio deprê. Mas passa. É só um eu-bolha-de-sabão... Alguém aí tem um palito de dente ou alfinete pra me estourar? Porque, sinceramente, EU NÃO TÔ ME AGUENTANDO! =)
Mas falemos sobre coisas mais amenas!!! Chega de nhém-nhém-nhém... agora vai um QUERIDO DIÁRIO mais sobre o cotidiano mesmo...
[ FIM APARENTE DA SAGA LÚCIO VS. ZARCILLO ] : Visitei Bauru rapidão semana passada, um bate-e-volta frenético, e as coisas foram resolvidas de modo até bem suave por lá. Me safei – um grande UFA! caindo sobre a minha vida... - de ter que frequentar as aulas por todo o semestre. O preço a pagar: uma monografia dumas 100 páginas que terei que fazer e entregar em junho. Será que agora pego o canudo, finalmente?
Eu estava morrendo de medo de encarar o Zarcillão, pra falar a verdade; ando num estado de espírito não muito confiável, e não sabia o que ia acontecer se, mais uma vez, eu fosse tratado como lixo por ele: se cairia em prantos, se explodiria em xingamentos, se abaixaria a cabeça e deixaria ele judiar o quanto quisesse. Tanto medo eu tinha que antes fui a uma espécie de consulta com o Ângelo, que continua gente fina pra caramba, e conversamos uns bons 45 minutos sobre as melhores técnicas de abordagem e de persuasão. Foi um papo divertido. Gostei de sentir o Ângelo do meu lado, garantindo que “todo mundo sabia que o Zarcillo tem problema de audição” (“a gente chama ele quando ele passa no corredor e ele vai embora, meu, passa reto!”), que era um velho muito vaidoso (“ele vai na academia todo dia, sabia? Ele tá melhor que a gente no corpo... mas não admite que não ouve!”), que o problema dele não era bem comigo, mas com todos os alunos que ficam chamando ele de “senil” (e ele queria o quê, ser chamado de “garotão”?)
Aí rolou até uma mui instrutiva mini-palestra angeliana a respeito de psicologia social, pra que eu entendesse o melhor jeito de conseguir o que eu queria; segundo o Reich, começou o Ângelo... e aí começou uma AULA irreproduzível aqui sobre a personalidade humana e o desejo que todos temos por sentir um pouco do “gostinho de poder”. “Quando você coloca a criança de castigo, a criança vai lá e coloca a boneca de castigo! Já percebeu?” É que, segundo Ângelo em modo-Reich, todo ser humano precisa se sentir poderoso, manifestar sua força, mesmo que seja mínima, sobre um “inferior”. Isso me lembrou de um professor de história que eu tive no colegial que, no 1o dia de aula, desenhou o famoso diagrama em que o pai dá uma cacetada na cabeça da mãe, que vai e dá um soco no filho mais velho, que vai e dá um tapa no filho mais novo, que vai e esmurra o caçula, que depois vai lá, pega o estilingue e manda pedrinha pra cima dum passarinho ou dá um pontapé no cachorro... E o cachorro, talvez, tome o pontapé e depois vá dar umas patadas sádicas em suas pulgas, e as pulgas depois dão um jeito de fazer alguma maldade contra algum microorganismo que habite no corpo delas, e o microorganismo depois vem e nos causa doenças e pestes. AN OCEAN OF VIOLENCE, pra usar um verso do Arcade Fire novo (MUITO FODA, aliás!).
Sempre achei essa “fábula” bem divertida, apesar de misantrópica demais. But the point was: o Zarcillo, se sentisse o gostinho de poder, se sentisse que estava no comando e com a razão, ficaria mais manso... então tudo que eu precisava fazer, sugeriu o Ângelo, era ficar de boa, ser todo humilde e submisso, esconder todas as minhas tendências rebeldes e tudo que eu gostaria de gritar na cara dele, e fingir que eu concordava com tudo o que ele tinha feito... e assim, me apequenando frente ele, jogar a proposta: “Sabe, professor, minha família vai ficar com muitas dificuldades financeiras pagando essas viagens para mim, e é tão perigoso ficar na estrada direto, será que o senhor não proporia para mim um trabalhinho...” Eu tinha que fazer esse joguinho psicológico, me fingir de submisso e humilde, fingir que achava que ele tem razão, e talvez assim conseguisse algo... Eu estava hesitante.
- Ah, Angêlo, não sei se eu vou conseguir... não sei se eu tenho talento pra fazer isso, pra ficar fingindo, pra joguinhos psicológicos...
- Ah não, você NÃO tem! - respondeu o mestre, convicto... - Você é muito sincero... - e disse isso não querendo dizer “uau, que legal, que bacana, você ser muito sincero...”, mas quase num tom choroso, como se, no fundo, estivesse me lamentando: “é uma pena, Eduardo, mas você é muito sincero, não vai dar muito certo nesse mundo onde vivemos... seria bem mais fácil pra você conseguir as coisas se fosse um pouquinho mais dissimulado, se fosse um ator melhorzinho...”
A conversa com o Ângelo me tranquilizou um pouco e aí, no dia seguinte, lá fui eu, preparado quase para uma batalha de guerra, para ter um conversa difícil e que eu tinha medo de que pudesse destruir minha auto-estima, já tão destroçada ultimamente. Estava pronto pra fazer carinha de cachorro chutado, só pra ver se o Zarcillo se apiedava ou se é o tipo de gente que vê a gente caído e vai lá e dá mais um chute. Acho que a tática funcionou... Ele até tentou vir pro pau, dizendo um “qual é o teu problema?” dito no tom que as pessoas usam quando estão querendo arrumar briga – foi a versão Zarcillo do “qualé teu problema, rapá, vai encarar?!” Eu fiquei de boa, falei com a minha voz doce... “Então, professor, vou ter muitas dificuldades financeiras com essas viagens...” Ele amoleceu. Mas só um pouco. Me passou meia dúzia de livros pra ler e exigiu um trabalho de pelo menos 90 folhas (“num vem com trabalhinho de dezfolhas não, pensando que vai passar fácil, viu meu?!”). Mas só de não ter que assistir essas aulas e gastar uma fortuna viajando toda terça já bateu um alívio... Bauru, agora, só mui de vez em quando, e só pra curtir! =)
[ QUASE FAMOSOS (PEQUENA CRÔNICA BOBA) ] – Nossa República estudantil, outrora conhecida como Buçalouca, depois apelidada Adhukein, e hoje meio que sem nome, andou figurando nas páginas de destaque do Jornal da Cidade, vejam só. Sem zuera. Dia desses, na capa, estava lá uma fotinha da frente da nossa casa azul e amarela na Duque de Caxias, com uns estranhos sofás na frente, bem no ponto de ônibus, quase dando a entender que Bauru é uma cidade tão maravilhosamente progressista e tão preocupada com o bem-estar material de seus cidadãos que instalou tão confortáveis assentos de espera para os nobres bauruenses, que bem merecem ser tratados como príncipes. Mas a verdade era outra. Na legenda da foto, em letras vermelhas, estava lá estampado: FALTA DE CONSIDERAÇÃO. E, na matéria, lá dentro, o leitor era informado de que “carcaças de sofá” tinham “aparecido misteriosamente” em um dos pontos de busão mais movimentados da cidade, em um estado absolutamente lamentável, tendo que ser retirados por algum órgão da Prefeitura que cuida da higiene pública (!). A matéria informava ainda que não havia pista alguma a respeito da procedência desse material nocivo ao bem-estar social, nem da identidade dos desconsiderados que tiveram a (má) ousadia de ali depositá-los. Ninguém nem desconfiou que ali, naquela casa da frente, viviam 6 meia dúzia de unespianos meio malucos que, voltando das longas férias e encontrando os móveis meio mofados e estraçalhados, resolveram unir o útil ao agradável e, ao mesmo tempo, livrar-se deles e prestar um ato de caridade aos pobres (que, coitados, sofrem de pé ali no ponto, sem nem ter algo que lhes tape o Sol...). Se alguém viesse reclamar, o porta-voz da república, o Porra, proclamaria inocência e intenções altruístas: “Pô, a gente pensou que o pessoal no ponto ia curtir!!!.” Agora a matéria do jornal vai virar quadro pra pôr na sala, perto da mesa de sinuca, celebrando o dia em que fomos quase famosos... =) (DÁ OU NÃO DÁ UMA ESQUINA DA PIAUí?)
[ FEIST e "Secret Heart" ] – Incrível como às vezes parece que por alguma magia do destino a música certa é descoberta no momento exato para fazer todo o sentido do mundo, para que cada verso soe verdadeiro, como se ela inteira falasse direto pra você, tivesse sido escrita pra você, e para ser ouvida nesse exato momento em que você a ouviu... “Secret Heart”, música do Ron Sexsmith cantava pela lindeza canadense Feist, é uma dessas musiquinhas que, descoberta a pouco, entrou direto no rol das minhas prediletas – ever. Eu já tinha o “Let It Die”, 2o disco dela, faz um tempinho, mas não tinha parado pra ouvir inteiro e não tinha chegado na faixa 08, a maior das pérolas de um disco cheio delas. Tenho uma queda irresistível por vocais femininos misturados com melancolia – uma das melhores coisas do mundo (curto todas elas: Fiona, Casey, Lisa, Regina, Aimee, Ani, Mirah, Chan, Gillian, Mazzy, Marissa, Keren... sem falar nas clássicas: Billie, Nina, Ella...) . Ainda melhor quando a garota tem uma voz acariciante e sexy – e isso a Feist tem de sobra. Uma das vozes mais sexies que eu já ouvi, mas ao mesmo tempo uma voz suave, que você pode usar para te colocar pra dormir. “Secret Heart” fala com total simplicidade sobre tudo isso que acabei de dizer lá em cima, e é daquelas músicas, e acho que essas são as que fazem a diferença e deixam de ser músicas para se tornar partes dos nossos malditos espíritos, se eles existirem, que tem uns versos que ficam na consciência quase como slogans ou mandamentos bíblicos... eu ando pelo mundo e, do nada, a música começa a tocar na minha cabeça, direto em certo verso, quase idêntica à original, como se eu estivesse com fones de ouvido (e eu até me espanto por ter uma Feist cantando dentro do meu crânio)... Isso tem acontecido muito com Los Hermanos e muito com “Secret Heart”, que entra na minha mente, várias vezes ao dia, me dizendo exatamente o que eu preciso ouvir: “Let 'em in on your secret heart...”
[ CONSUMISMO ] : Como estava ainda de férias nesse comecinho de Março, fui torrar umas economias lá na Galeria do Rock, agora com calma para fuçar bem por lá. Tava há tempos necessitado dum teninho novo (costumo achar tênis velho, esfarrapado e furado algo ultra-cool e de acordo com o Manual do Bom Punk – então só troco de par quando ele chega NO OSSO!) - e, por pura nostalgia da infância, acabei pegando um All Star preto mó estiloso. E eu não uso All Star faz uns dez anos, pelo menos... Nostalgias me deixam consumista. Tenho certeza de que se eu encontrasse por aí alguém vendendo um Master System com cartucho do Alex Kidd e do Gran Monaco GP eu iria querer comprar.
E camisetas legais por lá tem de monte, apesar do amontoado de lixo metauleiro, aquelas pretices diabólicas todas. Mas por mais que eu fuce, nunca acho das bandas que eu mais queria ter camiseta: Wilco, Sleater-Kinney, John Frusciante... Dessa vez, acabei dividido entre uma branca e vermelha do Gang Of Four e uma cinza do Fugazi; preferi a primeira (o show dos caras ano passado me fez virar mais fã do que eu já era...), mas estou com vontade de pegar também a segunda, logo logo. Puta lugar massa, a Galeria. Curto o estilo do lugar, o “vibe”, o ambiente... curto até o medo de ser assaltado e as pessoas bizarras, que são maioria (e curto ironizar comigo mesmo os emos e outras criaturas irrotuláveis). Também é sempre bom ficar olhando CDs que eu não tenho grana pra comprar... Volto de lá com uma dúzia de discos na cabeça e corro direto pro Emule e pro Soulseek...
ACHO QUE CHEGA.
(OBS: as fotinhas são screenshots de belíssimos poentes do filme "A Proposta" [The Proposition], que eu re-assisti com um amigo esses dias e que acho um dos melhores westerns de todos os tempos, mesmo tendo sido lançado ano passado. Esse filmaço acaba de ser lançado em DVD no Brasil - procurem nas melhores locadoras. O roteiro e a trilha sonora são do Nick Cave. A primeira fotinha, lá em cima, é da Feist.)
(Poxa, como escrever me deixa melhorzinho... É a minha terapia. Mas logo logo piora de volta.)
Acho que eu até gostaria de poder ser aquele tipo de pessoa que narra sua própria vida como se ela fosse uma grande aventura, como se adorasse vivê-la, com grande gosto de mostrar para os outros seus sucessos e suas façanhas... Mas, sem querer ficar contando vantagem, nunca fui pessoa de ficar contando vantagem. E se às vezes silencio tanto é por pensar e sentir que minha vida não tem nada de tão interessante, que não tenho muita experiência sobre muita coisa, que não tenho muito a contribuir com coisa alguma, enfim.... gostaria de poder falar sobre meus sucessos e pedir que me admirem, como todo mundo faz, mas deixo minha linguinha dentro da boca porque, ultimamente, só tenho a relatar as minhas melancolias, as inundações que atingem meu pobre travesseiro, esse desânimo que arrasto pelos dias, como se viver fosse o mesmo que puxar uma carroça de uma tonelada... E por que vou incomodar meus amigos com as minhas angústias e espalhar a tristeza como uma praga? Que chato seria para eles ficar ouvindo minhas histórias de loser sobre amores não correspondidos, corações partidos e carências afetivas... Prefiro me calar.
Então fico assim, fingindo que está tudo bem - e pelo jeito até sou bom ator. Ninguém nem parece desconfiar que, por trás das conversas amenas e por trás do meu silêncio, está lá um desejo imenso e inconfessado de extravasar (“this very secret that yo’re trying to conceal / is the very same one you’re dying to reveal...”); ninguém nem suspeita que, enquanto converso, fico me atormentando a perguntar ao meu coração: “mas por que tanto mistério, tanto medo, tanta proteção, tanta encanação? Por que você não se solta?” (“secret heart, why so mysterious, why so sacred, why so serious?”); ninguém vem para derrubar o meu orgulho e forçar entrada nessa minha fortaleza, quando eu sei que só estou fingindo ser durão, fingindo que consigo suportar tudo sozinho, quando é bem óbvio que não sou e não consigo (“maybe you’re just acting tough... could it be something to do with / admitting you just can’t go through it alone?”)... Ninguém nem suspeita que por trás dos meus olhos secos está uma bolsinha cheia de lágrimas, retidas a duras penas por uma membrana ultra-tênue e fácil de romper, e que eu me esforço por manter viva, para não dar “vexame”. Ainda tenho vergonha de chorar na frente dos outros, achando que isso é dar “provas de fraqueza” ou de mariquice, e ainda tenho medo de me deixar consolar, mesmo sabendo que é de consolo que eu mais ando precisando... E hoje em dia, se eu evito falar sobre mim, é por esse medo de que seria só começar que, junto com as palavras, viria a água e os soluços e a vergonha...
Desde menino devo ter aprendido, não sei ao certo com quem, a arte de sofrer em silêncio – ou de, estando a sofrer, fingir que não estou. Acho que é só por isso, por tanto me calar, que eu preciso tanto escrever, encher dúzias de páginas do diário, lotar esse blog com textos-desabafo, extravasar para o papel tudo aquilo que não acho ouvido humano disponível e aberto para receber. Acho que é por isso que ando escrevendo cartas gigantescas pra uma ou outra pessoa, amigas reais e amigas virtuais, querendo compartilhar um pouco da minha vida, minhas memórias, minhas angústias, minhas dúvidas. E sei que às vezes acabo exagerando e escrevendo, com certeza, um monte de bobagens que a pessoa não está nem um pouco interessada em ouvir e só não diz “eu não perguntei, porra!” por educação...
E não sei porque, ultimamente, ando com uma vontade imensa de pedir perdão, pra todo mundo, quem me conhece e quem não me conhece, para toda a humanidade e para o universo, e perdão não sei ao certo porquê. Perdão por ser como sou e por ter sido como fui e por aquilo que irei ser... Perdão por não conseguir ser melhor que isso. Perdão por não ter talento pra viver. Perdão por estar fracassando, apesar de estar tentando, e com muito empenho e muita dedicação... Perdão aos meus amigos por tantas vezes me fechar em mim mesmo, por não compartilhar meus segredos, por ficar preso no meu mundinho, quando é óbvio – e só agora isso pra mim é claro, completamente claro... – que essa vida só tem um sentido, se tiver, se vivida em conjunto, com as coisas todas fluindo entre as criaturas. Senão não passamos de túmulos, cada cadáver em sua tumba, sem comunicação... “Let ‘em in on your secret heart!...” O amor e a amizade, as duas únicas coisas capazes de fazer essa vida desgraçada valer a pena... E queria pedir perdão por, muitas vezes, não saber fazer nenhuma das duas coisas direito...
Acho que tô meio deprê. Mas passa. É só um eu-bolha-de-sabão... Alguém aí tem um palito de dente ou alfinete pra me estourar? Porque, sinceramente, EU NÃO TÔ ME AGUENTANDO! =)
Mas falemos sobre coisas mais amenas!!! Chega de nhém-nhém-nhém... agora vai um QUERIDO DIÁRIO mais sobre o cotidiano mesmo...
[ FIM APARENTE DA SAGA LÚCIO VS. ZARCILLO ] : Visitei Bauru rapidão semana passada, um bate-e-volta frenético, e as coisas foram resolvidas de modo até bem suave por lá. Me safei – um grande UFA! caindo sobre a minha vida... - de ter que frequentar as aulas por todo o semestre. O preço a pagar: uma monografia dumas 100 páginas que terei que fazer e entregar em junho. Será que agora pego o canudo, finalmente?
Eu estava morrendo de medo de encarar o Zarcillão, pra falar a verdade; ando num estado de espírito não muito confiável, e não sabia o que ia acontecer se, mais uma vez, eu fosse tratado como lixo por ele: se cairia em prantos, se explodiria em xingamentos, se abaixaria a cabeça e deixaria ele judiar o quanto quisesse. Tanto medo eu tinha que antes fui a uma espécie de consulta com o Ângelo, que continua gente fina pra caramba, e conversamos uns bons 45 minutos sobre as melhores técnicas de abordagem e de persuasão. Foi um papo divertido. Gostei de sentir o Ângelo do meu lado, garantindo que “todo mundo sabia que o Zarcillo tem problema de audição” (“a gente chama ele quando ele passa no corredor e ele vai embora, meu, passa reto!”), que era um velho muito vaidoso (“ele vai na academia todo dia, sabia? Ele tá melhor que a gente no corpo... mas não admite que não ouve!”), que o problema dele não era bem comigo, mas com todos os alunos que ficam chamando ele de “senil” (e ele queria o quê, ser chamado de “garotão”?)
Aí rolou até uma mui instrutiva mini-palestra angeliana a respeito de psicologia social, pra que eu entendesse o melhor jeito de conseguir o que eu queria; segundo o Reich, começou o Ângelo... e aí começou uma AULA irreproduzível aqui sobre a personalidade humana e o desejo que todos temos por sentir um pouco do “gostinho de poder”. “Quando você coloca a criança de castigo, a criança vai lá e coloca a boneca de castigo! Já percebeu?” É que, segundo Ângelo em modo-Reich, todo ser humano precisa se sentir poderoso, manifestar sua força, mesmo que seja mínima, sobre um “inferior”. Isso me lembrou de um professor de história que eu tive no colegial que, no 1o dia de aula, desenhou o famoso diagrama em que o pai dá uma cacetada na cabeça da mãe, que vai e dá um soco no filho mais velho, que vai e dá um tapa no filho mais novo, que vai e esmurra o caçula, que depois vai lá, pega o estilingue e manda pedrinha pra cima dum passarinho ou dá um pontapé no cachorro... E o cachorro, talvez, tome o pontapé e depois vá dar umas patadas sádicas em suas pulgas, e as pulgas depois dão um jeito de fazer alguma maldade contra algum microorganismo que habite no corpo delas, e o microorganismo depois vem e nos causa doenças e pestes. AN OCEAN OF VIOLENCE, pra usar um verso do Arcade Fire novo (MUITO FODA, aliás!).
Sempre achei essa “fábula” bem divertida, apesar de misantrópica demais. But the point was: o Zarcillo, se sentisse o gostinho de poder, se sentisse que estava no comando e com a razão, ficaria mais manso... então tudo que eu precisava fazer, sugeriu o Ângelo, era ficar de boa, ser todo humilde e submisso, esconder todas as minhas tendências rebeldes e tudo que eu gostaria de gritar na cara dele, e fingir que eu concordava com tudo o que ele tinha feito... e assim, me apequenando frente ele, jogar a proposta: “Sabe, professor, minha família vai ficar com muitas dificuldades financeiras pagando essas viagens para mim, e é tão perigoso ficar na estrada direto, será que o senhor não proporia para mim um trabalhinho...” Eu tinha que fazer esse joguinho psicológico, me fingir de submisso e humilde, fingir que achava que ele tem razão, e talvez assim conseguisse algo... Eu estava hesitante.
- Ah, Angêlo, não sei se eu vou conseguir... não sei se eu tenho talento pra fazer isso, pra ficar fingindo, pra joguinhos psicológicos...
- Ah não, você NÃO tem! - respondeu o mestre, convicto... - Você é muito sincero... - e disse isso não querendo dizer “uau, que legal, que bacana, você ser muito sincero...”, mas quase num tom choroso, como se, no fundo, estivesse me lamentando: “é uma pena, Eduardo, mas você é muito sincero, não vai dar muito certo nesse mundo onde vivemos... seria bem mais fácil pra você conseguir as coisas se fosse um pouquinho mais dissimulado, se fosse um ator melhorzinho...”
A conversa com o Ângelo me tranquilizou um pouco e aí, no dia seguinte, lá fui eu, preparado quase para uma batalha de guerra, para ter um conversa difícil e que eu tinha medo de que pudesse destruir minha auto-estima, já tão destroçada ultimamente. Estava pronto pra fazer carinha de cachorro chutado, só pra ver se o Zarcillo se apiedava ou se é o tipo de gente que vê a gente caído e vai lá e dá mais um chute. Acho que a tática funcionou... Ele até tentou vir pro pau, dizendo um “qual é o teu problema?” dito no tom que as pessoas usam quando estão querendo arrumar briga – foi a versão Zarcillo do “qualé teu problema, rapá, vai encarar?!” Eu fiquei de boa, falei com a minha voz doce... “Então, professor, vou ter muitas dificuldades financeiras com essas viagens...” Ele amoleceu. Mas só um pouco. Me passou meia dúzia de livros pra ler e exigiu um trabalho de pelo menos 90 folhas (“num vem com trabalhinho de dezfolhas não, pensando que vai passar fácil, viu meu?!”). Mas só de não ter que assistir essas aulas e gastar uma fortuna viajando toda terça já bateu um alívio... Bauru, agora, só mui de vez em quando, e só pra curtir! =)
[ QUASE FAMOSOS (PEQUENA CRÔNICA BOBA) ] – Nossa República estudantil, outrora conhecida como Buçalouca, depois apelidada Adhukein, e hoje meio que sem nome, andou figurando nas páginas de destaque do Jornal da Cidade, vejam só. Sem zuera. Dia desses, na capa, estava lá uma fotinha da frente da nossa casa azul e amarela na Duque de Caxias, com uns estranhos sofás na frente, bem no ponto de ônibus, quase dando a entender que Bauru é uma cidade tão maravilhosamente progressista e tão preocupada com o bem-estar material de seus cidadãos que instalou tão confortáveis assentos de espera para os nobres bauruenses, que bem merecem ser tratados como príncipes. Mas a verdade era outra. Na legenda da foto, em letras vermelhas, estava lá estampado: FALTA DE CONSIDERAÇÃO. E, na matéria, lá dentro, o leitor era informado de que “carcaças de sofá” tinham “aparecido misteriosamente” em um dos pontos de busão mais movimentados da cidade, em um estado absolutamente lamentável, tendo que ser retirados por algum órgão da Prefeitura que cuida da higiene pública (!). A matéria informava ainda que não havia pista alguma a respeito da procedência desse material nocivo ao bem-estar social, nem da identidade dos desconsiderados que tiveram a (má) ousadia de ali depositá-los. Ninguém nem desconfiou que ali, naquela casa da frente, viviam 6 meia dúzia de unespianos meio malucos que, voltando das longas férias e encontrando os móveis meio mofados e estraçalhados, resolveram unir o útil ao agradável e, ao mesmo tempo, livrar-se deles e prestar um ato de caridade aos pobres (que, coitados, sofrem de pé ali no ponto, sem nem ter algo que lhes tape o Sol...). Se alguém viesse reclamar, o porta-voz da república, o Porra, proclamaria inocência e intenções altruístas: “Pô, a gente pensou que o pessoal no ponto ia curtir!!!.” Agora a matéria do jornal vai virar quadro pra pôr na sala, perto da mesa de sinuca, celebrando o dia em que fomos quase famosos... =) (DÁ OU NÃO DÁ UMA ESQUINA DA PIAUí?)
[ FEIST e "Secret Heart" ] – Incrível como às vezes parece que por alguma magia do destino a música certa é descoberta no momento exato para fazer todo o sentido do mundo, para que cada verso soe verdadeiro, como se ela inteira falasse direto pra você, tivesse sido escrita pra você, e para ser ouvida nesse exato momento em que você a ouviu... “Secret Heart”, música do Ron Sexsmith cantava pela lindeza canadense Feist, é uma dessas musiquinhas que, descoberta a pouco, entrou direto no rol das minhas prediletas – ever. Eu já tinha o “Let It Die”, 2o disco dela, faz um tempinho, mas não tinha parado pra ouvir inteiro e não tinha chegado na faixa 08, a maior das pérolas de um disco cheio delas. Tenho uma queda irresistível por vocais femininos misturados com melancolia – uma das melhores coisas do mundo (curto todas elas: Fiona, Casey, Lisa, Regina, Aimee, Ani, Mirah, Chan, Gillian, Mazzy, Marissa, Keren... sem falar nas clássicas: Billie, Nina, Ella...) . Ainda melhor quando a garota tem uma voz acariciante e sexy – e isso a Feist tem de sobra. Uma das vozes mais sexies que eu já ouvi, mas ao mesmo tempo uma voz suave, que você pode usar para te colocar pra dormir. “Secret Heart” fala com total simplicidade sobre tudo isso que acabei de dizer lá em cima, e é daquelas músicas, e acho que essas são as que fazem a diferença e deixam de ser músicas para se tornar partes dos nossos malditos espíritos, se eles existirem, que tem uns versos que ficam na consciência quase como slogans ou mandamentos bíblicos... eu ando pelo mundo e, do nada, a música começa a tocar na minha cabeça, direto em certo verso, quase idêntica à original, como se eu estivesse com fones de ouvido (e eu até me espanto por ter uma Feist cantando dentro do meu crânio)... Isso tem acontecido muito com Los Hermanos e muito com “Secret Heart”, que entra na minha mente, várias vezes ao dia, me dizendo exatamente o que eu preciso ouvir: “Let 'em in on your secret heart...”
[ CONSUMISMO ] : Como estava ainda de férias nesse comecinho de Março, fui torrar umas economias lá na Galeria do Rock, agora com calma para fuçar bem por lá. Tava há tempos necessitado dum teninho novo (costumo achar tênis velho, esfarrapado e furado algo ultra-cool e de acordo com o Manual do Bom Punk – então só troco de par quando ele chega NO OSSO!) - e, por pura nostalgia da infância, acabei pegando um All Star preto mó estiloso. E eu não uso All Star faz uns dez anos, pelo menos... Nostalgias me deixam consumista. Tenho certeza de que se eu encontrasse por aí alguém vendendo um Master System com cartucho do Alex Kidd e do Gran Monaco GP eu iria querer comprar.
E camisetas legais por lá tem de monte, apesar do amontoado de lixo metauleiro, aquelas pretices diabólicas todas. Mas por mais que eu fuce, nunca acho das bandas que eu mais queria ter camiseta: Wilco, Sleater-Kinney, John Frusciante... Dessa vez, acabei dividido entre uma branca e vermelha do Gang Of Four e uma cinza do Fugazi; preferi a primeira (o show dos caras ano passado me fez virar mais fã do que eu já era...), mas estou com vontade de pegar também a segunda, logo logo. Puta lugar massa, a Galeria. Curto o estilo do lugar, o “vibe”, o ambiente... curto até o medo de ser assaltado e as pessoas bizarras, que são maioria (e curto ironizar comigo mesmo os emos e outras criaturas irrotuláveis). Também é sempre bom ficar olhando CDs que eu não tenho grana pra comprar... Volto de lá com uma dúzia de discos na cabeça e corro direto pro Emule e pro Soulseek...
ACHO QUE CHEGA.
(OBS: as fotinhas são screenshots de belíssimos poentes do filme "A Proposta" [The Proposition], que eu re-assisti com um amigo esses dias e que acho um dos melhores westerns de todos os tempos, mesmo tendo sido lançado ano passado. Esse filmaço acaba de ser lançado em DVD no Brasil - procurem nas melhores locadoras. O roteiro e a trilha sonora são do Nick Cave. A primeira fotinha, lá em cima, é da Feist.)
(Poxa, como escrever me deixa melhorzinho... É a minha terapia. Mas logo logo piora de volta.)
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