quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

-- MEUS 10 DISCOS DE 2005 --

#3


DEVIN DAVIS
Lonely People Of The World, Unite!


Devin Davis gravou este seu primeiro disco praticamente sozinho em seu estúdio caseiro, onde trabalhou por quase dois anos polindo e aperfeiçoando o que viria a se tornar uma obra-prima do power-pop contemporâneo. É incrível que um cara que... 1) tocou guitarra, violão, bateria e baixo; 2) fez os vocais principais e os de apoio; 3) escreveu todas as letras e melodias; 4) produziu e mixou o álbum... não tenha se perdido no meio de tantas tarefas acumuladas. Dá até pra xingar: "que sujeitinho mais individualista! Deve ter algum defeito de caráter, alguma fobia social, que o impede de conviver com uma banda..." Mas o resultado desse esforço pessoal nos faz questionar se é verdade que 4 ou 5 cabeças pensam mesmo melhor do que uma só. Nenhum disco de Rock nesse ano me empolgou mais do que essa pérola saída da mente de um garoto obscuro e nerdão de Chicago que traz em si o talento de uma banda inteira. Apesar da solidão que caracterizou o processo de composição e gravação, e que está explícita no título e em várias letras do álbum, não é esse o sentimento que domina o ouvinte de Lonely People Of The World, Unite!: eis um disco extremamente jovial, cheio de entusiasmo e juventude, que está muito mais provido de bom-humor e ânimo do que de melancolia. Esse é daqueles álbuns que são propositalmente curtos e concisos (35 minutos no total) para que não haja nenhuma possibilidade do ouvinte se entediar. Como no Pinkerton do Weezer ou no In Reverie do Saves The Day, dois discos que eu adoro, aqui dá pra curtir todas as músicas, de cabo a rabo, sem um único bocejo ou momento de aborrecimento. As próprias influências onde ele foi se alimentar parecem ser as bandas de rock cru e direto dos anos 60 e 70 que iam sempre direto ao essencial - os Kinks, os Beatles, os Sonics, o Big Star, os Zombies, um pouco de "punk alegre" (tipo um Undertones e Buzzcocks). Pra mim, o cara acaba soando mesmo como um Richard Hell com phD em rock sessentista. Devin Davis compõe o que os gringos chamam de "catchy songs": power pops melodiosos e dinâmicos, que ora caem mais por território do hard rock ("Moon Over Shark City"), ora mais pro indie. E as letras, extremamente espertas e divertidas, resvalando direto pro bizarro e pro nonsense, lembram um pouco Elvis Costello no passado, Rivers Cuomo na fase áurea ou Richard Hell no começo. Nerdismo genial de primeira. Tipo ISSO (da deliciosa "Paratrooper With Amnesia"):

"My legs are like two lamp-posts in an earthquake
Whenever i get within a few feet from you
And I'm a paratrooper with amnesia
Falling like an anchor through the sky..."


Trimmassa é a palavra.

Esses 35 minutos de música são o bastante para colocar Devin Davis direto na companhia dos maiores compositores de power pop que conhecemos nas últimas décadas (Alex Chilton, Chris Bell, Norman Blake, Mathew Sweet, Brendan Benson...). Assino embaixo do veredito da AMG: "There are few guitar pop records of the last 20 years that are as exciting, well-constructed, and memorable as this."