# 5
WHITE STRIPES
Get Behind Me, Satan
Foi um baita dum susto o que eu levei quando ouvi o Get Behind Me, Satan pela primeira vez, até porque estava esperando que depois do Elephant os White Stripes fossem se tornar mais “comerciais” e “radiáveis”. Aquela guitarra saturada de efeitos deixou “Blue Orchid” com uma cara meio “glam industrial” (?), o que me assustou: o som do instrumento de Jack White sempre teve um som mais vintage, mais tradicionalista, e essa modernização deixou o som muito “artificial” – e foi algo que eu não curti, a princípio. “The Nurse”, a segunda música, era de longe a coisa mais esquisita que os Stripes já haviam gravado: uma balada bizarra levada toda no xilofone (!), no chocalho (!!) e numa louca estouração de pratos (!!!). Fontes seguras me garantiram que Meggie White, nessa música, espanca a prataria de sua batera naquele esquema tão sem-noção porque viu uma video-aula clandestina chamada DADAISTIC TECNIQUE FOR DRUM PLAYING. Depois seguia “My Doorbell”, quase um country-rock à la Hank Williams, música que não tinha absolutamente nada a ver com as duas anteriores... Parecia que os White Stripes tinham se esquecido completamente o que significa “homogeneidade musical” e estavam atirando pra tudo quanto é lado: hard rock glam, “dada-xilofone-ballad”, country-folk, modern-blues... Fiquei com medo de que o disco fosse uma merda. Aos poucos, ouvindo o resto do disco, e curtindo a maioria das canções do miolo e do final, a surpresa foi cedendo lugar à familiaridade e eu fui devargarzinho começando a sacar. E aí “bateu”. E foi EUREKA: Mas isso tudo é genial!
O quinto álbum dos Stripes é de longe o mais experimental da carreira deles e o que mais se distancia da fórmula consagrada - guitarra distorcida e bateria. Só três canções são efetivamente levadas pelas distorsões das seis cordas ("Blue Orchid", "Instinct Blues" e "Red Rain"); as restantes são conduzidas no piano, no violão ou no xilofone, inserindo uma variedade de sonoridades bem maior do que nos discos anteriores. Jack White, com sua voz de Robert Plant indie e “crianção” (no bom sentido), tá cantando como nunca e escrevendo suas sempre simpáticas letras de nerd-romântico-sincero, e se firma como um dos caras mais interessantes do rock atual. Não que eles estejam realmente tentando ser iguais a outras bandas de hoje: o White Stripes, de certo modo, sempre esteve com o rosto voltado mais para o passado do que para o presente. Afundado no mundo da música americana de raiz, Jack White tirou inspiração muito mais de anciões da história do blues, do folk e do rock and roll (como Robert Johnson, Son House, os Blind Willies, Muddy Waters, Hank Williams, Led Zeppelin...) do que qualquer de seus contemporâneos. O primeiro disco já deixava claro que o negócio dos Stripes sempre foi uma espécie de garage-blues minimalista que presta tributo à música feita uns 50 anos atrás. Get Behind Me, Satan é um disco para consolidar de vez os White Stripes como um dos grupos que, reprocessando toneladas de música tradicional americana, acaba por se tornar uma das mais peculiares, pessoais e originais bandas da atualidade.
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