quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

-- MEUS 10 DISCOS DE 2005 --

# 8


THE WALLFLOWERS
Rebel, Sweetheart


Apesar da carreira longa, sólida e coerente, que já ultrapassa uma década de duração, os Wallflowers ainda são reconhecidos pelo público em geral somente por duas coisas: "One Headlight", o mega-hit que catapultou o segundo álbum dos caras (Bringing Down The Horse, de 1996) para o topo das paradas americanas, e o fato de que o vocalista Jakob Dylan é filho de um mito de primeira grandeza. Jakob parece não ter herdado de Papai Bob o vocal anasalado de Pato Donald - sua voz soa mais próxima daquela dum Bruce Springsteen ou dum Eddie Vedder. Suas letras, porém, são bem acima da média, como se o gene da poesia tivesse se transmitido por hereditariedade – e, como o pai, ele gosta de brincar com referências bíblicas (por exemplo nos versos "when Adam took the apple i was not involved / i'm not responsible for how lost we are", na ótima “The Passenger”). A música que os Wallflowers fazem também não contêm muitos dylanismos explícitos: é um rock clássicão, meio anos 70, que parece beber na fonte sagrada do folk-rock dazantiga; um tanto de Neil Young & Crazy Horse, um tanto de Tom Petty & The Heartbreakers, e um monte de Springsteen da fase áurea. Rebel, Sweetheart, talvez o mais coeso e vigoroso dos álbuns da banda, alterna baladonas folk que parecem saídas do Nebraska do Bruce ("From The Bottom Of My Heart" e "God Says Nothing Back") e alguns rockões setentistas, mantendo o nível alto em tempo integral e conseguindo empolgar constantemente. Originalidade não é o forte da banda, com certeza: os Wallflowers só reciclam um formato - o rock tradicional americano - já estabelecido décadas atrás. Mas num tem como reclamar da falta de ousadia frente a um disco que desce tão redondo e que é composto e tocado com tanta competência e perfeccionismo. Os Wallflowers são uma banda que não tem nada de espalhafatosa ou espetacular, o que talvez seja a causa para a falta de sucesso popular dos últimos álbuns - eles agora parecem restituídos ao mundo "alternativo". Não importa: eles nunca soaram melhor e nunca estiveram tão maduros e confiantes. Rebel, Sweetheart, melhor disco de rock clássico do ano, é o tipo de coisa que bandas veteranas como o Pearl Jam, o R.E.M. ou o U2 deveriam estar lançando hoje em dia se não tivessem parado de lançar discões perfeitos no passado já um tanto distante.