sexta-feira, 13 de abril de 2007

:: "...ninar o meu sangue revolto..."


Ando meio sem pique pra escrever por aqui - estou gastando muitas das minhas energias mandando cartas quilométricas, e para muitas pessoas, e descobrindo que até curto mais ficar em confidências privadas do que públicas... ;) Além disso, tô muito ocupado vivendo minha vida cigana pra ter tempo pra escrever coisas maiores para cá - logo logo a coisa acalma e eu volto de verdade com meus blocões assassinos de texto...

A última novidade é que tô subindo como um foguete nas hierarquias da Cicerolândia, a minha mais nova república: já pulei duma edícula semi-tosca no quintal pr'um dos melhores quartos da casa, lá em cima do sobrado amarelo, com banheirinho firmeza do lado. E - pasmem! - agora vivo COMPLETAMENTE RODEADO DE MULHERES (ú-rú!). Sim, me jogaram na Ala Feminina da casa, talvez por acharem que, por ter "alma sensível e meiga" (sai pra lá, ô...) e estudar filosofia, eu "não ofereço perigo"... =) E eu, ao invés de reclamar e me sentir ofendido por estarem me tratando como se eu fosse mariquinha, até agradeci... Eu lá quero morar ao lado de homem e ficar ouvindo peidos e roncos na madrugada? Mulher é melhor que homem em todos os aspectos. Eu sempre fui feminista convicto.

Enquanto não acho muita coisa de bom pra dizer por cá, vou postando aqui trechos dos meus livros prediletos, só pra não deixar o blog desatualizado - e assim deixo vocês na companhia, muito mais agradável e útil do que a minha, dos Grandes Mestres... Hoje, vão aí uns trechinhos que eu adoro de um dos livros mais queridos da minha adolescência (e de depois também...):

“Um coração juvenil pende inteira e unicamente de uma moça, passa a seu lado todas as horas do dia, oferece-lhe todas as suas forças, tudo o que possui para lhe deixar claro a todo instante que se entregou a ela por inteiro. E eis que vem um filisteu, um homem de boa posição, com cargo público, e lhe diz: ‘Meu bom rapaz! Isso de amar é próprio do homem; porém tendes de amar como homem! Dividi bem o vosso tempo, dedicando parte dele ao trabalho, e as horas de folga à vossa namorada. Calculai vossa fortuna e, com o que sobrar depois de atendidas vossas necessidades, não vos proíbo de dar a ela de vez em quando, mas não com muita frequência – talvez no aniversário e no dia do seu santo -, um presentinho...’ Se o nosso rapaz seguir esses conselhos, se tornará uma pessoa bastante útil, e eu até mesmo o recomendaria a qualquer príncipe, a fim de lhe dar um emprego em sua chancelaria; mas quanto ao amor, adeus... E se for artista, adeus talento. Ó meus amigos! Por que é que a torrente do gênio transborda tão poucas vezes e tão poucas vezes chega a ferver, em encrespadas ondas, sacudindo vossas almas letárgicas? Queridos amigos... É que além, nas duas margens, habitam homens graves e ponderados, cujas casinhas ajardinadas, prateleiras de tulipas e campos de hortaliças seriam levados pela torrente se os mesmo não houvessem sabido defender suas propriedades do perigo iminente a tempo, construindo diques e desvios...”

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“Quantas vezes tenho de ninar o meu sangue revolto até acalmá-lo... Tu sabes que não existe no mundo nada tão instável, tão inquieto quanto o meu coração. Se é que tenho necessidade de dizê-lo a quem tantas vezes carregou o fardo de me ver passar da aflição à digressão, da doce melancolia à paixão furiosa, meu caro! É por isso que trato meu coraçãozinho como uma criança doente, satisfazendo-lhe todas as vontades.”

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“Ah, o que eu sei, toda a gente o pode saber! Mas o meu coração só a mim pertence...”

(GOETHE, Os Sofrimentos Do Jovem Werther)